Principais suspeitos da fraude bilionária da Americanas, dois ex-executivos da companhia estão na mira das autoridades policiais. O ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez foi preso na sexta-feira em Madri e solto no sábado, enquanto a ex-CEO do braço digital do grupo (B2W), Anna Saicali, está em Portugal e entregará passaporte assim que voltar ao Brasil. Relembre os detalhes da operação da PF e veja os próximos passos para os principais suspeitos:
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Como foi a operação da PF?
A Polícia Federal deflagrou na quinta-feira (27) uma operação contra ex-diretores da Americanas, acusados de fraudar a companhia. A investigação que baseou a operação aponta que onze pessoas que integraram a cúpula da rede varejista venderam R$ 258 milhões em ações antes de as fraudes serem descobertas e os papéis da companhia sofrerem forte desvalorização na Bolsa.
A investigação foi baseada nas delações premiadas dos ex-executivos da empresa Marcelo da Silva Nunes, que foi diretor executivo financeiro da Americanas, e Flavia Carneiro, ex-diretora de controladoria. A PF cumpriu dois mandados de prisão preventiva contra o ex-CEO Miguel Gutierrez e ex-diretora Anna Christina Ramos Saicali, que estão no exterior. A PF também cumpre 15 mandados de busca e apreensão.
Qual o valor da fraude da Americanas?
A única estimativa, feita pela própria empresa em seus comunicados oficiais, é de que a fraude perpretrada nos balanços foi de R$ 25,3 bilhões. Mas policiais federais e procuradores da República estão procurando responder é qual o valor exato da fraude, conforme apuração da colunista Malu Gaspar.
O Ministério Público Federal solicitou a seus peritos um laudo para calcular o montante exato da maquiagem, assim como o prejuízo causado ao mercado. Só depois que esse laudo ficar pronto é que será feita a denúncia contra os alvos da operação.
O que acontecerá com Anna Saicali, ex-diretora da Americanas?
Anna Saicali, diretora da Americanas que comandava o braço digital da companhia (B2W), vai se entregar à Polícia Federal, no aeroporto do Galeão, no Rio. Ela está em Lisboa desde o dia 16. Ela entregará o seu passaporte à PF e não ficará presa.
![A ex-diretora da Americanas Anna Ramos Saicali durante depoimento à CPI da Americanas na Câmara dos Deputados em setembro de 2023 — Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/k_sCOB2p3cJI1hGpnXGzggslo2M=/0x0:1984x1223/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/U/k/f6y2qQQc25E8fAHQdOFQ/img20230905163910233.jpg)
A ex-executiva teve a prisão preventiva decretada no bojo da Operação Disclosure, da PF, que apura o esquema de fraudes contábeis no balanço da Americanas, estimadas em mais de R$ 25 bilhões. Os crimes apontados são manipulação de mercado, uso de informação privilegiada e associação criminosa.
- Mais sobre o caso Americanas: Veja as mensagens de WhatsApp, planilhas e e-mails que embasaram o pedido de prisão
Na quinta-feira (27), assim que a operação foi deflagrada, advogados de Anna Saicali procuraram a Polícia Federal para negociar sua apresentação. Eles alegaram que a viagem da executiva a Portugal já estava comprada com antecedência e não foi uma forma de escapar da prisão — argumento da Justiça para decretar a prisão preventiva.
Eles disseram que ela comprou a passagem no balcão do aeroporto para ir a Lisboa com embarque no dia 16 porque perdeu o voo do bilhete original, com previsão de ida no dia 15.
Conforme decisão do juiz Marcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Anna Saicali deverá se apresentar às autoridades portuguesas no aeroporto de Lisboa neste domingo, dia 30, e entregar o passaporte à PF assim que voltar ao Brasil.
O juiz determinou que ela não passará por audiência de custódia nem terá que ficar presa, mas ficará proibida de deixar o país enquanto as investigações sobre as fraudes bilionárias no balanço da varejista estiverem em curso.
E o ex-CEO, Miguel Gutierrez?
Gutierrez, que tem cidadania espanhola, teve o passaporte recolhido, terá que se apresentar a cada 15 dias na unidade policial local e não pode sair da Espanha até a conclusão da investigação.
![Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas que vive na Espanha — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/MuUQufrfdisJ_TWZ1ORcrurDYRM=/0x0:768x512/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/O/l/sWXBU8T4OVJHdvVutuEQ/image-2024-06-27t203547.112.png)
O executivo, que comandou a varejista por duas décadas, passou a sexta-feira (28) prestando depoimento a autoridades policiais, judiciais e ministeriais da Espanha — essas últimas são representantes do poder Executivo local. Depois dessas oitivas, ele foi liberado na noite de sexta-feira para voltar para casa.
- Operação Disclosure: Quem é o ex-CEO da Americanas alvo da PF que foi viver na Espanha para não ser preso
A prisão de Gutierrez ocorreu depois de uma campana de dois dias, que se estendeu até sexta-feira, quando bateram na porta do prédio onde o executivo mora com a família. Foi necessária a assistência de uma ambulância para atender o executivo, que passou mal ao chegar na unidade policial.
De acordo com o relato feito pelos espanhóis às autoridades brasileiras, Gutierrez parecia estar tendo um infarto. O executivo tem 62 anos e já apresentou atestado médico para não ter que depor à CPI da Americanas, em Brasília, no ano passado.
A captura de Gutierrez começou a ser planejada na Espanha antes de a Polícia Federal desencadear, no Brasil, a operação sobre os 14 investigados pela fraude bilionária nos balanços da rede varejista. Há um ano, Gutierrez vive num apartamento, em Madri, com a mulher. Ele se mudou depois que os problemas contábeis foram revelados, pela própria Americanas. A suspeita da Polícia Federal é que Gutierrez tenha comandado as fraudes.
Veja fotos das Lojas Americanas ao longo dos anos
![Lojas Americanas: empresa foi fundada em 1929, na cidade de Niterói, no então estado da Guanabara, pelos empresários Max Landesmann (da Áustria), John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borger (dos Estados Unidos). — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/gpy0gqxa4qPj-DJs78pIYvdrzPY=/0x0:768x432/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/N/i/bJyc6kTFaq6H6sjvKRsA/85-768x432.jpg)
![Lojas Americanas: empresa foi fundada em 1929, na cidade de Niterói, no então estado da Guanabara, pelos empresários Max Landesmann (da Áustria), John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borger (dos Estados Unidos). — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/RWoO25IED8gzUqQLPCfumgxtA6U=/768x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/N/i/bJyc6kTFaq6H6sjvKRsA/85-768x432.jpg)
Lojas Americanas: empresa foi fundada em 1929, na cidade de Niterói, no então estado da Guanabara, pelos empresários Max Landesmann (da Áustria), John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borger (dos Estados Unidos). — Foto: Reprodução
![Em 1982, os principais acionistas do Banco Garantia, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, entraram na composição acionária de Lojas Americanas como controladores. — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/v6wCc74_LBaG8sdceNPfbdJKZt4=/0x0:535x315/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/M/z/gV5pVPSbGRZjhpadafcg/amerianas-1.jpg)
![Em 1982, os principais acionistas do Banco Garantia, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, entraram na composição acionária de Lojas Americanas como controladores. — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/fEp8F5bYm6E0l0gnmone_VT1kvE=/535x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/M/z/gV5pVPSbGRZjhpadafcg/amerianas-1.jpg)
Em 1982, os principais acionistas do Banco Garantia, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, entraram na composição acionária de Lojas Americanas como controladores. — Foto: Reprodução
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![Lojas Americanas na Rua Marechal Deodoro, em Juiz de Fora, em outubro de 1969. — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/3D9FMWaD0NJod5hbAmZz6wOro2U=/0x0:564x916/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/x/M/sE8IADSVWAb1dEMFsMKw/4a99133194872335200d974a67492684.jpg)
![Lojas Americanas na Rua Marechal Deodoro, em Juiz de Fora, em outubro de 1969. — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/CtRb4kocAqxpw94lyJEUVDO06B4=/564x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/x/M/sE8IADSVWAb1dEMFsMKw/4a99133194872335200d974a67492684.jpg)
Lojas Americanas na Rua Marechal Deodoro, em Juiz de Fora, em outubro de 1969. — Foto: Reprodução
![Lojas Americanas na Rua Halfeld, em Juiz de Fora, julho de 1973. — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/goDq1pjfBT6UtxVpO4kzG7baRsA=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/M/6/12UBiFQy69onfLnFR7Iw/halfeld-americanas-julho-1973-res.jpg)
Lojas Americanas na Rua Halfeld, em Juiz de Fora, julho de 1973. — Foto: Reprodução
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![Clientes em uma das lojas no Rio, em 1979. — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/RzeFpxwc8ajUo4gsp1BBI0rrqeg=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/P/A/6eOsFXT9iQwuj9HHk3MQ/20371856-rj-06-04-1979-comercio-rj-lojas-americanas.-foto-anibal-philot-agencia-o-globo-negati.jpg)
Clientes em uma das lojas no Rio, em 1979. — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo
![Clientes em uma das Lojas Americanas no Rio, em 1979 — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/4gOnXU0SSD3yII_RRa_MdVwL0aQ=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/o/K/By5mLiQCGhBG9Mm1tLRA/20443168-rj-06-04-1979-comercio-rj-lojas-americanas-anibal-philot-agencia-o-globo-negativo-79-1-.jpg)
Clientes em uma das Lojas Americanas no Rio, em 1979 — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo
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![Fachada de uma loja em 1987 — Foto: Alexandre França / Agência](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/1v_pw5iZ70sRUek1be0o4dULenA=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/I/2/BBsfgETV2dQKf2b48fxQ/20325391-rj-23-09-1987-comercio-rj-lojas-americanas-alexandre-franca-agencia-o-globo-negativo-1-.jpg)
Fachada de uma loja em 1987 — Foto: Alexandre França / Agência
![Evolução da identidade visual da marca — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/bEjkJhBx8Gv0OAUUn8EFB-sUEgo=/500x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/x/Z/5VtFuQT3GxnTfh7Rxsjg/americanas-logos.jpg)
Evolução da identidade visual da marca — Foto: Reprodução
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![Frente de uma loja em 1991. — Foto: Ricardo Mello](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/nrqJGjnXN92qs-gSZ46yq6dMIkQ=/1070x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/O/C/2NEBf7QhGxlJ8YHkJupA/20318214-rj-12-12-1991-comercio-rj-lojas-americanas.-foto-ricardo-mello-agencia-o-globo-negati-1-.jpg)
Frente de uma loja em 1991. — Foto: Ricardo Mello
![Loja Americanas no Plaza Shopping, em Niterói, em 2006. — Foto: Letícia Pontual](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/t3FmKdGu2cPys6jIay_l_cwbvZU=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/x/c/JfU2DlRUeDEbZCJI4MPA/38258307-01112006-leticia-pontual-jb-ni-preparacao-financeira-para-o-natal-abertura-de-credi.jpg)
Loja Americanas no Plaza Shopping, em Niterói, em 2006. — Foto: Letícia Pontual
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![Lojas Americanas se encontra em meio a uma crise com rombo de 20 bilhões de reais — Foto: Hermes de Paula](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/B6248Xi0TdRqSSuGT5HOgFrJSVA=/1358x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/e/C/FPzRkORVyebFWA7RIBjg/101771257-ec-rio-de-janeiro-rj-16-01-2023-crise-lojas-americanas.-foto-hermes-de-paula-agencia-1-.jpg)
Lojas Americanas se encontra em meio a uma crise com rombo de 20 bilhões de reais — Foto: Hermes de Paula
Ex-CEO nega acusação
Em nota, a defesa do ex-CEO afirma que “na data de ontem (sexta-feira), o executivo compareceu espontaneamente ante as autoridades policiais e as autoridades jurisdicionais com o fim de prestar os esclarecimentos oportunos”. E também diz que “agora, com o acesso aos autos, Miguel terá a oportunidade de exercer sua defesa de modo técnico”.
Gutierrez, ainda por meio de sua defesa, reiterou que “jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios, manifestando uma vez mais sua absoluta confiança nas autoridades brasileiras e internacionais”.
Os advogados de Gutierrez sustentam que ele não é um foragido porque tem endereço conhecido na Espanha. Mas investigadores ouvidos pela equipe da coluna de Malu Gaspar no GLOBO dizem que, enquanto a ordem de prisão contra ele estiver em vigor no Brasil, ele é um foragido da Justiça brasileira.
As irregularidades na Americanas foram reveladas em janeiro de 2023, pouco depois de a companhia passar por uma troca de comando.