"Melhor chegar para trás, para o senhor não sentir nosso cheiro", avisou a moradora de São Cristóvão, bairro da Zona Norte carioca, à reportagem do GLOBO. A manicure de 25 anos enfrentou sol, frio, fome "e três dias sem tomar banho", como ela acrescenta, para garantir ingressos para o show de Taylor Swift, que vem ao Brasil, em novembro, apresentar a turnê "The eras". A jovem estava no segundo lugar da fila que se formou desde o último sábado (10) ao redor do Estádio Nilton Santos, o Engenhão, no Rio de Janeiro. Na manhã desta segunda-feira (12), ela e outras centenas de fãs da cantora americana concluíram, enfim, a maratona embalada por gritos, choros e barracas de acampamento.
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— Dormi no sereno, e estou delirando. A fila do banheiro químico é de pelo menos 20 minutos. Não sei como estou de pé, só a base de água e fruta há quase três dias — relatou. — E todo mundo olha torto para mim, só porque estou na frente da fila. Isso aqui é quem nem os Mezenga contra os Berdinazzi (da novela "O rei do gado"). Quem está no fim da fila não gosta de quem está na frente.
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Fila para ingressos de Taylor Swift reúne centenas de fãs em Rio e SP
O clima era de intriga, de fato. Poucos passos atrás da mulher estudantes com espinhas no rosto afirmavam que quem estava na frente da fila era, a rigor, cambista. Nesta manhã, pouco antes das 10h, quando foi liberada a venda dos bilhetes, um dos jovens apontou para a mulher e disse que tudo nela era falso. Ela ouviu as acusações e pediu ao GLOBO, reiteradamente, que não aparecesse em nenhuma foto. Depois, deu de ombros quando questionada, mais uma vez, se era cambista ("Tenho cara disso?", limita-se a dizer).
— Ela não sabe cantar nada da Taylor. Houve zero interação com quem realmente é fã. Ela e outros que estão na frente da fila nem sabem quem é Taylor Swift — reclama a estudante Maria Clara, de 15 anos, ao lado de uma turma de jovens nos primeiros dez lugares da fila. — Vim só com a roupa do corpo para cá e conheci grandes amigos. Todo mundo se ajudou. Meu padrasto trouxe barraca de camping, cobertor... Pedimos comida junto por aplicativo. Abri até a minha a casa, que fica a dez minutos daqui, para uma de minhas novas amigas tomar banho. Já estamos todos combinando de irmos juntos ao show.
Perrengue não faltou por ali. A reclamação geral era com a presença de cambistas — que de fato dividiram espaço na fila (à paisana) com os fãs. Às 11h, diante da possibilidade de os ingressos se esgotarem, a multidão de fãs começou gritar xingamentos coletivos. Os suspeitos fingiam que não ouviam. E respondiam que eram fãs, sim.
— Eles estão tudo comprando para revender depois. E a gente, que quer garantir o ingresso das nossas crianças, fica prejudicada. Tem que haver punição e fiscalização — indignava-se Andreia Xavier, esteticista de 52 anos que acompanhava a filha, de 19, na fila. — Para ser sincera, não gosto de Taylor Swift. Mas só Deus sabe o que a gente faz para os filhos, né?