Não é exagero dizer que a espanhola Cristina de Middel talvez seja o principal nome na fotografia mundial contemporânea. Atual presidente da agência Magnum, a partir de 1º de julho, ela será destaque no festival Les Rencontres d’Arles, na França, com a série “Journey to the Center”, ensaio fotográfico inspirado no livro “Viagem ao Centro da Terra”, de Julio Verne.
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Cristina foca no caráter épico da jornada dos migrantes latino-americanos rumo aos Estados Unidos. “Quis realçar o heroísmo. Imagina deixar o seu país natal, caminhar milhares de quilômetros e trabalhar num lugar estranho, onde você não é bem-vindo, só para mandar dinheiro para a família que ficou para trás?”, questiona ela, em entrevista por chamada de vídeo, da Amazônia Colombiana. Entre os destaques, uma jovem posa diante do muro que divide o México e os EUA com a camiseta estampada com o rosto de Donald Trump.
O trabalho da espanhola enfia o dedo na ferida da imagem ao investigar a sua relação com a verdade. Cristina borra as fronteiras entre documento e ficção, praticando a fotografia do futuro. Porém, prefere dizer que há futuro para a fotografia: “Hoje, grande parte da população é capaz de escrever. Mas quantos são, de fato, escritores ou poetas? Na fotografia, se dá o mesmo”.
Já em “Afronauts”, parte de um programa espacial na Zâmbia, em 1964. “Se há algum ativismo no meu trabalho é o de ultrapassar o lugar-comum das representações.”
Há quem atribua a Cristina a ressignificação da Magnum, que deixou as grandes reportagens no século XX e, hoje, comissiona fotógrafos em projetos com marcas de luxo, como Veuve Clicquot e Chanel, e incentiva o colecionismo com as vendas das Square Prints (impressões de pequenos formatos, em tiragens limitadas e preços em torno de 200 euros). Ela afirma que essas ideias nascem de forma coletiva: “A Magnum funciona como think thank, onde fotógrafos de variados estilos e diversas origens refletem e tomam as decisões sobre fotografia, mercado e a cultura visual.”
Cristina mora entre o Brasil e o México. Porém, se casa é onde os seus livros estão, está de mudança para Salvador. Com o fotógrafo carioca Bruno Morais, ergue a Casa Cardume, centro cultural no Pelourinho dedicado à fotografia, para onde já endereçou sua biblioteca. “Nossa ideia é criar um espaço de trocas. A partir da figura de Cristina, impulsionar outros olhares e pensamentos sobre as imagens”, diz Bruno.
Oxalá a Casa Cardume ilumine e inspire outros olhares, assim como fez Pierre Fatumbi Verger.