Patrícia Kogut
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“True detective” voltou à HBO Max depois de um longo hiato e merece toda a sua atenção. Mais uma vez, essa produção de antologia promete se inscrever entre as melhores tramas do gênero. “Terra noturna” — subtítulo dessa quarta temporada — nos transporta para a fictícia cidadezinha de Ennis, no Alasca. O lugar é um deserto glacial. O som é o do vento, que varre tudo e carrega flocos de neve quase o tempo inteiro. Não se vê a luz do Sol, estamos em dezembro. Contudo, já nas primeiras cenas, dá para notar que não é a imensidão vazia que interessa à direção e ao roteiro brilhantes de Isa López. Em vez disso, mergulhamos no cotidiano pequenininho de um mundo insular. A ação se desenrola sobretudo nos ambientes internos que funcionam como abrigos para aquele “mundo lá fora”, hostil, de temperaturas negativas inclementes.

A partir do primeiro minuto, a carga de suspense é equivalente à dose de angústia que a trama causa. Esse, leitor, é um daqueles casos em que o espectador, além de roer as unhas, se sente invadido por uma aflição constante. Serão seis episódios.

O enredo começa numa estação de pesquisa. Oito cientistas circulam no lugar iluminado por lâmpadas frias, assistem à televisão, desempenham tarefas prosaicas num ambiente de aparente normalidade. Até que são interrompidos por algum acontecimento assustador que o público ignora. E a ação é cortada para dias mais tarde, quando o lugar é encontrado vazio e desordenado por um entregador que trazia correspondência e algumas provisões. No chão, embaixo de uma mesa, ele avista uma língua humana decepada.

Kali Reis (à esquerda) e Jodie Foster em “True detective: terra noturna” — Foto: Divulgação
Kali Reis (à esquerda) e Jodie Foster em “True detective: terra noturna” — Foto: Divulgação

É assim que as detetives Liz Danvers (Jodie Foster) e Evangeline Navarro (Kali Reis) entram em ação. Aqui vou fazer um parêntese para um elogio entusiasmado às atrizes. Jodie Foster afirmou em entrevista que esse é seu melhor trabalho desde “Hannibal”. É mesmo. Suntuosa, constrói sua personagem nos detalhes. A policial é uma veterana e a atriz não posa nem se notam filtros. Ao contrário, ostenta as rugas para a câmera. E elas ajudam a aprofundar a credibilidade do que ela entrega em cena. Kali Reis faz seu complemento lato sensu. É jovem, está lá há menos tempo, e tem um envolvimento emocional com um caso de assassinato anterior que Danvers não tem. Ela é da comunidade local Iñupiat, diferentemente de Danvers. Juntas, as atrizes crescem. Separadamente, brilham também. O enredo tem tramas secundárias igualmente atraentes. Uma delas é a relação conturbada entre Danvers e sua enteada, Leah (Isabella Star LaBlanc). Fim do parêntese.

A vida insular dos personagens impõe um intimismo às vezes incômodo. É como se a série mandasse um recado subliminar constante de que não daria para ser de outro jeito: aquele ambiente só poderia ser retratado assim, é um lugar dominado pelo frio e pela escuridão. É difícil se movimentar em meio a nevascas. Os figurinos, casacos pesados, também colaboram para essa sensação. Não perca.

Mais recente Próxima 'A grande ilusão', na Netflix, tem trama mirabolante, mas prende até o fim. Cotação: 3 estrelas (razoável)