As mulheres correspondem a cerca de 90% do número de artesãos no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Mas, devido a dificuldades como falta de apoio e de acesso a ferramentas e matéria-prima, nem sempre o artesanato feminino acaba saindo de suas comunidades e ganhando o mundo.
Para mudar essa triste realidade, algumas designers brasileiras têm se dedicado ao minucioso trabalho de mapear e desenvolver parcerias com artesãs de todo o Brasil. Apoiadas em iniciativas de empreendedorismo, capacitação técnica e inovação, elas colaboram para aumentar a renda e trazer independência a essas mulheres.
Neste Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, conheça três designers que têm contribuído para emancipar comunidades lideradas por mulheres no país.
Maria Fernanda Paes de Barros
Maria Fernanda tem mais de 20 anos de experiência em design de interiores e, desde 2014, atua com produção autoral. Sua marca, a Yankatu, trabalha com peças de mobiliário feitas à mão criadas junto a artesãos de todo o país, oriundos de comunidades no Pará, em Minas Gerais, na Bahia e do Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso.
![A designer Maria Fernanda incentiva artesãs através de sua marca, a Yankatu — Foto: Marcelo Oséas / Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/4OSf1XuxZ_neGRBDieU-7K7Qbfk=/0x0:1400x2100/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/x/L/09eUIpSXAT65PAMCGbpQ/dia-da-mulher4.jpeg)
Neste último, a parceria com as indígenas da etnia Mehinaku deu origem à coleção Xingu, composta por seis peças, três delas feitas de fio de buriti, a principal matéria-prima das artesãs locais. Os trabalhos ajudaram a divulgar a técnica feminina, que é menos conhecida que os famosos bancos zoomorfos de madeira feitos pelos homens da aldeia.
"Os trabalhos femininos ainda sofrem com a falta de valorização e dificuldade de produção. Durante o período que fiquei no Xingu, elas me confidenciaram que toda vez que precisavam fazer a coleta do buriti, necessitavam pedir um barco emprestado aos homens para percorrer longas distâncias até o buritizal", fala a designer.
![As artesãs da etnia Mehinaku conseguiram comprar um barco com o seu trabalho — Foto: Kulikyrda Mehinaku / Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/hCu_v3vZhi3Fk6ZuA41FC9dhvYo=/0x0:1400x1048/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/b/B/lJkH2NSjWsxh4OdP0yKw/dia-da-mulher3.jpeg)
Como contrapartida do projeto, parte do valor dos produtos foi revertido para a compra do meio de transporte para maior autonomia das artesãs. "A partir da venda das peças da coleção e de doações, pudemos realizar a compra de um barco, que, hoje, já não dependem mais de colaboração masculina para criar suas esteiras, redes e outros utensílios", conta Maria Fernanda.
Zizi Carderari
Jornalista de formação e designer por vocação, Zizi é idealizadora do Projeto Sertões, que mapeia a produção de artesãos e artistas populares espalhados pelo Brasil. Há 30 anos na área, é um dos nomes brasileiros mais fortes quando se trata da colaboração entre design e artesanato.
![Zizi Carderari com as peças artesanais para a casa de seu Estúdio Avelós — Foto: Marcus Camargo / Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/oiybmeBSiNLKqsKxOsDTGRzAS8I=/0x0:1400x2100/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/9/t/x5YuuYRp2T7hCormmMzQ/dia-da-mulher6.jpeg)
Através de seu Estúdio Avelós, marca de objetos artesanais para a casa, ela ajuda a incrementar a renda de comunidades de artesãos em Minas Gerais, Sergipe e Ceará. Nestes projetos, o trabalho começou com as mulheres, mas deu tão certo que acabou atraindo também os homens – maridos e filhos de artesãs.
“Atualmente, nós trabalhamos em parceria com cerca de 15 famílias em Minas Gerais e dez em Sergipe. Embora os homens também sejam exímios artesãos, percebo que nestes grupos a presença feminina é imprescindível. São elas que negociam, puxam a produção e ajudam neste processo de co-criação”, conta Zizi.
![Zizi Carderari (à esq.) e artesãs de Itaiçaba, no Ceará, criando luminárias de carnaúba — Foto: Salvador Cordaro / Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/-aWO_krBS2lzGen_66dGGdl0N58=/0x0:1400x934/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/C/Q/dyPBQFRnSl5OTiwLXrjQ/dia-da-mulher8.jpeg)
Lu Azevedo
Designer e professora universitária, a brasiliense Lu Azevedo atua com artesanato desde 2007. Apaixonada pelas tradições manuais, mudou-se para João Pessoa, na Paraíba, a fim de vivenciar mais de perto a diversidade artesanal encontrada na região.
![A designer Lu Azevedo trabalha com peças feitas com a renda paraibana — Foto: Elyenai Fernandes / Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/c2K_80MGmisK4qZTZk2Ss5ieuPU=/0x0:1400x2099/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/G/V/56L0RDQ5qPABaZra7uBw/dia-das-mulheres9.jpeg)
No estado nordestino fundou a marca Morada, que trabalha com diversas técnicas têxteis, como bordados, rendas e tingimento natural. Uma das mais recentes coleções, a Morada + Labirintos do Agreste Paraibano, conta com peças feitas em parceria com as mulheres do Quilombo Pedra D’água, em Ingá, e do Quilombo Grilo, em Riachão do Bacamarte, na Paraíba.
![A coleção Morada + Labirintos do Agreste Paraibano foi feita com artesãs da Paraíba — Foto: Elyenai Fernandes / Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/vsZE_8rqPa09trtSZfHo2yegHX0=/0x0:1400x934/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/F/O/0x7538TRmVBf8lagkqEw/dia-da-mulher.jpeg)
Lu também faz parte do grupo de pesquisa Mulheres que Tecem Pernambuco, documentando a vida das comunidades femininas que vivem desta técnica no estado, e trabalha com indígenas refugiados da etnia Warao, da Venezuela, com os quais criou peças de fibra de buriti feitas por artesãs da etnia.
“Tenho trabalhado com grupos de mulheres a vida toda e, independente da técnica ou do local em que elas estejam, o que mais me interessa é sempre a importância destes coletivos, tanto no sentido de manutenção e preservação destes saberes que formam a identidade do Brasil, quanto no sentido de transformar estes espaços em locais de manutenção comunitária. O fuxico, o tricotar e a conversa diária entre elas fortalece o vínculo e gera proteção”, destaca a designer.