Economia
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GERADO EM: 20/06/2024 - 04:00

Cenário fiscal preocupa apesar de estabilidade na taxa Selic

Unanimidade no Copom para manter a taxa Selic em 10,50% alivia mercado, mas cenário fiscal ainda preocupa. Possibilidade de corte de juros no futuro incerta, com atenção ao comportamento do governo e do BC.

O principal ponto da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de quarta-feira foi a unanimidade em torno da manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano. Com um “racha” polêmico na reunião anterior, em maio, havia dúvidas se seria possível haver um consenso desta vez.

Especialistas avaliam que isso deve dar alívio ao dólar, que acumula valorização de mais de 12% no ano, mas ressaltam que uma melhora permanente dependerá do cenário fiscal. Nesta quinta-feira, a moeda americana abriu em queda, abaixo dos R$ 5,40, após decisão do Copom.

A incerteza maior era sobre a posição dos diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que frequentemente criticam o BC pelos juros elevados, especialmente sobre o voto de Gabriel Galípolo, o mais cotado para assumir o comando do órgão em 2025. O atual presidente, Roberto Campos Neto, deixa o cargo em 31 de dezembro.

Na terça-feira, Lula disse que a única coisa “desajustada” no país era o BC e que não tinha explicação "a taxa de juros do jeito que está”.

— Essa é uma dúvida que a gente tinha no mercado, ainda mais depois da entrevista do presidente Lula, pressionando o Banco Central. Houve um alinhamento porque todos os diretores viram que é um momento bastante delicado — afirmou Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

Trajetória da Selic — Foto: Criação O Globo
Trajetória da Selic — Foto: Criação O Globo

Segundo o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal, poucas vezes o placar de uma reunião foi tão importante:

— Desta vez, ao contrário da reunião de maio e o seu “Fla-Flu”, a unanimidade vai agradar ao mercado. Principalmente porque o principal candidato a ser o próximo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, votou de forma conservadora.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, concorda que o mais importante da reunião do Copom foi a unanimidade. A manutenção do cenário como foi decidida dissipou dúvidas no mercado financeiro.

— Essa é uma dúvida que a gente tinha no mercado, ainda mais depois da entrevista do presidente Lula, pressionando o Banco Central, e houve um alinhamento, porque todos os diretores viram que é um momento bastante delicado — afirmou Agostini.

O economista também destacou que o BC sinalizou que não haverá novas reduções e que a política monetária continuará restritiva o tempo que for necessário para a ancoragem das expectativas. Acrescentou que a autarquia reforçou a importância de uma política fiscal consistente.

Para Leal, o alinhamento de Galípolo pode ajudar a estancar a piora das projeções de inflação registradas no Boletim Focus. Ele ponderou, no entanto, que as chances de Galípolo assumir o BC diminuíram, dependendo de qual será a reação do governo.

Política restritiva à frente

Além da unanimidade, chamou a atenção dos economistas ouvidos pelo GLOBO a indicação indireta de que a Taxa Selic deve se manter em 10,50% por um bom tempo. Ainda que o Copom não tenha dito que o ciclo de queda de juros está encerrado, introduziu um cenário alternativo que mostra que a inflação chega mais perto da meta de 3% em 2025 se os juros ficarem estáveis até o fim do ano que vem.

No cenário de referência, que considera queda da Selic em 2025 para 9,50%, a projeção do BC fica em 3,4%. Esses dois fatores devem trazer alívio para os ativos brasileiros, como o dólar, e estancar a piora das expectativas de inflação, mas uma melhora permanente depende da evolução fiscal, algo em que o BC também está de olho.

“O Comitê, unanimemente, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, disse reforçando o “firme compromisso com as metas”.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, disse considerar relevante a indicação do BC de que a política monetária continuará restritiva, para estancar a crise de confiança.

— A decisão contribuiu para o mercado arrefecer um pouco o risco — disse Camila. — É importante para que o mercado recupere a confiança de que não haverá leniência com a inflação.

Ainda assim, ela avalia que a política fiscal ainda dará bastante dor de cabeça ao Copom.

Em seu comunicado, o Copom reiterou que “monitora com atenção” os desenvolvimentos recentes da política fiscal que impactam a política monetária e os ativos financeiros. A condução das contas públicas pelo governo Lula está sob intenso escrutínio desde abril, quando houve mudança nas metas fiscais.

Mais recentemente, cresceram os receios sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal diante da dificuldade do governo de cortar gastos, o que tem afetado o dólar e as expectativas de inflação.

'O jogo não está ganho'

A economista-chefe da gestora UBS Wealth Management, Solange Srour, considerou o comunicado neutro, ou seja, que não sinaliza nem uma intenção de voltar a cortar a Selic à frente, nem de aumentar os juros. Ela pondera, no entanto, que o próximo passo do Copom dependerá da política fiscal do governo:

— O cenário básico do Copom é de manutenção da Selic até o fim de 2025. Mas, se vai se realizar ou não, vai depender muito das medidas fiscais. A decisão de hoje faz o mercado ter paciência por mais tempo. O governo ganhou um tempo para desenhar e anunciar as medidas, mas esse tempo não é infinito. O jogo não está ganho.

Em nota, Alberto Ramos, diretor do Goldman Sachs, afirmou que “desenvolvimentos positivos na frente fiscal, combinados com uma tendência monetária global mais favorável, poderiam potencialmente abrir mais espaço para retomar a normalização da política monetária.”

Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú, avalia que a decisão de manter a Selic em 10,50% foi positiva e deve acalmar o desconforto no mercado, mas não será suficiente para acabar com a pressão sobre os ativos:

— Ainda prevalece uma incerteza sobre o futuro do Banco Central. O comunicado deve acalmar os mercados e estancar o processo de desancoragem das expectativas de inflação, mas ainda há dúvidas no radar, como sobre a política fiscal, que está ajudando o câmbio a ficar em um patamar mais desvalorizado, pressionando a inflação, o que não é de hoje.

Dúvidas sobre a futura composição do Copom

Gonçalves também avalia que o comunicado aponta um cenário de juros altos por mais tempo. Mas não considera que o tom do BC foi hawkish (jargão do mercado para elevação de taxas), por não haver uma sinalização de possibilidade de alta de juros.

Apesar de concordar que a decisão deve acalmar o mercado, o economista do Banco BV, Carlos Lopes, avalia que a “nova” diretoria do BC em 2025 deve optar por continuar o corte de juros. O BV espera que os juros terminem este ano em 10,50% e 2025, em 9,0%.

— A indicação é que a atual composição do BC pretende manter a Selic parada até o fim do ano que vem. Mas não sabemos como a nova composição vai se comportar. Achamos que deve optar pela continuidade de cortes — disse Lopes, citando a vontade do governo de indicar membros alinhados com a intenção de reduzir os juros.

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