Paula Daidone

Por Paula Daidone

Colunista | Jornalista de vinhos, sommelière, especialista em marketing de vinhos e idealizadora da plataforma Reserva85

Afirmar que nem todo vinho é vegano parece uma incoerência, já que se trata de um produto feito exclusivamente de uva. Contudo, determinadas fases do processo de produção do vinho podem envolver o uso de componentes de origem animal. Como a filtragem e a clarificação executadas com caseína, albumina, clara de ovo, gelatina animal ou isinglass (cola de peixe retirada da bexiga natatória do peixe).

Essas etapas e a utilização desses ingredientes não são obrigatórias. A decisão é exclusivamente do produtor, assim como a divulgação da prática usada. Como não há legislação que obrigue a empresa a discriminar no rótulo os insumos aplicados na elaboração do vinho, descobrir se o produto é vegano ou não pode ser um grande desafio.

Algumas vinícolas desenvolvem rótulos com expressões como “não filtrado” ou “autoclarificação natural”, indicando que o vinho é adequado para veganos. Os vinhos naturais também tendem a ser livres dessas substâncias, pois não usam nenhum insumo extra na produção.

Há ainda alguns exemplares que exibem frases como “vegan frendly”. Mas essa é uma afirmação que nem todas as regiões produtoras permitem que vinhos não oficialmente certificados usem.

Conseguir um selo vegano dos orgãos oficiais é mais difícil do que parece — Foto: Freepik / Creative Commons
Conseguir um selo vegano dos orgãos oficiais é mais difícil do que parece — Foto: Freepik / Creative Commons

Para que um produto carregue um selo vegano, é preciso que ele seja submetido a análise de um órgão regulamentador. Cada país do mundo possui seus certificadores, com a sua própria normativa e política. A decisão por certificar um produto cabe somente ao fabricante. No Brasil, as vinícolas Ponto Nero e Casa Valduga possuem produtos certificados pela Sociedade Vegetariana Brasileira e a vinícola Miolo tem sua produção totalmente certificada pela The Original Vegan Society.

Por ser um processo oneroso e burocrático, alguns produtores abrem mão do selo. Entretanto, tal decisão não implica na execução das práticas veganas. Outro ponto é a incompatibilidade de ideias entre o certificador e a empresa.

Como o veganismo é uma filosofia, os limites do que é aceitável para cada organização pode variar segundo a sua política. Há reguladores que não certificam produtos orgânicos, pois o adubo pode conter resíduos de matadouro. Outros não autorizam selos para produtores que utilizam carroças puxadas por cavalos ou bois.

Várias vinícolas brasileiras já adaptaram suas produções para práticas livres de insumos animais — Foto: Freepik / Creative Commons
Várias vinícolas brasileiras já adaptaram suas produções para práticas livres de insumos animais — Foto: Freepik / Creative Commons

Com a evolução da indústria e também o apelo social por produtos mais saudáveis e justos, essas práticas estão caindo em desuso. Inclusive, há muitos países que já restringem algumas dessas substâncias.

Aqui no Brasil, muitas empresas vitivinícolas adaptaram suas produções para práticas livres de insumos animais, como as vinícolas Cave Geisse, Casas Perini, Família Salton, Campestre, Pizzato, Vivalti e Thera.

Como o vinho é um dos poucos produtos de consumo humano que não têm a obrigatoriedade de listar todos os ingredientes de sua composição no rótulo, saber se o produto se encaixa em suas restrições é algo bem complexo.

Por isso, a curadoria de vinhos é algo tão importante. Consultar um sommelière é o caminho para conhecer a procedência do produto e as práticas da vinícola e, assim, garantir uma compra mais acertada e segura.

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