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Com 32 semanas de gravidez, a muçulmana Fauzia Ashraf, 32, que mora na Inglaterra, estava ansiosa para completar sua família com o marido Mohsin Ahmed. O casal, que já tinha Aqib, 7 anos, e Saqib, então com 4 anos, estava prestes a dar as boas-vindas ao terceiro filho, Atif, agora com 8 meses, quando recebeu uma notícia desvatadora. Saqib foi diagnosticado com câncer cerebral, e seu tumor foi tão devastador que o menino morreu 10 semanas após o primeiro sintoma e duas semanas depois de completar 5 anos. A mãe havia dado à luz apenas treze dias antes.

Saqib conhecendo seu irmão caçula, poucos dias antes de morrer de câncer (Foto: Reprodução/Mirror)

Saqib conhecendo seu irmão caçula, poucos dias antes de morrer de câncer (Foto: Reprodução/Mirror)

Apenas 10 semanas. Esse foi o tempo entre o primeiro sintoma e a morte do "menino doce e gentil", como define a família. Saqib foi diagnosticado com um tumor cerebral raro e, infelizmente, morreu no dia 4 de outubro de 2021. A mãe, Fauzia, disse que ficou aterrorizada quando entrou em trabalho de parto sabendo que Saqib estava morrendo em outro hospital, sem ela estar lá. "Quando dei à luz meu bebê, meu maior medo era ter que deixar meu filho de 5 anos na enfermaria de câncer infantil e ele morrer sem sua mãe ao seu lado", disse  ela, que atua como professora de história na Grande Manchester, Inglaterra.

"Eu não estava naquela sala presente para a nova vida que estava trazendo ao mundo. Em vez de estar animada para conhecer meu bebê, tudo o que podia lembrar era do lindo rosto de Saqib, e rezava para que ele não morresse enquanto eu estava em trabalho de parto. A cada contração, eu rezava para que Saqib vivesse para ver seu irmão e sua dor fosse aliviada", conta, em um depoimento comovente.

Agora Fauzia disse que está compartilhando a história de seu filho através do The Brain Tumor Charity para ajudar a aumentar a conscientização sobre os tumores cerebrais – o que mais mata crianças e adultos com menos de 40 anos no Reino Unido. Ela está apoiando a campanha HeadSmart da The Charity, que destaca sintomas comuns de tumores cerebrais em crianças e visa reduzir os tempos médios de diagnóstico, apoiando os pais, o público e os profissionais de saúde a reconhecer os sinais. “Somos motivados a compartilhar a história de Saqib porque a dor de perder um filho é antinatural e insuportável”, disse Fauzia. "Ele iluminou nossas vidas e iluminou o dia de todos com seu sorriso radiante", disse ela. "Sua natureza doce tocou a vida de todos que o conheceram", completou.

Saqib morreu poucos dias após completar 5 anos (Foto: Reprodução/Mirror)

Saqib morreu poucos dias após completar 5 anos (Foto: Reprodução/Mirror)

A história de Saqib

O pesadelo da família começou nas férias escolares de verão do ano passado. "No último dia de Saqib na creche, os professores, que ele adorava, acenaram e disseram: 'Vejo você em setembro'. Poucos dias depois, Saqib começou a ter dores de cabeça. Começavam como rajadas esporádicas de cinco minutos a cada dois ou três dias ou noites — era aleatório. Agora eu sei que, quando ele me dizia: 'Mamãe, minha cabeça está doendo', ele não tinha o vocabulário para dizer: 'Mamãe, estou morrendo'”, lamentou.

Uma semana depois do início das dores de cabeça, Saqib começou a perder o equilíbrio e, alguns dias depois, de repente, ficou com medo de usar as escadas. Em vez de pular em sua fantasia de Homem-Aranha, ele se arrastava de bunda. “As mudanças aconteceram tão rapidamente e, nesse tempo, fiz seis contatos com os médicos”, disse Fauzia. "Devido ao Covid, foi difícil conseguir uma consulta presencial e, mesmo quando consegui ver um médico pessoalmente, ela apenas me disse para não me preocupar, pois as crianças 'não sabiam o que eram dores de cabeça'. Eu me senti enganada e ignorada. Eles me fizeram sentir como a 'mãe louca', que estava preocupada sem motivo", desabafa. 

Fauzia levou Saqib a um oftalmologista. Ele disse que o menino era míope e precisava de óculos, mas o instinto disse a Fauzia que não era o caso. “Estando grávida, eu estava hesitante em ir ao hospital na pandemia, mas, no fundo, eu estava implorando por ajuda. Eu sabia que meu filho não tinha vírus, cera de ouvido ou precisava de óculos — todos os meus instintos me diziam que algo estava muito errado", continou. Em 13 de agosto de 2021, Fauzia estava desesperada por ajuda quando fez contato pela sexta vez com um clínico geral em três semanas. "Sempre fui respeitosa e composta, mas desta vez me recusei a ir para casa at�� que ele nos ajudasse. Eu disse a ele: 'Estou grávida de 35 semanas e não consigo lidar com isso'", lembra. O médico então ligou para o Royal Oldham Hospital e contou o histórico de Saqib. "Os pediatras disseram que queriam nos ver com urgência", lembra a mãe. "Saqib fez uma tomografia computadorizada e várias horas depois, três médicos e uma enfermeira foram até a cama e disseram: 'Sinto muito, é uma má notícia. A tomografia mostra um tumor cancerígeno no cérebro do seu filho'. Eu não conseguia entender. Saqib estava cantando e pulando na cama. Como ele pode ter câncer no cérebro? Deve ter sido um erro. Eu olhei de rosto em rosto e eles pareciam tão tristes e arrependidos. Naquele instante, eu desabei e tive que ser ajudada a sair do quarto. Então, consegui ligar para meu marido e meu pai", lembra.

Naquele dia, Fauzia não sabia, mas Saqib não voltaria mais para casa. Na noite seguinte, eles foram transferidos para o Royal Manchester Children's Hospital, onde os pais acompanharam o filho por sete semanas. Saqib fez uma ressonância magnética mais detalhada e obteve os resultados no dia seguinte. "Rezei para que os médicos pudessem ajudá-lo", disse Fauzia. "Enquanto estávamos sentados ouvindo o oncologista, ele foi tão gentil e solidário, mas eu podia sentir que ele estava se preparando para nos dar más notícias. "Ele disse que o tumor de Saqib era um Glioma Pontino Intrínseco Difuso, que era inoperável e incurável. Nenhuma criança no mundo jamais sobreviveu a ele. Em choque, lembro-me de perguntar se ele poderia começar a escola em setembro, pois eu já havia comprado o uniforme dele. Ele viveria até as 5? Era seu aniversário no mês seguinte. Perguntei se ele tinha certeza de que era câncer. Ele disse que poderia haver uma opção de radioterapia para dar a Saqib semanas extras de vida, mas dependia de sua saúde. Eu não podia acreditar que não havia esperança para o nosso menino e que ele recebeu uma sentença de morte", disse a mãe.

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Naquele dia, o tumor de Saqib teve um sangramento maciço, deixando-o paralisado e incapaz de falar. "Ele ficou confuso e acenou com a cabeça e apontou para coisas para se comunicar conosco. Em questão de dias, eu já tinha começado a perdê-lo e não consigo me lembrar quais foram as últimas palavras dele para mim", lamentou. Fauzia lutou para dizer a Aqib que seu irmãozinho estava morrendo. "Dissemos a ele que Saqib tinha câncer e estava muito mal. Mas não consegui dizer a ele que o irmão iria morrer, não suportaria dizer em voz alta. Quando ele me perguntou se Saqib iria para a escola em setembro, eu disse a ele: 'Os médicos não acham que ele vai viver tanto tempo'”, afirmou.

Saqib estava muito doente para fazer radioterapia e foi colocado em cuidados paliativos. "O diagnóstico precoce não teria salvado a vida de Saqib, mas ele poderia estar bem o suficiente para fazer radioterapia e ter um tempo extra precioso conosco e com seu irmãozinho", disse Fauzia. “Um filho estava morrendo, um filho ainda não havia nascido e nosso outro filho estava com meus pais. Nossa vida estava irreconhecível", lembra.

"Nós prometemos que ele sempre teria mamãe ou papai com ele, nosso último ato de amor pelo nosso lindo menino", disse ela. No quinto aniversário de Saqib, em 19 de setembro de 2021, a família teve uma celebração ao redor de sua cama. "Saqib não pode brincar ou comer seu bolo, mas nós quatro só queríamos ficar juntos", disse Fauzia. Em 21 de setembro, ela teve o parto induzido e deu à luz Atif. "Eu estava atrasada, mas me recusei a ser induzido antes do aniversário de Saqib, não podia perder o último", disse. Fauzia e Mohsin, 32, tiveram permissão especial para levar seu filho recém-nascido até a ala de câncer infantil para conhecer Saqib. "Deveríamos estar em casa, não em uma ala de câncer, mas ainda era especial ter todos os nossos meninos juntos naquela noite", disse ela. "Eu podia ver o quão feliz Saqib estava, pois ele sempre quis ser um irmão mais velho. Ele costumava cantar na minha barriga antes de suas dores de cabeça começarem", conta.

A família comemorou o aniversário de Saqib no hospital (Foto: Reprodução/Mirror)

A família comemorou o aniversário de Saqib no hospital (Foto: Reprodução/Mirror)

Apenas 13 dias após o nascimento de seu irmãozinho, a condição de Saqib se deteriorou e ele morreu em 4 de outubro de 2021. “Meu pequeno amor deixou este mundo com sua mamãe e papai ao seu lado, como havíamos prometido. Ele parou de respirar e sentimos seu coração parar de bater. Nós deitamos com ele por algumas horas e eu absorvi cada detalhe de seu lindo rosto com imagens girando em minha mente de como ele costumava rir e brincar e adorava me abraçar e me beijar. Eu simplesmente não conseguia soltar suas mãozinhas", lamentou.

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Quase oito meses depois, Fauzia disse que ainda está lutando para se ajustar a uma vida sem Saqib. "Ainda estou em choque porque em duas semanas dei à luz um filho e perdi outro. Luto para reconhecer o mundo e quem sou agora – não sei como devo me sentir. Eu nunca verei Saqib começar a escola, seu primeiro emprego ou se casar. Eu não vou vê-lo crescer, e ele terá cinco anos para sempre. Nenhum pai quer ficar sem seu filho, mas ter meus outros dois meninos é o que me tira da cama de manhã", completou. A mãe de luto dusse que agora é “motivada” a aumentar a conscientização para ajudar a salvar outras famílias de sua mágoa: "Se eu puder ajudar a salvar um dos pais da dor de perder um filho, vale a pena".

O pai na foto com seus três filhos juntos (Foto: Reprodução/Mirror)

O pai na foto com seus três filhos juntos (Foto: Reprodução/Mirror)