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A opinião do GLOBO.

Por Editorial

Em meio às turbulências da política, passou quase despercebida uma grande notícia para o Rio, para o Brasil e a cultura nacional: o anúncio da construção do novo Canecão, que sucederá a histórica casa de espetáculos, fechada em 2010 depois de uma longa batalha judicial dos inquilinos com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dona do espaço em Botafogo, Zona Sul do Rio.

Com um lance de R$ 4,35 milhões e ágio de 596%, o consórcio Bonus-Klefer venceu o leilão organizado pela UFRJ e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para erguer o novo prédio, cuja inauguração está prevista para 2025.

O novo Canecão será construído no campus da UFRJ na Praia Vermelha, perto de onde funcionva o antigo. Deverá ter pouca semelhança com o original. O projeto é fazer um espaço multiúso de 15 mil metros quadrados com estrutura para shows, musicais e peças de teatro. O consórcio vencedor promete investir R$ 184,3 milhões na concessão, válida por 30 anos. A nova casa deverá ter capacidade para 3 mil espectadores. O pacote inclui também a construção de 70 salas de aula, refeitório, sala para exposições científicas, um parque aberto e a restauração de um painel de Ziraldo que decorava a fachada da antiga casa. O projeto final ainda será submetido à aprovação da universidade.

Aberto em 1967 como cervejaria, o Canecão foi transformado em casa de espetáculos dois anos depois. Ao longo de décadas, se tornou referência na cidade e no país. Por seu palco passaram atrações internacionais e os maiores nomes da MPB. A relação com a universidade sempre foi conflituosa. As disputas levaram ao fechamento definitivo. Desde 2010 o prédio se degrada.

No dia do leilão, alunos e funcionários fizeram um protesto e chegaram a interromper o certame por uma hora. Alegam não ter sido ouvidos sobre a proposta. A UFRJ argumenta que a concessão, aprovada pelo Conselho Universitário, foi amplamente discutida com a comunidade. Discordâncias fazem parte do jogo democrático. Os pontos positivos da iniciativa, porém, excedem em muito os negativos. O principal é devolver ao Rio um de seus maiores palcos. A universidade, cujo orçamento não supre sequer as necessidades básicas, não dispõe de recursos para reerguer o Canecão, muito menos para mantê-lo. Nada mais natural do que recorrer à iniciativa privada.

Todos ganharão. A UFRJ receberá novas instalações sem precisar gastar o dinheiro que não tem. Os empresários administrarão um espaço multiúso numa área privilegiada. A cidade e o país terão de volta um palco que fez história. O meio cultural disporá de instalações modernas para espetáculos. E o público recuperará o velho endereço. Todos perderiam se o velho Canecão continuasse fechado, sofrendo degradação lenta e constante.

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