A busca por um pedaço da natureza em casa é visível, talvez como um reflexo pós-pandêmico. O número de butiques de plantas, perfis de Instagram botânicos e mesmo de empreendimentos com sacadas e áreas externas cresceu muito.
A verticalização do verde nas fachadas já começa a ser perceptível, não apenas nos lançamentos imobiliários, mas também nas varandas e janelas dos apartamentos por aí. Tons terrosos aparecem cada vez mais nos projetos, carregando essa atmosfera mediterrânea, de conexão com o solo. Fibras naturais, pedras, palhas, lâminas de madeira... A cor do ano divulgada por uma das maiores marcas de tintas do país, inclusive, traz esse aspecto de barro natural.
As edificações que evidenciam seu método construtivo, com um bom projeto, acabam por ganhar mais charme. Além disso, tendem a ser financeiramente mais interessantes e, inclusive, ecologicamente mais corretas. Destaca-se ainda o brutalismo das texturas.
Os projetos do paraguaio Solano Benitez são um exemplo do bom uso de elementos construtivos em sua forma bruta, utilizando tijolos de barro, posicionados de maneira a gerar belos painéis e brises de ventilação.
A partir do espaçamento entre os blocos, cria-se uma espécie de cobogó (elemento construtivo vazado originalmente brasileiro, popularizado na arquitetura ao longo das décadas). Essa técnica garante um efeito de ar-condicionado natural, graças à circulação cruzada, luminosidade e efeitos de luz e sombra.
Sempre falo que a melhor forma de alcançar atemporalidade em projetos é conectá-los a elementos naturais, assumindo as texturas originais dos revestimentos, por exemplo. Com a urgência da preservação de recursos, precisamos que a indústria desenvolva acabamentos fiéis às matérias-primas naturais. Lâminas de melamina para marcenaria, pedras fabricadas, como quartzos, pisos laminados, couros sintéticos e porcelanatos em grandes formatos são bons exemplos.
O importante é buscar nesses produtos sempre tons, acabamentos e toques que se assemelhem ao máximo com a inspiração original. Nada mais estranho do que percebermos uma marcenaria com um tom de madeira acinzentado que jamais se viu em lugar algum. Isso acentua a percepção de um espaço vinculado a modismos passageiros, enjoativo e pouco versátil.
A brasilidade do design traz o frescor das memórias conectadas aos recursos naturais, com a valorização desses materiais. Peças torneadas artesanalmente em madeiras originárias daqui, rochas vindas de diferentes partes do Brasil... O traço de Oscar Niemeyer reflete em suas curvas a observação sobre a figura humana e a natureza, seu maior charme, mantendo sua linguagem contemporânea. Isso também acontece nas obras marcadas pelo brutalismo de Paulo Mendes da Rocha, com estruturas aparentes e materiais em sua textura bruta.
Neste contexto, o paisagismo é parte essencial de um bom projeto. Ele insere o elemento construído ao meio, humaniza e conecta com o ambiente natural. Nossa flora é rica, com uma combinação de cores, desenhos e formas perfeitas. Especialmente me agradam os paisagismos que fazem releituras dos biomas de cada local, reproduzindo a paisagem natural. Os belos murais de Burle Marx e Candido Portinari remetem à exuberância da natureza tão diversa do nosso país – e nunca deixam de ser boas referências.
Conseguir integrar algo construído de maneira harmônica e respeitosa ao existente no local é um trabalho que exige sensibilidade e respeito ao contexto onde se está projetando. É fundamental entender que a arquitetura deve conversar com o entorno, para respeitar suas proporções, escala, paisagem natural e conformações de terrenos.
Reconhecer e trabalhar com essas características certamente acaba por ser o diferencial em um projeto. Empregar elementos locais, artesãos e matéria-prima produzida regionalmente também traz uma bossa difícil de se encontrar. É raro vermos projetos que, genuinamente, conseguem criar essas relações... Que através do simples e despretensioso, configuram uma aura sofisticada e repleta de personalidade, não datada.