Design

Neto de desenhista e filho de bordadeira, Renan Estivan (@renan.estivan) parece já ter nascido com "um pé" no mundo da arte. O destino então se encarregou de manter viva essa inclinação nele, que, mais tarde, viria a se tornar um artista têxtil e designer pela UNESP.

"A minha mãe produzia tapetes de Arraiolos desde mais nova, então eu cresci tendo contato com o universo das lãs e das tapeçarias dela", conta.

Após a graduação em Bauru, interior de São Paulo, ele decidiu partir para Salvador a fim de estudar moda, corte e costura com a intenção de seguir na área. Mas o caminho lhe levou de volta ao design quando, durante a pandemia de Covid-19, a sua mãe o estimulou a ter um trabalho manual para ocupar o tempo ocioso.

"Comecei a fazer tapetes bordados com ela, por videochamada, e percebi que poderia trazer meus desenhos para os pontos bordados. Minhas primeiras tapeçarias foram em ponto cruz, ponto casa caiada, feitas com linha e agulha na tela de juta, graças ao incentivo e à inspiração de minha mãe", diz Renan.

Corpos, afetos e contato são alguns dos temas recorrentes no trabalho de Renan. Na imagem, obra "Abraço" — Foto: Arquivo Pessoal / Renan Estivan
Corpos, afetos e contato são alguns dos temas recorrentes no trabalho de Renan. Na imagem, obra "Abraço" — Foto: Arquivo Pessoal / Renan Estivan

Mas encarar a tapeçaria como um trabalho foi um processo pouco demorado: antes algo muito pessoal, como uma herança familiar ou hobby, o produto era visto por ele como muito específico, que talvez não fizesse sentido para os outros. "É um suporte muito tradicional, e eu comecei a usá-lo para retratar cenas bastante contemporâneas. Meu medo era das pessoas não entenderem minha ideia, ou que os objetivos das encomendas não fizessem sentido na tapeçaria".

Isso mudou quando ele percebeu que as pessoas gostavam do seu processo de criação e entendiam os temas que queria retratar. Ele passou a vender tiragens de seus desenhos autorais e as peças atingiram um público que apreciava aquela arte e as suas referências.

Com quase 60 mil seguidores no Instagram, Renan conta que agora gosta de criar tapeçarias por encomenda e enxerga a prática como uma forma de expandir o seu trabalho para outros pontos de vista.

Processo criativo

Atualmente, o artista conta com um portfólio repleto de peças que provocam o tato, seja pelo que é retratado, seja pela própria textura do material. Alguns dos temas comuns às obras de Renan são corpos, afetos e contato.

Para a sua primeira série, chamada Isolamento Tropical e criada durante a pandemia, ele diz ter se inspirado na experiência de estar sozinho em uma cidade litorânea, tendo a natureza, o calor, o sol e o sal na pele como companhia.

As tapeçarias de Renan são produzidas com lã natural e tufadas em uma tela de poliéster com a pistola tufting gun. Na imagem, obra "Banhistas" — Foto: Arquivo Pessoal / Renan Estivan
As tapeçarias de Renan são produzidas com lã natural e tufadas em uma tela de poliéster com a pistola tufting gun. Na imagem, obra "Banhistas" — Foto: Arquivo Pessoal / Renan Estivan

"Todas as minhas tapeçarias autorais falam um pouco da minha relação com o lugar onde eu estou no momento, por isso gosto de sair, aproveitar a cidade, comer em restaurantes regionais e levar meu sketchbook para praia a fim de capturar as figuras interessantes que eu observo", explica.

Nas encomendas, ele busca expressar tal assinatura e como traduz os sentimentos que as cores e texturas das lãs lhe despertam sobre essas emoções dos outros.

As tapeçarias são desenvolvidas com lã natural, tufadas em uma tela de poliéster a partir de uma pistola chamada tufting gun. Transicionar do bordado para a nova técnica, segundo Renan, foi um processo autodidata.

"Acabei pegando gosto por descobrir maneiras de fazer as peças do meu jeito e criar meus próprios processos. Meu ateliê no meu apartamento em Salvador é o lugar onde eu passo mais tempo sozinho. Se não estiver produzindo, eu estou preparando os materiais ou organizando os equipamentos", conta.

Para escolher a paleta de cores, que é um grande destaque de seu trabalho, o artista se apropria do calor das imagens, das luzes e dos tons de pele que deseja retratar: "Como a maioria das minhas telas retratam corpos, e o calor é um elemento bastante presente, as cores quentes raramente saem da minha paleta", afirma.

Ele diz, ainda, que leva em média um mês para produzir uma tapeçaria, a começar pelos estudos de desenho e cores, o preparo dos materiais e a produção em si. "Meu trabalho é artesanal, por mais que eu use um equipamento semi-industrial, todo o processo é feito a mão, do desenho ao acabamento", explica.

Já a inspiração vem de muitos lugares, principalmente de tapeceiros, artesãos, artistas plásticos e fotógrafos brasileiros que vieram antes de Renan.

"Os temas das minhas tapeçarias tem muito a ver com o que o fotógrafo Alair Gomes retratava na sua época e a interação de corpos masculinos em uma cidade litorânea, ou com a sensibilidade e afeto de Leonilson em obras bordadas a mão cheias de poesia", diz.

Ele também se inspira muito nos tapeceiros baianos que produziam tapeçarias em cores vibrantes nos anos 1960 e 1970 e retratavam o cotidiano soteropolitano, como Kennedy Bahia, Rubico e Renot.

Maresia: o retrato de Salvador

Peça "Maresia", que simboliza o pertencimento do artista à cidade de Salvador — Foto: Arquivo Pessoal / Renan Estivan
Peça "Maresia", que simboliza o pertencimento do artista à cidade de Salvador — Foto: Arquivo Pessoal / Renan Estivan

Para Renan, uma das peças recentes de maior significado é Maresia. Segundo ele, foi uma criação inusitada; um desenho que surgiu durante as suas férias, e a qual não tinha pretensão de vender ou publicar.

"Ela tem um valor especial para mim por simbolizar um momento de muita paz na minha vida e a percepção de pertencimento à cidade de Salvador", diz ele, que é paulista e mora na capital da Bahia há 6 anos.

O artista também conta que a peça o faz pensar em tudo que Salvador lhe ensinou durante esse tempo e a tranquilidade de morar em uma cidade exuberante, mas, ao mesmo tempo, efervescente.

"Por acaso, um amigo arquiteto estava precisando de um quadro para um projeto dele e eu ofereci essa peça. O cliente dele amou e quis comprar. Resolvi então postar nas minhas redes sociais e Maresia se tornou meu maior sucesso até agora. Até hoje recebo pedidos de tapeçarias inspiradas nela", diz.

Em um momento importante de crescimento profissional, o designer levará o seu ateliê para São Paulo neste próximo semestre, visando mais oportunidades de exposição e visibilidade. "Tenho muitos planos com a minha arte, e acredito que eu posso realizar a maioria deles aqui", finaliza Renan.

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