Cultura
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Por — Rio de Janeiro

Nascido nos Estados Unidos, batizado com o nome de um deus do hinduísmo e criado na Venezuela, o cantor e compositor Devendra Banhart — um dos expoentes da música folk alternativa dos anos 2000 — é a grande atração internacional do Queremos! Festival, dia 13, na Marina da Glória, no Rio.

Frequentador dos palcos brasileiros desde o Tim Festival de 2006 (onde quase desmaiou de emoção ao saber que tinha sido visto pelo ídolo Caetano Veloso), Devendra começa sua nova incursão ao país por São Paulo (dia 10, no Audio) e depois passa por Porto Alegre (dia 11, no Opinião). Sem fazer um show por aqui desde 2017, ele expressa, de forma tradicionalmente insólita, sua saudade em papo por Zoom.

— Parece que a última vez aí foi em 1942, muito tempo atrás! — diz o artista, de 42 anos de idade. — Lembro muito bem, porque o Brasil é um lugar paradoxal. Ele é como muitos lugares na América do Sul, mas, ao mesmo tempo, é como se fosse o seu próprio continente. Uma coisa, porém, que o resto da América do Sul e o Brasil têm em comum é essa incrível beleza natural misturada com a iluminação da sala de interrogatório. Em qualquer lugar que eu vou aí, a iluminação é como se eu estivesse sendo interrogado pela polícia, é terrível! Mas é sempre superdivertido, meus amigos estão aí, e eu amo o Brasil.

Ano passado, depois de quatro anos sem gravar, Devendra lançou “Flying wig” (“Peruca voadora”), álbum gravado num estúdio num chalé, em Topanga (no arredores de Los Angeles, cidade onde vive), com muitos sintetizadores e a produção da cantora e compositora galesa Cate Le Bon — que lhe deu a ideia de usar, durante o trabalho, brincos da avó e um vestido do estilista japonês Issey Miyake (1938-2022).

— A feminilidade sempre foi uma grande parte do meu trabalho. Se o mundo diz que você é, digamos, um homem e diz para você suprimir o seu lado feminino, então eu acho que seu trabalho é abraçar esse lado feminino. Tudo isso serve para criar um equilíbrio, não tem nada a ver com sexualidade ou gênero — discorre o músico. — Uso vestidos desde os 9 anos de idade e, como um homem heterossexual, encontrei nisso algo muito revolucionário. Porque, assim que coloquei esse vestido, me senti lindo e senti que poderia realmente cantar com uma voz muito aguda. Mas, para esse disco, a coisa tem mais a ver talvez com o design do vestido do que com o próprio vestido. O corte é tão reto que incentiva você a sentar-se ereto, a ficar em pé. Isso muda sua postura e a maneira como você canta, então foi realmente uma ferramenta maravilhosa, tão importante quanto um microfone corretamente posicionado.

Devendra promete que algumas das canções de “Flying wig” estarão no repertório dos shows brasileiros, juntamente com algumas de seus outros dez álbuns de uma carreira fonográfica iniciada em 2002. Com ele, no palco, estarão os músicos Gregory Rogrove, Hugh Evans e Brian Betancourt.

— É um grupo maravilhoso de pessoas que se amam de verdade, e duas delas nunca estiveram no Brasil. Todo mundo na banda ama a cultura brasileira e, claro, a música brasileira, todo mundo é meio obcecado por isso. Então, ir ao Brasil é como ver pessoalmente a pessoa mais famosa do mundo — compara ele.

Desta vez, o artista não contará com a companhia de seu braço direito musical, o guitarrista e produtor Noah Georgeson (“que acabou de ter mais um filho e vai ficar em casa”) e nem com o seu melhor amigo brasileiro, Rodrigo Amarante, dos Hermanos (“que está gravando um álbum solo em Nova York”). Acerca de Rodrigo, por sinal, ele lembrou ano passado, em entrevista ao Guardian, do dia, em 2010, em que os dois andavam de skate e, numa manobra infeliz, a cabeça do brasileiro atingiu um de seus joelhos e causou uma fratura na perna.

— Dói só de lembrar! — arrepia-se. — Eu amo aquele homem, mas se um dia o mundo ficar sem equipamentos de construção e eles precisarem de algo realmente duro que possa quebrar paredes, eles podem simplesmente usar esse crânio grande e forte pra caralho do Rodrigo! Aquela coisa dobrou meu joelho na direção oposta, mas foi uma coisa linda, porque ele que estava tentando me impressionar. Foi uma experiência muito amorosa e dolorosa.

Sobre os shows em si, Devendra promete que serão experiências únicas.

— Para nós, não se trata apenas de apresentar um novo álbum, mas de criar um arco harmonioso, quase como uma jornada que todos podemos percorrer juntos, algo que seja fiel ao espectro de emoções que sentimos ao longo do dia. Adoro quando consigo chorar e rir num mesmo espetáculo, filme ou mesmo vendo um quadro — divaga Devendra. — Acho que o que há de tão especial em um ambiente de música ao vivo é que estamos tendo uma experiência comunitária em que podemos chorar e rir juntos. Algo que, fora daí, só costuma acontecer em casamentos e funerais. É por isso que ainda estamos fazendo shows!

Túnel do tempo

No seu Instagram, há algumas semanas, ele fez um pedido aos seus fãs brasileiros para que dissessem quais canções queriam ouvir nos shows:

— Podem ser canções mais antigas, mais novas, canções que não compusemos, covers, ou mesmo músicas que ainda não foram compostas, algo que só vai ser feito daqui a dez anos ou que só exista outra dimensão... não importa, nós vamos aprender e tocar!

Nos seus espetáculos mais recentes (e não deve ser diferente no Brasil), Devendra tem tocado um cover de “Don’t tell me”, de Madonna.

— Esse desejo nasceu a partir do tipo de merda com que Madonna tem que lidar. Ela é incrível, maravilhosa e amada, mas o mundo também gosta de ser cruel com ela, com milhares de críticas, por mais sucesso que ela tenha. Vejo Madonna como um desses cordeiros sacrificiais da cultura pop, esperamos que eles nos exponham tudo, cada pedacinho de suas vidas, e os levamos a imolarem-se por nós — acredita. — Queria apenas homenageá-la e agradecê-la por esse sacrifício. E “Don’t tell me” é uma puta música!

Com mais de 20 anos de carreira, mesmo assim Devendra diz que até hoje realmente não entende “como se compõe uma música”:

— No início da minha carreira, foi muito importante construir uma história, e aí eu comecei a ver que isso é como morar em uma casa cheia de cacarecos. Em algum momento, passei a apenas tentar me livrar das coisas, me livrar de Devendra. Não acho que compus alguma música boa, é Devendra quem faz música há 20 anos. Mas a pessoa que eu posso ser hoje, apaixonada pelo mundo, acho que essa pode compor boas músicas!

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