Patrícia Kogut
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O espectador das séries de detetives — falo das boas e das ruins — está acostumado a certos esquemas. Há sempre um personagem com um passado nebuloso; um policial que por alguma razão cai em descrédito na corporação e passa a trabalhar por conta própria, contra tudo e contra todos; e algum espião que entrega a investigação para os inimigos. E também, claro, não dá para deixar de citar: tem sempre os jornalistas que mais parecem urubus e assediam as vítimas de crimes, nunca são personagens positivos. Esse modelo de roteiro americano se internacionalizou e se generalizou. Mas, quando a trama é produzida num país distante, ela fatalmente acaba refletindo a cultura local e ganha originalidade. Isso ajuda a desmanchar os esquemas.

Acontece com a polonesa “Detetive Forst”, lançada pela Netflix.

Não a recomendo hoje por achar que seja uma grande produção. Não é. Mas porque ela prende a atenção até o fim, além de apresentar cenários muito diferentes daqueles que o público costuma ver na tela. E é isso que encanta.

A ação se desenrola num pequeno vilarejo nas montanhas de Tatra. A cordilheira nevada separa a Polônia da Eslováquia. Lá vivem os povos gorais — e aprendi isso na série. São camponeses acostumados às baixas temperaturas da região, e considerados corajosos. Há belas cenas de música e dança locais. Nesse lugar remoto e aparentemente pacífico, começam a aparecer cadáveres. Os corpos têm sinais de violência e são sempre dispostos de maneira teatral, amarrados com nós especiais. Eles estão invariavelmente acompanhados de uma moeda romana (um aureus), enfiada na boca. Esses sinais indicam, claro, um matador em série. É assim que entra em cena o detetive Wiktor Forst (Borys Szyc). Na corporação, ela é considerado um ás na solução de crimes difíceis. Apesar da grande vocação profissional, chegou à cidadezinha transferido por ter tido problemas num caso anterior. É visto com desconfiança por alguns colegas.

Na cena do crime onde a polícia acha o primeiro corpo, é abordado por uma jornalista. Olga Szrebska (Zuzanna Saporznikow) se alia a ele e passa a participar da investigação.

O enredo alterna suspense, romance e tensão sexual. O primeiro episódio se arrasta, mas, a partir do segundo, a trama engrena e o espectador se engaja numa aventura intrincada, que envolve uma vingança contra colaboracionistas dos nazistas e seus descendentes, disputas de poder na polícia, traumas de infância malresolvidos, entre outros ingredientes.

A realização tem problemas. Falta harmonia entre a direção — Daniel Jaroszek e Leszek Dawid — e o roteiro —Agata Malesinska e Jacek Markiewicz . As cenas estetizadas demais ganham uma disputa constante com a intenção simples de contar a história. Há muitas sequências de ação e elas poderiam ter eletricidade. Isso não acontece porque elas parecem ter sido enxertadas artificialmente, a serviço só do exibicionismo da direção de fotografia.

Essa é uma daquelas séries que levarão o espectador a pesquisar para compreender seu desfecho. “Entenda o final de ‘Detetive Forst’”, aliás, aparece nas primeiras buscas relacionadas a ela. Com um agravante: pesquisar não adiantará para entender certos enigmas mal explicados.

Com tudo isso, a história é a quarta mais vista da Netflix no mundo (de acordo com o “Flixpatrol.com”) e, nas redes, já há muitas especulações sobre uma segunda temporada. A ver.

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