Curador que acusou Prêmio Sesc de censura cria troféu literário para romancistas estreantes

As inscrições para o Caminhos de Literatura começam em 22 de julho; vencedor será publicado pela editora Dublinense

Por — São Paulo


O escritor Henrique Rodrigues, criador do Prêmio Caminhos de Literatura Monica Ramalho

Curador demitido do Prêmio Sesc após acusar a instituição de censura, o escritor Henrique Rodrigues criou um novo troféu literário para revelar romancistas inéditos, o Caminhos de Literatura. Estão aptos a concorrer autores residentes no Brasil, maiores de 18 anos e que nunca tenham publicado um romance. O edital já está disponível no site do prêmio e as inscrições se estendem de 22 de julho a 21 de agosto.

No ato da inscrição, os autores devem apresentar uma obra inédita que tenha entre 120 mil e 600 mil caracteres. O romance vencedor será publicado pela editora Dublinense e o autor participará da Fliporto (Festa Literária Internacional de Pernambuco), em novembro. O resultado será anunciado em outubro.

Em nota, Rodrigues explicou que o objetivo do prêmio é revelar os novos talentos da literatura brasileira, especialmente os que vivem longe do Sul e do Sudeste. “Existem centenas de premiações literárias no Brasil, de vários tipos e para os mais diferentes segmentos de escritores. Poucas, porém, conseguem tirar uma pessoa da invisibilidade e colocá-la na cena literária com a atenção merecida”, disse ele.

“Devido às nossas dimensões continentais e à concentração de grandes editoras no Sul-Sudeste, para autores de diversas regiões ter uma obra publicada por uma editora renomada parece um sonho distante. É claro que os prêmios não dão conta de toda a demanda, mas têm uma função simbólica de introduzir representantes das mais variadas localidades e segmentos populacionais do país”, completou o curador.

Editor da Dublinense, Gustavo Faraon acredita que rapidamente o Prêmio Caminhos de Literatura se tornará “referência” no país. “Descobrir novas vozes faz parte da nossa essência como editores desde o nascimento da Dublinense. Por isso mesmo, nos associarmos a este novo prêmio literário faz muito sentido e é, ao mesmo tempo, uma alegria”, disse ele, também em nota. “Tenho boas expectativas e acredito que o Prêmio Caminhos de Literatura tem o potencial de revelar nomes que serão conhecidos pelos leitores brasileiros num futuro próximo.”

O vencedor receberá ainda um adiantamento de R$ 5 mil (referente aos direitos autorais) e uma mentoria com o curador sobre carreira e mercado literário.

Acusação de censura

Rodrigues foi demitido do Prêmio Sesc de Literatura em janeiro. O motivo, segundo ele, teria sido um incidente na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em novembro passado. Na ocasião, a leitura de um trecho com sexo explícito de “Outono de carne estranha”, de Airton Souza, último vencedor do prêmio na categoria Romance, teria incomodado a direção do Sesc. Segundo a organização, o problema não foi o livro em si, mas a presença de crianças na plateia.

Rodrigues também acusou a instituição de tentar impedir Souza de promover seu livro nas unidades do Sesc, como é de praxe entre os vencedores. Por sua vez, o Sesc disse que as denúncias “não têm fundamento” e que “sempre se pautou pela imparcialidade, com decisão soberana de suas comissões julgadoras”. Após a demissão de Rodrigues, o Grupo Editorial Record, que por mais de 20 anos publicou os vencedores do Prêmio Sesc, encerrou a parceria.

Para o curador, a criação do Prêmio Caminhos de Literatura é uma maneira de se posicionar contra o cerceamento à liberdade de expressão. “A censura a livros é, hoje, um dos grandes problemas culturais no Brasil e no mundo. A censura é a filha da ignorância. Não basta sermos contra a censura nas redes sociais. É só por meio da educação para a leitura que vamos devolver essa prática aos porões da história, onde deve permanecer”, disse o escritor.

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