Cemitério ancestral? Arqueólogos analisam ossada encontrada no Sambaqui Camboinhas

Terreno de construtora, na Região Oceânica de Niterói, tem vestígios de ocupação humana de cerca de sete mil anos atrás; Iphan acompanha o caso

Por — Niterói


Divulgação Arqueólogos da empresa responsável pelo estudo do terreno analisam vestígios humanos no local

A equipe técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio de Janeiro está acompanhando o estudo que irá concluir se um achado recente no Sambaqui Camboinhas, próximo à Rua Professor Florestan Fernandes, na Região Oceânica, é, de fato, uma ossada de sepultamento humano.

O terreno estava em análise desde o final do ano passado por ficar dentro de um sítio arqueológico que remonta a cerca de sete mil anos atrás. As pesquisas que estão sendo realizadas pela empresa A Lasca Arqueologia, de São Paulo, vão indicar se este é o primeiro vestígio de um cemitério ancestral na faixa em questão. A empresa VKS Imobiliária, proprietária do terreno, disse não ter o que declarar enquanto o estudo estiver em andamento.

É como se construíssem prédios em cima do Cemitério São João Batista, em Botafogo
— Anderson Marques Garcia, professor do Núcleo de Pesquisas Arqueológicas Indígenas da Uerj

De acordo com o professor do Núcleo de Pesquisas Arqueológicas Indígenas da Uerj, Anderson Marques Garcia, o achado indica um lugar sagrado para pessoas que ocuparam o território antes de o Brasil ser concebido. Garcia, que também desenvolve um projeto de campo com os alunos da universidade no Museu de Arqueologia de Itaipu, sustenta que o indício deveria ser motivo de impedimento de qualquer tipo de construção no terreno:

—É como se construíssem prédios em cima do Cemitério São João Batista, em Botafogo. No dia em que acharam este vestígio por acaso estava passando por lá e pude ver o que foi encontrado. A equipe de arqueólogos retirou o material para analisá-lo e preservá-lo de qualquer incidente

A arqueóloga do Museu Nacional Maria Dulce Barcellos Gaspar explica que os montículos de terra encontrados na Região Oceânica são os mais preservados do país. E que as conchas encontradas junto a estes pontos demonstram a intenção de preservar os corpos que eram enterrados. Pela alta concentração de cálcio, as conchas ajudam na conservação do material encontrado milênios depois:

—No início, achavam que eram um local de depósito de resíduos. Mas com o avanço dos estudos pudemos verificar que havia todo um ritual ao redor dos sepultamentos, que incluía até colocar os entes nos pontos mais altos do terreno. Os sedimentos eram colocados por cima e não enterrados, como hoje. Em termos de comparação, são como as Pirâmides do Egito.

A Lasca Arqueologia informa que os estudos estão em curso e não há conclusões científicas até o momento: “As evidências de sepultamento ainda dependem de relatórios e orientações do Iphan, pois todos os procedimentos são devidamente registrados e orientados pelo órgão”.

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