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Uma menina de 18 meses menstruada. Não, você não leu errado. Isso aconteceu com a britânica Liza Louise, segundo um relato dela para o site The Sun. Ela foi diagnosticada com puberdade precoce muito cedo, de forma raríssima, com essa idade, quando seus pais notaram um sangramento vaginal.

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Liza teve a primeira menstruação aos 18 meses (Foto: Reprodução/ The Sun)

Liza teve a primeira menstruação aos 18 meses (Foto: Reprodução/ The Sun)

“Comecei a sangrar de forma anormal e meus pais me levaram a alguns médicos, que sugeriram que poderia ser puberdade precoce”, diz Liza, hoje com 23 anos. Às vezes, os recém-nascidos podem apresentar um sangramento vaginal conhecido como menstruação falsa, em que a queda de estrogênio resultante da mãe causa uma pequena quantidade de sangramento – no entanto, é inédito em bebês mais velhos, como Liza, e crianças pequenas.

“Tive que passar por alguns procedimentos para ver o que estava acontecendo. Os médicos confirmaram e descobriram que eu estava tendo uma menstruação completa, como as que eu teria agora como uma mulher adulta. Isso significava que eu começaria a puberdade antes de todo mundo e começaria a desenvolver meu corpo cedo”, explica.

Depois desse sangramento ainda bebê, ela teve alguns outros, espalhados, ao longo da infância. Aos 8 anos de idade, ela passou a ficar menstruada, de fato, todos os meses. “Minha escola primária foi informada da situação e eles tiveram que manter produtos de higiene pessoal para mim na recepção. Isso me ajudou a me sentir um pouco mais confortável com toda a situação. Não entrava em pânico ou me preocupava com o que todo mundo iria pensar. Eu tinha um bom sistema de apoio ao meu redor”, afirma.

Os seios também cresceram antes – o que fez com que ela sofresse bullying na escola. “Eu sempre tive seios maiores, comecei a desenvolvê-los aos 7 anos. Íamos nadar pela escola e, nos vestiários, havia comentários constantes. Os meninos me acusavam de encher meu sutiã ou colocar implantes mamários – mas eu era apenas uma criança. Outras crianças e seus pais sempre olhavam para mim e faziam comentários, mas não tinham ideia do que estava acontecendo”, recorda.

Para Liza, sua experiência a ajudou a realmente chegar a um acordo com seu corpo, que passou por uma transformação muito mais rápida do que seus colegas, e também a apoiar outras amigas durante a puberdade, já que ela passou por isso muito antes delas. “Isso me ajudou a entender meu corpo. Agora, tenho uma relação muito saudável com meu corpo e estou aberta para explicar a situação e falar do que passei. Acho que muitas meninas, hoje em dia, têm vergonha de seus corpos e sobre menstruação”, relata.

O que é puberdade precoce?

A puberdade só é considerada precoce para valer quando o surgimento de características sexuais acontece antes dos 8 anos nas meninas e dos 9 nos meninos. Isso significa o despontar do broto mamário ou o aumento do volume dos testículos, o crescimento dos pelos pubianos ou nas axilas, o odor corporal ou a menstruação.

Junto com esses sinais, vêm duas preocupações principais: o impacto psicológico e o comprometimento da estatura. “As meninas são emocionalmente imaturas para lidar com um corpo desenvolvido. Isso gera angústia, problemas de autoestima e bullying por parte dos colegas. Sem falar na preocupação com o abuso sexual”, pontua a endocrinologista pediátrica Gabriela Kraemer, do Hospital Pequeno Príncipe (PR). Ela também explica que, nos meninos, o hormônio testosterona pode alterar o comportamento, levando a agressividade e sexualidade exacerbadas. Por isso, o acompanhamento de um psicólogo é bem-vindo, a fim de melhorar a adequação social e a autoconfiança, além de minimizar o isolamento e a introversão.

Estatísticas da literatura internacional apontam que uma a cada 5 mil crianças enfrenta o amadurecimento apressado. E esses dados se referem somente à forma clássica, chamada de puberdade central verdadeira, que corresponde a 80%dos casos de precocidade sexual, segundo o Ministério da Saúde. Esse tipo se caracteriza pela ativação do chamado eixo hipotálamo-hipófise-gônadas. Traduzindo: trata-se de um efeito cascata, cujo ponto de partida é a secreção de um hormônio conhecido como GnRh, em uma área cerebral chamada hipotálamo. A substância, por sua vez, estimula uma glândula batizada de hipófise, também localizada no cérebro, a produzir outros dois hormônios: o luteinizante (LH) e o folículo-estimulante (FSH). Finalmente, essa dupla induz os ovários ou testículos a liberar hormônios sexuais, como o estrogênio (feminino) e a testosterona (masculino).

Os 20% restantes se encaixam em uma forma de puberdade precoce nomeada de periférica, em que a liberação de hormônios sexuais independe do mecanismo mencionado acima e pode ser decorrente de tumores nos ovários ou nos testículos, de cistos ovarianos ou de outras doenças, como a hiperplasia adrenal congênita (uma disfunção na glândula adrenal), a síndrome de McCune Albright (que afeta os ossos, a pele e a produção hormonal) e o hipotireoidismo.

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