• Texto Cíntia Bertolino
Atualizado em
Lírio-do-brejo, trevo-azedinha e azedinha: três PUNCs saborosas  (Foto: ThinkStockPhotos)

Lírio-do-brejo, trevo-azedinha e azedinha: três PANCs saborosas (Foto: ThinkStockPhotos)

Valdely Kinupp: “A gente se acomoda. Sequer usamos as PANCs para alimentar os animais” (Foto: Divulgação)

Valdely Kinupp: “A gente se acomoda.
Sequer usamos as PANCs para
alimentar os animais”
(Foto: Divulgação)

O mato que cresce entre o asfalto, na guia da calçada e na horta nunca foi desinteressante para Valdely Kinupp. Filho de agricultores, o botânico fluminense é o autor de Plantas Alimentícias Não Convencionais (ed. Instituto Plantarum), escrito em parceria com o agrônomo Harri Lorenzi. Em seu livro, Kinupp reuniu informações sobre 352 espécies de daninhas comestíveis, as chamadas PANCs (plantas alimentícias não convencionais), que vêm despertando cada vez mais a atenção de chefs e cozinheiros curiosos – beldroega, lírio-do-brejo e outros nomes diferentões já podem ser vistos no menu de restaurantes como D.O.M. e Maní. Além de referências botânicas, o livro conta com receitas para incentivar o consumo desses ingredientes. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, Kinupp falou com Casa e Comida sobre as PANCs:

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O que pode ser considerado PANC?
PANC é toda planta comestível que não é comum, seja ela silvestre (da mata) ou espontânea (que surge em meio à plantação ou jardim). Algumas variedades de urtiga, por exemplo, são PANC.

Como identificar essas plantas?
Não existe uma regra, porque há plantas peludas, plantas fedidas que são comestíveis, mas outras que não são. Tudo foi mato um dia, até que as pessoas descobrissem o que se podia comer. A dificuldade é que somos todos analfabetos botânicos; não sabemos nada sobre plantas. No livro, ensinamos como reconhecer, colher, preparar e cozinhar. São receitas simples, para o dia a dia.

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Por que é importante incentivar o consume das PANCs?
Quando consumimos sempre as mesmas espécies convencionais, ingerimos os mesmos nutrientes e vitaminas. As PANCs podem ajudar a quebrar essa monotonia do mercado e do que levamos para a mesa. Precisamos variar o consumo de frutas e verduras. Mas a gente se acomoda e consome pouquíssimas espécies – sequer usamos essas plantas para alimentar os animais.

Os agricultores estão familiarizados com essas plantas?
Muitos desconhecemque plantas espontâneas que crescem entre as plantações são comestíveis. Visitei recentemente plantações em Teresópolis (RJ) e vi, entre pés de alface, a serralha, o picão-preto e outras plantas consideradas ervas daninhas. Mas todas eram comestíveis.

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Por que ignoramos tantas variedades disponíveis para o consumo?
Um motivo é o medo de comprar uma verdura e não saber prepará-la. Mas a principal razão ainda é a falta de oferta. Os agricultores precisam começar a produzir para que essas plantas cheguem até a feira.

Como mudar esse cenário?
Talvez daqui a 10 ou 15 anos já possamos ver uma grande mudança nesse cenário. Algumas medidas podem ajudar a iniciar uma grande revolução, como colocar PANCs no cardápio da merenda escolar, por exemplo.

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Quais variedades seriam mais viáveis comercialmente?
Para o Sul-Sudeste, por exemplo, penso na serralha e em uma fruta formidável, o jaracatiá. Na Região Norte há uma infinidade de castanhas, como a do Maranhão, o amendoim de árvore. Tem muita coisa que precisa ser descoberta.