A cidade de barro: US$ 64 bilhões para uma Beverly Hills saudita

País do Oriente Médio quer entrar na lista de turismo internacional e Diriyah é um dos principais projetos


Jerry Inzerillo, CEO da Diriyah Company, é responsável por colocar uma cidade de pé no miolo de Riad. Diriyah foi o berço da Arábia Saudita e agora está sendo transformada em uma vizinhança cultural e luxuosa - ou uma cidade dentro da cidade, como Beverly Hills em Los Angeles, define o CEO que tem um orçamento de mais de US$ 60 bilhões. Um "giga projeto" financiado pelo fundo soberano PIF. É um dos esforços do país para fomentar o recentemente autorizado turismo de lazer.

O senhor está à frente de um dos projetos mais ambiciosos da Arábia Saudita, que é criar um novo destino. Qual o tamanho deste desafio?

Há 300 anos a primeira capital da Arábia era chamada Diriyah. E agora o rei Salman e o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman querem que pessoas do mundo todo venham ver onde a Arábia começou, o que inclui onde a família deles começou. Diriyah é um patrimônio da Unesco, é o berço do reino no meio de um oásis, e queremos que as pessoas venham ver a autêntica cultura saudita, comida, música, como no Brasil, dança, vestimentas.

A cidade de barro vai se transformar em destino cultural e de luxo — Foto: Reprodução

Pode nos dar alguns detalhes e números do projeto para conseguirmos visualizar isso?

Muitas pessoas conhecem a cidade americana Los Angeles. Tem uma pequena e famosa cidade em Los Angeles chamada Beverly Hills. Uma cidade numa cidade. Então Riad agora está sendo reimaginada como uma nova metrópole que vai passar de 8 milhões de pessoas para 15 milhões de pessoas. Mas há 300 anos, quando construíram Diriyah, fizeram a partir de barro, árvores, palmeiras, muito bonita, orgânica. Então agora, da mesma forma que Beverly Hills é para Los Angeles, Diriyah está no meio de Riad. Enquanto a capital é super moderna, Diriyah é feita do mesmo material, da mesma lama, das mesmas árvores, no meio do mesmo oásis. Se você imaginar uma linda cidade, ambientalmente sustentável, onde pode caminhar para hotéis, restaurantes, ir à escola, morar, trabalhar.. Essa é a joia, a cidade de terra.

Será um destino cultural, um destino de luxo, como definiria?

É feita para ser uma das maiores cidades adequadas a pedestres, sustentável, cultural. Vamos trazer o que há de melhor da Arábia em 300 anos e ser otimistas sobre o futuro, e o turismo é uma grande parte disso. Reúne as pessoas, e os sauditas são calorosos anfitriões, como os brasileiros. Mas hoje não somos abertos ao turismo. O Brasil, o Rio, tem 500 anos, e nós temos 300 anos mas ninguém sabe porque só em 2019 nós começamos a abrir o país para lazer [até então eram permitidas viagens internacionais em grupos com foco religioso]. Somos abençoados porque somos custodiastes de duas cidades sagradas, Meca e Medina. Então se você é muçulmano é a honra da sua vida peregrinar nas cidades sagradas. Agora estamos mudando, não mudando mas crescendo as cidades para passar de 16 milhões de turistas peregrinos para 30 milhões, que vão contribuir com 115 milhões de visitas em 2030.

Jerry Inzerillo, CEO da Diriyah Company, esteve no Rio no FII Priority

Quão grande é esse projeto, 50, 60 bilhões de dólares? E qual o cronograma?

São 14 quilômetros quadrados. Uma pequena cidade cultural - não tão pequena - de US$ 64 bilhões para restaurar a antiga cidade e trazer hotéis, restaurantes, varejo, casas. Esperamos atrair mais de 30 milhões de visitantes para Diriyah até 2030. Acabamos de consertá-la, restaurá-la, e em dezembro de 2022 já recebemos 2 milhões de visitantes em Diriyah. Seremos a casa da World Expo em 2030 e as pessoas virão do mundo todo para Diriyah, para Riad, para Meca, Medina, o reino da Arábia Saudita, o belo mar vermelho, belos resorts, como vocês têm no Brasil, o maior deserto de areia do mundo, sete patrimônios mundiais da Unesco. Há muita coisa para fazer na Arábia Saudita.

O senhor comentou que estava de volta, então conhecia o Brasil?

Minha primeira viagem ao Brasil foi para o Rio de Janeiro, em 1978 - mas não conte a ninguém a minha idade, ok?

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