• Por Mirian Goldenberg
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A cor verde-água predomina no banheiro que a designer Lina Miranda fez para as filhas Paris, 9, e Sophia, 7 anos. Considerava o rosa muito óbvio para meninas. O piso de pastilha hexagonal e as pias de coluna têm inspiração em Nova York (Foto: Edu Castello/Editora Globo)

Dividir o banheiro prejudica o casamento? Leia a pesquisa feita pela antropóloga Mirian Goldenberg (Foto: Edu Castello/Editora Globo)

Perguntei para homens e mulheres qual seria o modelo ideal de casamento. Muitos responderam que o modelo ideal é aquele em que cada um mora em sua própria casa, priorizando a privacidade dos dois. Eles afirmaram que, no casamento ideal, os cônjuges deveriam ficar juntos só quando estivessem com vontade e sentissem saudade. Morar em casas separadas permitiria que tivessem liberdade e, ao mesmo tempo, a segurança de estar com o outro quando quisessem. O que não significa que não teriam um compromisso de fidelidade. Como minha pesquisa aponta, a fidelidade é o principal valor nos casamentos contemporâneos, inclusive naqueles em que os casais optam por morar separados.

Eles disseram que o modelo ideal é muito difícil de ser concretizado por três motivos: financeiro (como ter dinheiro para comprar ou alugar dois apartamentos?), prático (como ficam os filhos?) e, principalmente, emocional — morar em casas separadas pode causar insegurança e falta de intimidade. Assim, morar junto acaba sendo a opção da maioria, mesmo quando os dois gostariam de ter mais liberdade e privacidade. 

Casal tem quarto e banheiros separados

No entanto, há alguns casais que encontraram uma solução para esse dilema. Na própria casa, eles dividem os espaços, como uma jornalista de 42 anos: “Escolhemos um apartamento de quatro quartos para que ambos tenham seus aposentos. Cada um tem seu quarto, seu banheiro, seu computador, seu telefone e sua televisão. Ele ronca e eu tenho dificuldade para dormir. Assim, ele dorme no quarto dele. Quando temos vontade, ficamos na sala vendo televisão ou namorando”.

O marido, um publicitário de 45 anos, disse: “Ninguém invade o espaço do outro. Nada de ficar de porta aberta quando vai ao banheiro ou de mexer nas coisas do outro. Acredito que respeitar a privacidade é fundamental para ter uma vida em comum”.

Segurança e liberdade: segredo de felicidade

Como afirmou o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, há dois valores indispensáveis para uma vida feliz. Um é a segurança, o outro é a liberdade. Para ele, não é possível ser feliz e ter uma vida satisfatória na ausência de um dos dois. Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é caos.

Entretanto, ele diz que é quase impossível conseguir a mistura perfeita entre esses valores. Cada vez que temos mais segurança, entregamos um pouco de nossa liberdade. Quando temos mais liberdade, entregamos parte de nossa segurança. 

Alguns casais, ao buscarem combinar privacidade e intimidade, individualidade e vida em comum, parecem estar no caminho para conciliar liberdade e segurança. Como qualquer comportamento que foge do padrão social, estão sujeitos a preconceitos e acusações, como mostrou o publicitário: “Os parentes e amigos acham que somos estranhos, exóticos, meio malucos. Na verdade, eles não têm coragem de assumir, mas morrem de inveja de nossa forma de viver”.

Terapia da Casa é uma seção de Casa e Jardim, escrita pela antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de vários livros. Entre eles, A Bela Velhice (Ed. Record).