• Por Mirian Goldenberg
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idosa, mirian (Foto: ThinkStock)

No Brasil, o número de idosos que moram sozinhos cresce cada vez mais. Em São Paulo, em um terço das residências de apenas um morador vivem homens e mulheres com mais de 65 anos. Morar sozinho não é mais sinônimo de solidão ou de abandono. Repare nos números crescentes de idosos morando sozinhos: na década de 2000, o aumento foi de 60%. Nos Estados Unidos, 28% deles vivem só. Em Manhattan, são 50%. Em Estocolmo, na Suécia, 60%. É uma tendência crescente em todo o mundo e, também, aqui no Brasil.

Gosto de lembrar os meus alunos que a única categoria social que inclui todos é velho. Somos classificados como homem ou mulher, homo ou heterossexual, negro ou branco. Mas velho você é ou será um dia. O jovem de hoje é o (novo) velho de amanhã.

Geração "ageless"

No Brasil, temos vários exemplos de novos idosos: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Chico Buarque, Marieta Severo, Rita Lee, entre tantos outros. Duvido que alguém consiga enxergar neles, que já estão com 70 anos ou mais, um retrato negativo do envelhecimento. São típicos exemplos de pessoas chamadas “ageless” ou “sem idade”.

Fazem parte de uma geração que não aceitará o imperativo “Seja um velho!” ou qualquer outro rótulo que sempre contestaram. Uma geração que transformou comportamentos e valores de homens e mulheres, que tornou a sexualidade mais livre e prazerosa, que inventou diferentes arranjos amorosos e conjugais, que legitimou novas formas de família e que ampliou as possibilidades de ser mãe, pai, avô e avó.

Esses novos velhos inventaram um lugar especial no mundo e se reinventam permanentemente. Continuam cantando, dançando, criando, amando, brincando, trabalhando, transgredindo tabus etc. Não se aposentaram de si mesmos, recusaram as regras que os obrigariam a se comportar como velhos. Não se tornaram invisíveis, apagados, infelizes, doentes, deprimidos.

Mas não é preciso ser uma celebridade para envelhecer com beleza e plenitude. Muitos velhos que tenho pesquisado estão rejeitando os estereótipos e criando novas possibilidades e significados para o envelhecimento. Suas casas são reflexos de uma verdadeira revolução nas representações e nos comportamentos dos novos velhos. E como são as casas dos novos velhos?

A casa dos novos idosos

São casas mais simples, despojadas e fáceis de limpar. A tendência é que as casas sejam lugares aconchegantes, sem muitos móveis e coisas inúteis. Essa geração de velhos, que viveu plenamente os anos 1960, prioriza a liberdade e a praticidade.

Os novos velhos querem morar em um lugar seguro, onde possam sair para caminhar, fazer compras. Para eles, a mobilidade é fundamental. Eles não querem ficar presos dentro de casa. Eles também adoram receber os amigos, a família e (por que não?) os namorados ou as namoradas.

Ouvi de muitos deles que suas casas são um verdadeiro paraíso, um espaço de prazer e de amor. Hoje, pode-se dizer que morar sozinho, em diferentes fases da vida, tornou-se uma opção legítima, especialmente para uma geração que está inventando uma nova forma de envelhecer, mais bela, prazerosa e significativa.

Terapia da Casa é uma seção de Casa e Jardim, escrita pela antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de vários livros. Entre eles, A Bela Velhice (Ed. Record)