Estudo de caso sobre o Flamengo: o futebol do clube deveria se tornar uma SAF?
Fonte: Lance

Estudo de caso sobre o Flamengo: o futebol do clube deveria se tornar uma SAF?

Este artigo é sobre gestão e finanças estratégicas; não é sobre futebol.

Vou mostrar no artigo que sim, o futebol do Flamengo deveria se tornar uma SAF,  um caminho menos atribulado para melhorar significativamente a qualidade de gestão do esporte. 

Quem me conhece um pouquinho sabe como eu adoro futebol e como minha paixão pelo Flamengo está presente na minha vida.

Quando me mudei para São Paulo em 1989, me distanciei fisicamente do Flamengo, mas a paixão permaneceu e se tornou ainda mais forte.

Entre o fim da Era Zico no fim da década de 1980 e o início do turnaround financeiro em 2013, ser Flamengo gerava mais angústia e tristezas do que alegrias; mais ameaças de rebaixamento do que títulos.

Com a posse do Presidente Eduardo Bandeira de Mello em 2013, o clube começou um processo de reestruturação financeira que tinha como principal objetivo a redução da dívida do clube que na época era de R$750 milhões.

Ao fim do segundo mandato de Bandeira de Mello, a dívida era de R$455 milhões.

Assume então Rodolfo Landim, tendo muito mais flexibilidade para investir no futebol, dada a queda da alavancagem do clube.

Recentemente, foi anunciado o resultado financeiro do Flamengo em 2023.

O clube registrou uma receita bruta de R$1,4 bilhões e a dívida líquida no fim do ano era de apenas R$48 milhões.

Os resultados esportivos desde 2019 tem sido muito bons, com 2 títulos do Campeonato Brasileiro Série A, 2 Copas Libertadores e 1 Copa do Brasil.

Entretanto, muitos torcedores e profissionais do setor questionam se, considerando a situação financeira que o clube se encontra, que é muito melhor que a da maioria dos demais clubes Brasileiros, os resultados do Flamengo nos gramados deveriam ser ainda melhores.

Eu sou daqueles que acredita que o desempenho esportivo do futebol do Flamengo deveria ser ainda melhor, em função de suas vantagens financeiras.

Mais recentemente, começou-se a aventar a possibilidade de o Flamengo transformar seu futebol em SAF, Sociedade Anônima de Futebol.

Muitos analistas são contra, argumentando que o Flamengo não precisa virar SAF pois não precisa de dinheiro de investidores.

Discordo...

Acredito que a transformação em SAF melhoraria em muito a gestão do futebol do Flamengo, que tem deixado a desejar mesmo depois de 2013, quando gestões ditas profissionais assumiram a direção do clube.

Algumas das questões que percebo de fora, que sinalizam espaço considerável para a melhoria da gestão:

1.      Trocas constantes de treinador, com custos elevados de rescisão;

2.      Investimento elevado em várias contratações de jogadores com retornos esportivos abaixo do esperado;

3.      Incapacidade e/ou falta de vontade de resolver algumas carências de elenco crônicas;

4.      Um departamento de scout que, das duas uma: ou não é consultado em contratações ou não traz ideias interessantes de jogadores menos badalados, jovens e com potencial de ter seus valores de mercado multiplicados ao longo do tempo;

5.      Falhas de planejamento de temporada e de elenco;

6.      Diversos resultados e atuações vexatórios se considerarmos o investimento que o clube tem feito no futebol.

Já está mais do que na hora de se profissionalizar o departamento de futebol.

A atual direção já demonstrou que até o fim do atual mandato, em dezembro de 2024, isso não irá acontecer.

Dependendo de quem ganhar as eleições no fim de ano, existirá, ou não a probabilidade de a profissionalização do futebol ocorrer a partir de 2025.

Entretanto, para evitar depender do cenário político do clube, me parece que a melhor solução seria a criação de um SAF, com o compromisso formal de se profissionalizar o departamento de futebol do Flamengo.

Acho que a melhor estrutura para SAF do Flamengo é a venda de uma parcela minoritária (abaixo de 50% do capital), com listagem das ações da SAF em Bolsa, visando colocar a SAF sobre a influência da Lei das S.A.

O IPO da SAF deveria ser feito através de uma operação primária, com os recursos levantados ficando na empresa e com o uso dos recursos determinado pelo Conselho de Administração (CA) da SAF.

Eu diria que o CA da SAF deveria ter pelo menos 5 membros, com no máximo 2 deles sendo apontados pelo controlador (Flamengo Associativo).

Os recursos levantados seriam provavelmente usados na construção do estádio próprio do Flamengo, um objetivo que tem o apoio da atual administração e dos torcedores de um modo geral.

A consultoria de esportes Sports Value divulgou um estudo com o valuation dos 30 maiores clubes Brasileiros.

Com base nesse estudo, que considera o valor dos ativos circulante e fixos, além do valor dos intangíveis como os jogadores e investimentos na formação de novos jogadores, a franquia Flamengo foi avaliada em R$4,5 bilhões.

Com base neste valuation, se a SAF Flamengo fizesse um IPO primário para levantar R$1,5 Bilhões, o percentual a ser vendido seria de 25% pós money.

Acredito ser necessário se realizar um valuation com base no fluxo de caixa descontado, dado que a possível construção de um estádio próprio, se bem implementada, tem potencial de criar valor ao longo do tempo.

Adicionalmente, a própria decisão de se criar a SAF, com a melhora na estrutura de governança do esporte do clube, deveria ter impacto positivo no potencial de criação de valor.

Como ilustração, segue uma comparação dos desempenhos financeiros do Flamengo com o inglês Manchester United, que é listado em Bolsa, com free float de 22%, e que em 15/04/24 estava com um valor de mercado de US$2,45 bilhões, algo próximo a R$13 bilhões de Reais.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apesar do seu post ser sobre Finanças, a gente sempre tende a falar sobre futebol. E também neste ponto, o seu post foi feliz pois coincide bem com o que penso. Acredito que a situação atual (de receita elevada) acaba proporcionando gastos sem a devida noção de valor e sem o cuidado de proteger o patrimônio (se der errado, demite e contrata outro). Contratações (e demissões) são feitas como se fosse numa mesa de bar (e sem consultar o scout) e as vaidades se digladiam para mostrar quem tem mais poder. Apesar de ser uma analise do lado de fora, deve ser por aí. O profissionalismo se faz necessário no clube mas também nas organizações de futebol do país. Por exemplo, não para comprar um jogador por R$ 50 milhões e colocá-lo para jogar num gramado cheio de areia e buraco.

Volmar Machado

CIO | CTO | Transformação Digital | Mentor Executivo | Professor |

2 m

Sergio Goldman sendo SAF, conforme a sua análise o Flamengo irá melhor muito, e aí o meu time vai sofrer 😀

Entre para ver ou adicionar um comentário

Conferir tópicos