Efeito Taylor Swift: temporada de shows impulsiona setor de serviços em novembro, diz IBGE

Instituto diz que setores de alojamento e alimentação foram beneficiados pela onda de shows da cantora pop. No resultado geral, serviços financeiros auxiliares puxaram para cima o desempenho

Por — Rio de Janeiro


Show da cantora Taylor Swift no estádio Nilton Santos Alexandre Cassiano

A temporada de shows da cantora Taylor Swift em novembro, com seis apresentações entre Rio e São Paulo, ajudou a trazer o setor de serviços para o campo positivo no mês, cravando alta de 0,4% após três meses de retração. Os espetáculos puxaram não só o avanço dos serviços prestados às famílias, como tiveram um efeito de transbordamento para sobre outros segmentos da economia.

Os dados são da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE). O número veio em linha com o que analistas esperavam, considerando que a mediana das estimativas da Bloomberg foi de 0,4%. Nos últimos 12 meses, os serviços cresceram 3%.

Efeito multiplicador

Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa, explica que espetáculos como estes da cantora americana costumam ter "efeito multiplicador sobre a economia". Isso porque houve aumento não só na receita das empresas promotoras de grandes eventos.

— O fluxo de pessoas acaba movimentando uma gama de atividades. Eventos de grande magnitude trazem resultados positivos para a economia onde ocorrem. Foi assim com o The Town em setembro, por exemplo. Eventualmente, até algum aumento da atividade turística na localidade (dos shows) pode acontecer.

A onda de gastos associada à turnê mundial da Taylor Swift, que ganhou até o nome de 'Taylornomics', mostra que o efeito também se fez presente no Brasil. O movimento, que ocorre quando a cantora chega a uma cidade e os fãs lotam hotéis, restaurantes, bares e uma série de serviços, chegou até a ser notado pelo Banco Central americano, que citou os efeitos do show da cantora na economia.

Os serviços prestados às famílias foram o segmento mais beneficiado pelo aumento da demanda com os shows. Subiram 2,2% em novembro, recuperando a perda de 1,8% registrada em outubro. Dentro deste segmento, a maior influência veio do setor de bares e restaurantes, mas também houve aumento na receita das empresas promotoras de grandes eventos.

O setor de alojamento e alimentação aumentou 1,5% em novembro ante outubro, a maior alta desde setembro. A temporada de shows também trouxe reflexos positivos também no transporte aéreo e no transporte de passageiros por aplicativo nas cidades, diz Lobo:

Levantamento da Rede Itaú, empresa de meios de pagamento do Itaú Unibanco, mostra que os shows internacionais no Rio de Janeiro em novembro impulsionaram setores ligados a turismo e alimentação. Segundo Angelo Russomanno, diretor da Rede Itaú, os gastos com companhias aéreas subiu 259% no período, seguido de hotéis (55%) e restaurantes (33%).

Natalia Cotarelli, economista do Itaú Unibanco, avalia que os show têm gerado maior volatilidade nos dados de serviços, em especial dos serviços prestados às famílias.

— Vemos que em meses de shows grandes, principalmente em SP, essa subcategoria dentro dos serviços prestados às famílias costuma ter um desempenho mais forte, devolvendo parte do resultado no próximo mês. Podemos falar em efeito transbordamento, principalmente na parte de alojamento e alimentação — afirma.

Segundo a economista, o indicador diário de atividade do Itaú mostrou crescimento dos serviços prestados às famílias no mês de dezembro, mas com alguma desaceleração com relação ao dado de novembro. O banco projeta uma leve alta para o setor de serviços como um todo, mas não o suficiente para fazer com que o setor cresça no quarto trimestre.

Serviços financeiros puxa alta

O resultado de novembro foi puxado também pelos outros serviços, que cresceram pelo terceiro mês seguido, acumulando alta de 4,9% no período. Neste segmento, a expansão veio dos serviços financeiros auxiliares, com destaque para a alta nas receitas das empresas que operam maquininhas e soluções de pagamentos eletrônicos.

— Há um aumento do uso dos meios de pagamentos digitais, em detrimento do papel-moeda. E a aproximação com a Black Friday e o Natal possivelmente pode ter aumentado o número de transações, impulsionando um uso maior desses pagamentos — sugere o pesquisador.

Já os serviços profissionais, administrativos e complementares subiram 1% e tiveram a segunda maior contribuição sobre o setor no mês. Aqui, os destaques foram as atividades jurídicas e as empresas de cartões de desconto e programas de fidelidade.

Alta das passagens afeta transportes

O desempenho fraco das duas atividades de maior peso na pesquisa ajudou a segurar o resultado. O volume dos transportes caiu 1%, sendo a quarta taxa negativa seguida do setor, puxado pela queda do transporte tanto de passageiros (-2,9%) quanto de cargas (0,6%).

— Esse resultado foi influenciado especialmente pelo transporte aéreo, que caiu 16,1% em novembro, a retração mais intensa desde maio de 2022 (-18,6%). Essa queda ocorreu em decorrência dos preços das passagens, que subiram 19,12% naquele mês — diz o gerente da pesquisa.

Já os serviços de informação e comunicação, que tem peso de 23% na pesquisa, caíram 0,1%. A retração do setor de telecom acabou puxando para baixo o resultado, apesar dos serviços de tecnologia da informação (TI) terem crescido 1,3% no período.

O que esperar do setor em 2024?

Depois de um ano em que o setor de serviços se mostrou como um dos principais protagonistas do crescimento do PIB, o fim do ano de 2023 mostra a perda de fôlego da atividade. O desempenho deixa uma perspectiva de crescimento mais fraco em 2024.

O Índice de Confiança de Serviços (ICS) do FGV IBRE caiu 2,4 pontos em dezembro, para 92,0 pontos. Este é o menor nível desde março de 2023, quando ficou em 91,7 pontos. Segundo Stéfano Pacini, economista do FGV IBRE, a confiança do setor caiu pelo quinto mês seguido influenciada por um pessimismo quanto ao futuro dos negócios.

— Apesar do ciclo de queda na taxa de juros e de redução do endividamento das famílias não parecem ser fatores suficientes para garantir uma resiliência no setor no próximo ano, embora os serviços prestados às famílias ainda tenham nível de expectativas mais altas do que os demais segmentos do setor, que ainda se mostra dependente da melhora da confiança dos consumidores e do mercado de trabalho — avaliou, em comentário.

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