• Fernanda Montano
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Difícil ver seu filho passar por todas essas situações de medo e ansiedade geradas pela pandemia e não saber como ajudar? Entendemos! Não existe mesmo fórmula mágica, mas tudo parte da validação dos sentimentos. Se a criança sente qualquer preocupação, por mais “bobo” que pareça o motivo, ela é legítima. E, se você diz “ah, para com isso, não é nada”, ela não se sente valorizada, amparada ou protegida – e o medo não passa.

332 Medos e Manias Kauê veste macacão da Juliana Gevaerd e t-shirt da Jouer (Foto: Babuska)

Kauê veste macacão da Juliana Gevaerd e t-shirt da Jouer (Foto: Babuska)

“Nosso lado animal tem fuga ou luta como reações. Mas no ser humano existe uma terceira alternativa, que é o conhecimento. Me sinto protegido, e isso me encoraja. Então, numa linguagem que a criança compreenda, usamos informações específicas para aumentar a segurança dela. Muitas vezes, os pequenos interpretam a fala de forma diferente do adulto: se a mãe diz ‘o papai ficou preso no trânsito’, é possível que imaginem que ele está atrás das grades”, afirma o psiquiatra Wimer Bottura Junior, especialista em psiquiatria infantil pelo Serviço de Psiquiatria Infantil da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo.

Ou seja, cuidado na hora de conversar sobre os medos. Não menospreze o sentimento da criança nem exagere no volume das informações. Diga a verdade, sim, mas, como sempre, leve em consideração a situação e a idade do seu filho. “As crianças são verdadeiras esponjas de sentimentos, por isso é equivocado esconder coisas importantes delas. Elas absorvem a verdade com facilidade e vão reagir. E absorver a verdade sem ter uma explicação e uma compreensão que estejam no nível que consigam processar, as deixa piores, pois, além de ficarem com medo, ficam inseguras”, diz Daniel Becker, pediatra do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro..

A neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP, complementa: “Precisamos separar o que é da criança e do adulto. E, ao falar a verdade, sempre pergunte antes ao seu filho qual a ideia dele sobre o assunto. Então, a partir disso, traga as informações. Às vezes, o adulto atropela falando de algo que a criança não entende e cria mais ansiedade”.

Depois dessa observação e conversa inicial, você pode lançar mão de algumas estratégias que variam de acordo com o medo. Se o seu filho não quer ir sozinho a local nenhum da casa, por exemplo, amarre a ponta de um novelo de lã na mão dele e deixe a outra ponta com você. Diga que ele pode ir e, se sentir medo, dar uma puxadinha no fio. Aí você puxa de volta, para ele sentir e materializar que podem não estar no mesmo cômodo, mas ele não está sozinho em casa. Se o medo for de monstros na hora de dormir, crie o “spray antimonstros”. Pegue um borrifador e decorem juntos. Ali você pode colocar só água ou, para incrementar, adicione algumas gotas de óleo essencial de lavanda, que ajuda no sono. À noite, antes de dormir, borrifem juntos todo o quarto. Brinque com isso, use a fantasia para ele se sentir seguro.

332 Medos e Manias Victoria usa vestido da Nó e Nó e Kauê usa Macacão da Juliana Gevaerd e t-shirt da Jouer (Foto: Babuska)

Victoria usa vestido da Nó e Nó e Kauê usa Macacão da Juliana Gevaerd e t-shirt da Jouer (Foto: Babuska)

Outras estratégias...

Sim, tem mais. Há outras ferramentas bacanas para ajudar seu filho a lidar com tantas angústias (de quebra, vão ajudar você também!). Assistir a filmes e desenhos é uma delas. Muitas vezes, não adianta dizer ao pequeno “vem cá, vamos conversar sobre o que está sentindo”. Nessas horas, usar recursos lúdicos e que gerem identificação é uma boa saída. A partir de uma situação vivida por um personagem, por exemplo, você pode fazer perguntas e introduzir o assunto.

Essa ideia se estende também ao momento da leitura. Os livros infantis são ótimos instrumentos para ajudar os pequenos a se expressarem. Além disso, quando você senta para ler um livro com a criança, naturalmente já existe uma maior abertura da parte dela, pois ela sente aquela atitude dos pais como um momento de conexão (veja sugestões de obras no quadro 5 livros sobre o tema).

O mesmo vale para as brincadeiras. O brincar é a linguagem dos pequenos, então nada mais lógico que se valer dele. “O filho aprende muito quando os pais brincam junto. Ele se sente aceito e com prazer na relação com a família, o que faz toda a diferença no seu preparo emocional para enfrentar uma situação. Afinal, fortalece a autoestima, o que traz segurança e o deixa menos ansioso”, diz o psiquiatra Wimer Junior.

E, se tem algo que é fundamental no equilíbrio das emoções e foi fortemente prejudicado pela pandemia são as atividades físicas. Quantas crianças não abandonaram os treinos de futebol, natação, balé ou um simples passeio na pracinha com direito a andar de bike? Pois bem, saiba que os exercícios são aliados no alívio de temores e ansiedade, pois estimulam a produção de endorfina e serotonina, que ajudam a relaxar, proporcionam bem-estar e melhoram o humor.

Invista em práticas esportivas com segurança (em ambientes abertos, com distanciamento). Aliás, interagir com a natureza e se movimentar cercado de verde e ar puro são um ótimo antídoto para sentimentos mais difíceis. “Bote a máscara e vamos para o parque, a praça, caminhar na praia, vamos encontrar os amigos ao ar livre! Os adultos têm de ajudar essas crianças a vencer a inércia, porque elas só vão readquirir habilidades interpessoais exercendo-as novamente”, alerta Becker.

Por último, recorra a técnicas como a do “inspira, expira”. Manter o foco e conseguir se acalmar são habilidades cada vez mais necessárias, e você pode ensinar seu filho a descobrir isso de forma simples e lúdica.