O Pátria fechou a venda da farmacêutica Natulab, aceitando perdas para encerrar um investimento de insucesso da carteira. O comprador foi o fundo Pettra, liderado por Ronnie Motta, ex-presidente da Bombril, com capital de um grupo de empresários do setor de mineração e petroquímica.
O Pettra assumiu a companhia com dívida bancária da ordem de R$ 240 milhões, segundo credores, comprometeu-se a uma injeção de caixa na farmacêutica e vai pagar ao Pátria uma debênture que está na carteira do fundo, emitida para capitalizar a farmacêutica.
Além de congelar juros na debênture, o acordo prevê que o desembolso ao Pátria só começa daqui a três anos e será escalonado ao longo de outros três anos, apurou o Pipeline. No último balanço anual do fundo, as debêntures tinham saldo de R$ 220 milhões, praticamente o valor contábil da companhia, marcada a R$ 246 milhões em 2022, conforme documento da administradora BRL Trust - já um ajuste frente aos R$ 388 milhões apontados como valor justo da empresa em 2020.
A quitação desse saldo pelo Pettra ao Pátria pode ser reduzida, conforme contingências. A estimativa do mercado é que, desde 2012, quando comprou a operação, o Pátria tenha desembolsado pouco mais de R$ 450 milhões na companhia, entre equity e dívida, corrigidos. Procurada, a gestora não comentou.
Os sócios estrangeiros que tinham fatia minoritária da farmacêutica aderiram à venda. O formato da transação reduz de imediato as despesas financeiras da Natulab.
Assessorada pelo Santander, a farmacêutica vinha buscando um novo sócio há meses. A companhia chegou a avançar em conversas com a Blau Farmacêutica no ano passado, mas a Blau desistiu da compra, e a empresa passou a buscar outros fundos de private equity, farmacêuticas e também fundos de special situations.
![Ronnie Motta, ex-Bombril, tornou-se sócio do Pettra, novo acionista da Natulab — Foto: Valor](https://cdn.statically.io/img/s2-pipelinevalor.glbimg.com/R7e1Fxq0LR6QFmgoYeN1rH6Gos4=/0x0:3840x2560/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b3309463db95468aa275bd532137e960/internal_photos/bs/2024/7/2/BuKnZxTwG3B59D9QFE7A/050424ronniemota015.jpg)
A companhia tem uma fatia representativa de mercado: é, por exemplo, uma das líderes em dipirona, com o Maxalgina, e o calmante fitoterápico Seakalm. É a quarta maior indústria farmacêutica do mercado em volume de unidades vendidas. Mas, para sair do prejuízo em que se meteu, precisava de um novo aporte financeiro - o que o Pátria não estaria disposto a fazer, dado o ciclo do fundo em que o ativo estava. Segundo credores, o resultado da companhia é negativo em milhões, mesmo com receita de quase meio bilhão.
A necessidade da farmacêutica acabou casando com a busca do Pettra por uma vertical de bens de consumo. “A companhia é a quarta maior do mercado de OTC em volume de unidades vendidas. Há diversas oportunidades de ganhos de sinergia com a estrutura do grupo comprador e com o potencial das marcas”, disse Motta ao Pipeline. Ele topou falar sobre a nova casa e estratégia de negócio, mas não comenta sobre a transação com o Pátria ou a composição societária do Pettra.
Motta é o sócio responsável por essa nova vertical, mas Guilherme Maradei, o ex-P&G que chegou para o turnaround há cerca de três anos, continua como presidente da Natulab. A farmacêutica nasceu em Santo Antônio de Jesus, na Bahia, onde está sua fábrica, com atuação em genéricos e fitoterápicos, e um centro de distribuição com 55 mil m2 (o outro CD da empresa está alugado para terceiros).
“São 150 SKUs na Natulab, sendo que 46 estão no top 3 de suas categorias e 16 destes são líderes. Produto e marca já temos”, diz Motta. A companhia também tem capilaridade nacional, mas precisa ganhar penetração nas grandes redes. “Hoje 80% do que a Natulab vende vai para pequenas redes, farmácias de bairro, e estamos trabalhando para ganhar espaço nas grandes drogarias”, emenda.
Motta fez carreira em companhias ligadas a bens de consumo, com passagem por Cadburry (hoje do grupo Mondelez), Natura e diferentes posições estratégicas na Bombril, empresa pela qual guarda certo afeto já que ajudou a virar o jogo na tradicional indústria de limpeza. Uma das primeiras intervenções no Pettra foi na cozinha, trocando o detergente de outra marca pelo produto da antiga casa - “aquele outro lá resseca a mão”, disse, ao aceno afirmativo da funcionária da copa.
Mas o momento - da empresa e do executivo - agora é outro. “A reestruturação da Bombril foi concluída e aqui o desafio é formar essa nova operação e poder fazer parte como sócio desde o início”, diz ele. O Pettra planeja outras aquisições na vertical, mas quer dar um gás na Natulab primeiro.