Patrícia Kogut
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A estreia do remake de “Renascer” esta semana na Globo foi marcada por um sentimento de reconexão. É a volta das paisagens maravilhosas da floresta de que o público quase sente o perfume, do coronelato, dos personagens que vêm a cavalo e dialogam com o vento, com as árvores e com os perigos. E também daqueles sintagmas que acompanham tudo isso: vilões sendo chamados de “marditos”, prostitutas, de “quengas” e a cachaça, de “marvada”. A julgar pelo primeiro capítulo arrebatador, uma palavrinha curta — mas que diz muito para o público — resume o que se viu na tela: novelão.

Essa sensação de reconexão tem múltiplas origens. Primeiro, porque o espectador brasileiro se identifica de cara com todos esses signos da sua identidade. Depois porque a última trama encantadora a esse ponto a que assistimos foi “Pantanal”. Finalmente, por mais um ponto fundamental que liga as duas histórias. Ambas são adaptações certeiras da obra de Benedito Ruy Barbosa, com a assinatura do neto dele, Bruno Luperi. O jovem autor, é preciso dizer antes de seguir com essa crítica, tem um profundo entendimento do texto que recebeu. Ele sabe dialogar com o passado projetando sua história para os dias atuais. Isso não significa apenas tratar de assuntos contemporâneos — embora ele faça isso. Mas também de produzir histórias modernas, com cenas mais curtas do que o melodrama de 30 anos atrás.

“Renascer” tem os ingredientes clássicos da teledramaturgia e aposta na inteligência do público. Então, é reiterativa, mas nem tanto. Luperi foi expondo seu enredo com clareza, porém evitou aqueles didatismos tatibitate. Os diálogos cheios de bom-frasismo nunca pareceram falsos. “Frases oraculares” fizeram a ação avançar, um recurso muito bem aplicado. Então, certos personagens iam prevendo o que aconteceria logo adiante, ou mesmo no futuro distante. Foi o caso de José Inocêncio anunciando seu destino e o do jequitibá que encontrou na mata (“enquanto esse punhal estiver cravado, não morreremos de morte matada ou de morte morrida”). Alguém dizia, por exemplo, “fulano vai voltar”, ou “a hora dele não é essa”. Por aí foi.

Maria fernanda Candido — Foto: TV Globo
Maria fernanda Candido — Foto: TV Globo

A direção de Gustavo Fernández é brilhante. Uma prova é a condução dos atores, que não escorregaram para o artificialismo nem quando precisaram contracenar com objetos — árvores, armas, facões etc. E por falar nos atores, o elenco dessa largada (vem outra fase aí) mostrou talento de sobra. Destaco Humberto Carrão (José Inocêncio), Enrique Diaz (Coronel Firmino), Maria Fernanda Cândido (Cândida, uma participação breve, mas marcante), Chico Diaz (Padre Santo), Juliana Paes (Jacutinga), Fábio Lago (Venâncio) e Antônio Calloni (Belarmino). E antes que o espaço termine, é preciso fazer um elogio grande à direção de fotografia de Fabrício Tadeu, à cenografia de Fábio Rangel e ao figurino de Marie Salles. “Renascer” promete muito.

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