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A opinião do GLOBO

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Por Editorial

No final de dezembro, o craque Vinicius Jr. sofrera uma abjeta agressão racista da torcida adversária em jogo do Real Madrid contra o Real Valladolid. As autoridades determinaram punição: multa individual de € 4 mil e proibição de comparecer a estádios durante um ano. Não adiantou. Na madrugada de 26 de janeiro, antes do clássico entre o Real e o Atlético de Madrid, torcedores simularam o enforcamento de Vini Jr. usando um boneco inflável e a cabeça coberta por capuz, como fazia a organização racista Ku Klux Klan nos Estados Unidos. A polícia de Madri revelou que foram encontrados digitais e traços de DNA no boneco e, nas câmeras de segurança, placas de veículos suspeitos. O crime ao que tudo indica será elucidado. É preciso haver punição à altura.

Vini Jr. seguiu a trajetória das poucas crianças negras brasileiras que, jovens, conhecem a fama. Foi para a Europa aos 18 anos, assinou contrato milionário em euros e alcançou padrão de vida jamais sonhado por garotos das favelas. Descoberto pelo Flamengo, desde 2018 joga no Real Madrid e defendeu a Seleção na Copa do Catar. Mas seu sucesso não impede que tenha de enfrentar uma das chagas mais profundas e persistentes da Europa.

Ao longo da história, a Espanha de Francisco Franco e a Itália de Benito Mussolini foram os territórios mais ameaçadores para atletas negros e judeus. Mussolini torcia pela Lazio, de Roma. Até hoje torcedores do time fazem a saudação nazifascista. Nos anos de 1990, o clube comprou o passe do holandês Aron Winter, negro e descendente de judeus. Durante quatro anos, Winter ouviu xingamentos da própria torcida, que chegou a brandir faixas com suásticas nos estádios.

O racismo também está presente nos estádios brasileiros. Em 2021, houve 64 registros de agressões racistas, de acordo com o portal ge. De janeiro a agosto do ano passado, segundo o Observatório de Discriminação Racial, o número de 2021 já havia sido alcançado. Outras agressões envolvem homofobia e xenofobia. O juiz teve de paralisar uma partida recente entre o Barcelona de Ilhéus e Bahia por causa de xingamentos homofóbicos contra um jogador do Bahia. O técnico iraniano Koosha Delshad, radicado no Brasil há mais de dez anos, logo na partida de estreia pelo Comercial do Piauí passou a ser chamado de “terrorista” depois de uma derrota. Delshad pediu demissão.

São bem-vindas atitudes como a do Vasco da Gama, cujas torcidas organizadas — antes em evidência pela homofobia em partida contra o São Paulo — repudiaram no ano passado os cantos homofóbicos. Ou as diversas iniciativas para lembrar o Holocausto e repudiar o preconceito entre os clubes brasileiros. Mas só isso não basta. As punições chegam no máximo à perda do mando de campo. Deveriam ser mais duras, em particular para casos revoltantes como o de Vini Jr. O mais importante, contudo, é que federações, clubes e torcedores deixem claro a todos os presentes nos estádios que racismo, homofobia ou qualquer forma de preconceito são inaceitáveis, não serão tolerados e precisam ser punidos.

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