• Texto Rosele Martins
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Casas híbridas (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Arquitetura contemporânea | A construção de concreto aparente traz desenho arrojado que vai além da estética: a inclinação da fachada ajuda a ventilar os equipamentos usados na oficina (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Home office muitas pessoas têm, mas essa turma vai além: Tiago, Sarita, François e Antonio vivem em casas híbridas, que combinam moradia com ambiente de trabalho aberto ao público. Saiba como eles encaixam os dois universos no mesmo endereço. 

1. Em nome da praticidade
Carros são a paixão de Tiago Jorge. Mas passar horas dirigindo preso no trânsito, não. Foi por isso que o paulistano decidiu erguer esta construção em Pinheiros, na zona oeste da cidade de São Paulo. Desenhada pelos arquitetos Paula Sertório e Victor Paixão, da Pax.Arq, a edificação de 540 m² reúne a oficina, a escola e a casa do empresário.

Durante o dia, Tiago e os funcionários cuidam dos motores de Porsches, Corvettes, Mustangs e outros clássicos no térreo do edifício. No andar de cima, fica o espaço no qual ele ensina mecânica para até 30 alunos. E, no topo, os ambientes íntimos: sala, cozinha, quarto, varanda, banheiros e uma academia. “Fecho a oficina às 18h e dou aulas das 20h às 23h. Imagina como seria corrido me deslocar de um lugar para o outro e ainda ter de ir para casa tarde da noite. Fora o custo de bancar três imóveis”, conta o morador.

Essa proximidade, é claro, também tem seus contras. “Nem sempre dá para dividir bem as coisas. Já me peguei consertando carro em pleno domingo”, diz Tiago. “Mas, como amo o que faço, não vejo problema. O ganho em qualidade de vida é tamanho que vários alunos falam em adotar esse modelo quando abrirem seu negócio.”

Casas híbridas (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Sala de aula | Tiago juntou suas atividades no mesmo teto para otimizar o dia a dia corrido. Até academia montou no prédio (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

2. Galeria particular
A artista plástica Sarita Anne Roysen e o marido, o fotógrafo francês François Marcos Leriche, encontraram um jeito original de dar mais visibilidade às obras que criam individualmente e em dupla: montaram sua própria galeria.

Porém, em vez de comprar ou alugar um prédio, distribuíram as pinturas e as fotos pelo apartamento tríplex onde vivem com o labrador Booboo, em São Paulo. “Aqui, apresentamos nosso trabalho e nosso jeito de trabalhar, pois as pessoas têm a chance de conhecer o acervo e visitar o estúdio do François e meu ateliê.

Casas híbridas (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Estúdio fotográfico | François em seu espaço de trabalho, no segundo pavimento, depois de tomar café da manhã junto com a mulher no primeiro piso (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Geralmente marcamos esses encontros no fim da tarde para já abrir um vinho e emendar num happy hour”, diz Sarita. Quando teve a ideia, o casal chamou a arquiteta Nicole Finkel, que em seis meses de reforma — com a colaboração do engenheiro civil Gabriel Camargo nos cálculos estruturais — adaptou os 190 m² do apê à nova rotina.

Sala, cozinha e quartos ficam no primeiro dos três pavimentos; o piso do meio é território do fotógrafo, e a cobertura, da pintora. Uma entrada independente no segundo andar permite levar os clientes diretamente ao estúdio, sem passar pela área íntima. Mas os moradores quase não a usam. “Gostamos de abrir a casa”, conta Sarita.

Casas híbridas (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Dupla função | Como a cozinha é usada para reuniões, a bancada de granito, da Portobello, tem cadeiras de escritório da Herman Miller. À dir., o labrador Booboo (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Casas híbridas (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Em vez de comprar ou alugar um prédio, distribuíram as pinturas e as fotos pelo apartamento tríplex onde vivem com o labrador Booboo, em São Paulo (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

3. Cozinha e papo aberto
Quando resolveu deixar Paris em 2016 para morar com a namorada em São Paulo, o chef carioca Antonio Mendes queria mostrar sua cozinha autoral, porém sem abrir um restaurante. “Nunca havia trabalhado na área no Brasil. Como não conhecia fornecedores nem pessoal de apoio, dificilmente daria certo montar um negócio na época”, lembra. 

Daí a ideia de receber pequenos grupos em seu apartamento, no Jardim Paulista. Antes de pensar o menu, foi preciso preparar o espaço, missão entregue à arquiteta Maria Clara Spyer. No projeto, a cozinha e a sala de jantar foram separadas apenas por um balcão — usado principalmente pela turma que curte puxar conversa com o chef. O papo flui tão bem que parte dos clientes acabou se tornando amiga do anfitrião. “Depois que sirvo a sobremesa, sentamos para beber um vinho e seguir o assunto”, diz.

Casas híbridas (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Conversa animada | O fogão colocado na bancada de frente para o balcão de refeições facilita a troca de ideias e de dicas culinárias. “Sempre aprendo alguma coisa com quem vem jantar aqui”, garante o chef (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Os anos de experiência nesse formato trouxeram um aprendizado. “Costumava agendar muitos eventos seguidos, e isso interferia na nossa privacidade”, conta. Hoje, o chef dá intervalos maiores entre os encontros, que pretende manter esporadicamente quando tiver seu restaurante, previsto para 2020. “Algumas das pessoas que vêm aqui preferem esse clima de intimidade que só um jantar em casa traz.”

"Adoro poder conversar com os clientes enquanto cozinho.""

Antonio Mendes
Casas híbridas (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Poucos e bons | A mesa oval da Ondo acomoda 10 pessoas nas cadeiras da Sun House, e o balcão, mais três. “Já aconteceu de reunirmos 15 convidados quando são pessoas bem próximas e que não se importam, mas fica apertado”, diz Antonio (Foto: Christian Maldonado / Editora Globo)

Área de espera. Quem chega cedo aguarda os demais na sala de estar. Sofá da Artefacto e poltronas da Madeira Bonita (Foto: João Paulo Oliveira / Divulgação)

Área de espera. Quem chega cedo aguarda os demais na sala de estar. Sofá da Artefacto e poltronas da Madeira Bonita (Foto: João Paulo Oliveira / Divulgação)