• Maria Beatriz Gonçalves
Atualizado em
grávida; gravidez; (Foto: Tetra Images / Getty Images)

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Antes mesmo de engravidar, sua mãe, avó ou alguma amiga certamente colocou você de sobreaviso sobre o que esperar durante os nove meses de gestação. Tontura, inchaçocâimbras, dor nas costas, azia, enjoo e sonolência compõem a extensa lista de sintomas  clássicos dessa fase. Mas quando a cegonha entra em ação, sensações inesperadas podem  despontar, como tosse, visão embaçada e coceira – e é bem possível que até mesmo o seu  médico se esqueça de mencioná-las, pois todo mundo foca no que é estatisticamente mais  provável de acontecer. Só que, quando essas particularidades surgem, geralmente deixam a mulher apreensiva sobre a gravidade da situação – pelo menos, até se deparar com  reclamações idênticas de outras dezenas de gestantes, em fóruns de discussão na internet.

Apesar de inusitadas, muitas queixas não trazem prejuízos à mãe e ao bebê. Algumas, porém, merecem atenção, já que podem indicar complicações. “É preciso distinguir os sintomas fisiológicos, que são naturais e não se relacionam a doenças, dos patológicos”, orienta o  obstetra Eduardo Zlotnik, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). E só quem tem capacidade  para tal é o médico, que também poderá ensinar formas seguras e efetivas de aliviar qualquer  mal-estar.

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Conheça algumas das manifestações incomuns que podem ocorrer durante a gestação e saiba quando se preocupar com elas.

A ORIGEM DE TUDO

As mesmas transformações por trás dos sintomas frequentes podem justificar os mais  malucos. A partir da concepção, uma estrutura denominada trofoblasto, que dará origem à placenta, passa a produzir o hormônio gonadotrofina coriônica humana (HCG). Apesar de ser fundamental para a  manutenção da gravidez, ele pode promover efeitos adversos, como os enjoos, segundo a obstetra Priscila Cury, da Maternidade Pro Matre Paulista (SP). Estrogênio e progesterona, os hormônios femininos, também vão às alturas. Essa turbulência hormonal leva ao enfraquecimento do sistema imunológico. “Isso evita que ele reaja à presença do bebê,  agredindo-o”, diz o obstetra Zlotnik. Além disso, o volume de sangue no corpo chega a aumentar até 50% por volta da 30ª semana. Associada aos altos níveis de progesterona, essa sobrecarga promove retenção de líquido e inchaço em diversas regiões do corpo, que vão explicar alguns dos sintomas mais incomuns.

1. Coceira

Até 20% das mulheres sofrem com essa chateação em algum momento da gravidez, segundo estima o dermatologista Jayme de Oliveira Filho, do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP). Isso se deve ao ressecamento da pele, provocado pelo incremento na taxa de HCG. Como se não bastasse, por volta da 26ª semana, geralmente aparecem as estrias, que intensificam ainda mais o prurido em áreas específicas, como quadris, barriga e seios, em função do rápido estiramento da pele e do rompimento das fibras de colágeno cutâneo.

A coceira é o principal sintoma da colestase, uma complicação grave no fígado, que ocorre na gestação. E detectá-la bem cedo é fundamental para manter o bebê a salvo (Foto: Courtney Keating / Getty Images)

A coceira é o principal sintoma da colestase, uma complicação grave no fígado, que ocorre na gestação. E detectá-la bem cedo é fundamental para manter o bebê a salvo (Foto: Courtney Keating / Getty Images)

Evitar o ganho excessivo de peso, manter a pele constantemente hidratada, com cosméticos
liberados por seu médico, praticar exercícios regularmente e tomar banho morno — e não quente — são as recomendações que servem tanto para prevenir quanto para minimizar o incômodo. No entanto, se ela se concentrar nas mãos e nos pés, pode se tratar de uma condição específica, batizada de eritema palmar, que decorre de alterações vasculares causadas pelo estrogênio abundante. Ela costuma ser benigna e tende a desaparecer espontaneamente após o parto. No entanto, há uma situação que merece alerta e requer assistência emergencial. “É quando há coceira muito intensa, a ponto de tirar o sono, ou generalizada, levantando suspeita para problemas renais ou colestase obstétrica — uma alteração hepática capaz de promover danos ao bebê”, explica Oliveira Filho. Outros indicativos desse problema são pele amarelada e urina escura.

2. Suor abudante

A elevação na temperatura corporal (em cerca de 0,5°C) é um sintoma bem conhecido pela maioria das gestantes, pois, além do peso extra que carregam, que demanda mais esforço, o fluxo sanguíneo aumentado exerce impacto sobre os vasos sanguíneos, fazendo com que se dilatem – como resultado, vem a sensação de calor além da conta. "Algumas gestantes também têm a percepção de ondas de calor, semelhantes às que são relatadas por mulheres no climatério, provavelmente por conta da oscilação hormonal”, acrescenta a obstetra Priscila.

Acontece que, às vezes, a consequência disso tudo é um enorme incremento na transpiração. Banhos com água morna ajudam a manter o corpo fresco. Usar roupas leves, feitas com fibras naturais, e evitar tecidos sintéticos são outra escolha que traz maior conforto para o dia a dia. E, nas épocas mais quentes, procure se abrigar em sombras e permanecer em ambientes que tenham ar-condicionado ou ventiladores.

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3. Visão embaçada

Com as oscilações hormonais, existe a possibilidade de a produção de lágrimas se desequilibrar, deixando o olho seco. Por isso, ardência, visão embaçada e sensibilidade à luz podem perturbar a grávida. A recomendação médica é fazer uso de colírios simples, à base de soro e sem medicamentos em sua composição, para lubrificar os olhos. Apesar de incomodar, o sintoma não é preocupante e tende a melhorar após o parto. No entanto, é fundamental prestar atenção em outras alterações, como enxergar luzes piscando, visão dupla, turva ou com manchas, que são indicativos de pré-eclâmpsia — um aumento brusco na pressão arterial, capaz de pôr a mãe e o bebê em risco.

Por fim, gestantes que usam óculos devem consultar um oftalmologista, porque pode ser necessário aumentar o grau de suas lentes. A razão disso é a retenção de líquido. “Ela é capaz de promover alterações na espessura e no formato da córnea”, explica a obstetra Priscila. A boa notícia é que esse sintoma também costuma terminar após o parto.

4. Ouvido tampado

Algumas grávidas reclamam dessa sensação ou de escutarem um zumbido frequentemente. Em ambos os casos, a primeira providência é descartar problemas mais sérios. “Por trás das alterações auditivas, pode haver uma infecção por rubéola, por exemplo, já que o ouvido está associado ao sistema nervoso, afetado por esse vírus", justifica o otorrinolaringologista Olavo de Godoy Mion, do Hospital das Clínicas (SP). O zumbido, particularmente, também pode ter relação com problemas de pressão arterial ou com uma síndrome chamada otospongiose, que tende a se manifestar no período gestacional. “Trata se de um problema que leva à perda auditiva gradual", alerta Mion.

Entretanto, não há motivo para entrar em pânico diante do ouvido tampado. Em geral, a explicação mais simples é que esse sistema, assim como outras áreas do corpo em que há mucosa, sofrem com o inchaço causado pela retenção de líquido. “Se o desconforto começou na gravidez e nenhuma doença mais grave foi detectada, não é necessário tratar — só esperar que desapareça ao fim da gestação. Se o impacto na qualidade de vida for grande, é possível tentar uma manobra que visa destampar o ouvido por meio da pressão do ar, a critério do médico.

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5. Nariz entupido

De novo, a culpa recai sobre a retenção de líquido, que promove inchaço no revestimento da mucosa nasal, dificultando a entrada de ar e aumentando a produção de muco, especialmente incômoda para quem já tem rinite alérgica. “E o pior é que esse problema pode persistir até o final da gravidez”, avisa o otorrino Mion. O tratamento, segundo ele, consiste apenas na aplicação de soro fisiológico, para limpar as vias aéreas e reduzir a obstrução. Mas, atenção: nada de utilizar outros descongestionantes, que podem ser prejudiciais ao bebê. Ingerir bastante líquido e fazer inalação, também com soro fisiológico, costumam trazer alívio adicional.

6. Tosse

São três os mecanismos responsáveis por torná-la mais frequente nessa fase: a fragilidade do sistema imunológico, que favorece a ocorrência de gripes e outras infecções respiratórias; a obstrução nasal, acompanhada da superprodução de muco, que desencadeia a tosse (especialmente à noite, quando a mulher está deitada); e a diminuição na eficiência dos cílios presentes nos brônquios, que têm como função expelir muco, de acordo com a obstetra Priscila. Além disso, a tosse pode piorar à medida que a gravidez avançar, já que o bebê em crescimento impede a expansão total dos pulmões, interferindo na respiração.

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Grávida no médico (Foto: Thinkstock)

Grávida no médico (Foto: Thinkstock)

Diante do sintoma, a primeira providência é identificar sua origem. Depois de descartar doenças de base, como alergia e infecção, basta ter paciência, pois é esperado que a tosse regrida após o nascimento do bebê. Enquanto esse dia não chega, manter se hidratada, e evitar fatores irritantes das vias aéreas, como produtos químicos e poluição, pode trazer algum conforto, assim como colocar uma bacia de água em seu quarto, na hora de dormir, para umidificar o ambiente.

Não custa reforçar, porém, que não existe uma fórmula mágica para combater essas chateações. Cada gravidez é única e exige uma pitada de paciência em aspectos distintos. O consolo é que tudo isso é passageiro. Foco na recompensa!