• Teresa Ruas
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Pode ser comum para nós, pais de crianças pequenas, nos sentirmos cansados ao longo do período das férias escolares, não é mesmo?  Um dos motivos é que toda a família precisa se adaptar a uma outra rotina diária, como, por exemplo: onde as crianças ficarão, quais atividades serão realizadas, se os pais conseguirão tirar férias do trabalho, entre outros fatores.

Brincadeiras são ótimas formas de estimular o desenvolvimento do bebê (Foto: Getty Images)

Brincadeiras são ótimas formas de estimular o desenvolvimento do bebê (Foto: Getty Images)

A pandemia nos ensinou bastante e até hoje continua nos ensinando sobre a nossa capacidade em nos adaptarmos e conciliarmos tantas funções e tarefas no ambiente domiciliar. Aprendemos muito com toda essa nova realidade, mas para algumas famílias de crianças pequenas, ter a criança envolvida em alguma atividade externa, escolar, de recreação ou recebendo o suporte de algum familiar auxilia muito o dia a dia de pais que precisam se envolver em atividades profissionais.

Sabemos também que, infelizmente, nem todas as crianças pequenas e bebês têm acesso à educação infantil e às creches, dificultando ainda mais o dia a dia de pais que precisam trabalhar fora. A pandemia também trouxe uma situação que maximizou ainda mais a vulnerabilidade social de muitas famílias e, a cada dia mais, tenho a certeza da importância de lutarmos pela promoção da saúde infantil para as diversas realidades sociais, dentre elas a importância de nossas crianças poderem brincar livremente, sem cobrança de nada, como o período das férias pode proporcionar.

A importância das nossas crianças pequenas poderem vivenciar momentos sem horários, atividades e/ ou cronogramas fixos, atualmente via online e/ ou presencialmente em algumas escolas brasileiras, ou em contextos de terapia/reabilitação para vários prematuros/bebês de risco que necessitam da intervenção profissional para a promoção do desenvolvimento, liga-se ao fato do quanto as férias são uma pausa fundamental para recarregar as energias –física e emocional – de toda criança.

Dar uma pausa nas atividades escolares ou nas terapias de reabilitação é fundamental para que nossas crianças, incluindo aqui os bebês, possam internalizar/assimilar/acomodar todas as experiências e aprendizados adquiridos e transpô-los para a vida diária em família no contexto domiciliar e comunidade.

E para os bebês e crianças pequenas conseguirem fazer todos esses processos característicos de todo desenvolvimento infantil, eles precisam revivê-los, experimentá-los na prática do cotidiano, diante de vivências, atividades e brincadeiras livres, lúdicas, afetivas, criativas e sem nenhuma cobrança por desempenho e/ou por aquisições específicas do processo de desenvolvimento e aprendizagem.
 
As brincadeiras livres/não estruturadas, o contato com os objetos diários e o contato com a natureza podem ser priorizados nesse momento! Brincar com os utensílios domésticos como as panelas, colheres, potinhos, vasilhas, buchas geram muitas experiências sensoriais e o aprendizado de que os objetos ao nosso redor possuem formas, tamanhos, pesos e texturas diferentes. O peso de uma colher de pau, por exemplo, é muito diferente de uma forminha de gelo. E como fazer para brincar com uma colher de pau e a mesma forminha? O bebê e criança pequena podem descobrir que ao bater a colher de pau contra a forminha, gera um som... esse som pode gerar uma cantiga e uma brincadeira cheia de novidades de novas ações e conexões entre os objetos diários.

Todo esse conhecimento sobre o que os objetos podem fazer e como o corpo de nossos pequenos pode atuar sobre eles é uma das grandes fundações para o desenvolvimento infantil. Objetos e ações que podem ser levados ao banho, ao momento da alimentação e ao chão, por exemplo. Bebês e crianças pequenas precisam se aventurar no chão e entrar em contato com os objetos do dia a dia. As férias podem possibilitar muitas experiências prazerosas seguindo esse contexto.

O contato com a natureza, com a “sensorialidade” dos elementos naturais e sentir o ar livre são experiências fundamentais para toda e qualquer criança, especialmente nessa realidade de pandemia que ainda estamos vivendo. As pracinhas de bairro, parquinhos, fazendas, praia podem gerar muitas experiências prazerosas para nossos pequenos. Rolar na grama, soltar pipa,  passear com o animalzinho de estimação, pisar na areia, brincar com a terra, catar pedrinhas e conchas, brincadeiras com água, rodopiar em cambalhotas descontraídas pela grama, engatinhar pela grama, sentir a areia nos pés, fazer castelinhos de areia, sentir a água em todo corpinho, ouvir os pássaros, respirar ar puro... infinitas possibilidades de novas ações e experiências com a nossa mãe natureza e tão preciosas para a promoção da saúde e desenvolvimento infantil.

Brincar com caixas de papelão, canudos, grãos, algodão, garrafinhas plásticas, espuma de barbear do papai e/ou com o batom da mamãe, calçar os sapatos do papai e/ou vestir as roupas da mamãe, fazer festa de aniversário para as bonecas, entre outras atividades lúdicas também podem alegrar, ainda mais, o momento das férias e da relação afetiva entre pais e filhos. Sem falar, que todas essas atividades podem contar com a presença de pessoas extremamente importantes para as crianças, como os primos, tios e avós, com todas as medidas de segurança e proteção contra o covid-19.

E sobre esse aspecto, as pesquisas em desenvolvimento infantil afirmam que as experiências lúdicas, realizadas com pessoas afetivamente significativas para as crianças, são uma fonte importantíssima de reabastecimento afetivo para qualquer ser humano, gerando maior segurança emocional para os pequenos e, portanto, vivências e aprendizagens mais sólidas.

Dessa forma, o período de férias pode ser um momento ‘precioso’ para que a criança brinque livremente, aprenda e experimente as suas potencialidades, características e possíveis dificuldades de diferentes formas, sem regras fixas e sem nenhum ‘limite’ para expressar os seus sentimentos, sensações, possibilidades de ações e imaginação. A criança deve ser livre para expressar ‘quem ela é’, ‘como ela está’, ‘quais foram as suas conquistas’  e, assim, participar ativamente do seu próprio processo de desenvolvimento, transformações e descobertas diárias.

Um grande abraço, Teresa Ruas

Teresa Ruas, mãe de dois prematuros, Maitê e Lucca, especialista em desenvolvimento infantil, doutora em Ciências da Saúde, fundadora da equipe interdisciploinar @prematurosbr e sócia e coordenadora da primeira infância do @beequaloficial (Foto: Teresa Ruas )

Teresa Ruas, mãe de dois prematuros, Maitê e Lucca, especialista em desenvolvimento infantil, doutora em Ciências da Saúde, fundadora da equipe interdisciploinar @prematurosbr e sócia e coordenadora da primeira infância do @beequaloficial (Foto: Teresa Ruas )