Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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O pacote anunciado ontem pelo ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, num primeiro momento - apesar de várias medidas estarem na direção certa, dada a situação da Argentina - levará a um choque inflacionário e muito provavelmente à recessão.

Os preços vão subir por causa da redução dos subsídios à energia e aos transportes. Essa revisão precisava mesmo ser feita, o governo reduz o déficit, mas vai aumentar o custo de vida das pessoas e das empresas.

Ao fazer a desvalorização do peso - que saiu de uma cotação oficial de 366 pesos por dólar para 800 pesos - ele provoca uma elevação de todos os importados e dos que produtos que tem peças importadas. Isso também é inflacionário. Isso é uma barreira na prática à importação. Ele retirar entraves burocráticos da importação, mas ao mesmo tempo ao encarecer o dólar e ainda colocar um imposto de importação, torna mais difícil importar.

Por outro lado, a desvalorização vai estimular exportação. O que ele quer com isso é trazer dólares para o país. E isso porque a Argentina não tem reservas cambiais.

Aliás, hoje o governo anunciou uma medida que estimula a repatriação de capital. Tudo está sendo feito para conseguir “plata”, em dólar.

Há medidas que são muito cosméticas. Por exemplo, não renovar o contrato de pessoal das empresas do governo que tenha sido contratado há menos de um ano. Claramente é importante, pois são contratações feitas às vésperas da eleição, mas não traz grandes ganhos.

O pacote não economiza o dinheiro todo que o governo diz precisar para o ajuste anunciado, de nada menos que 5% do PIB, o que é muito alto.

Ainda há um outro ponto importante, essas primeiras medidas são por decreto, mas o fato é que Milei não tem apoio político suficiente para aprovação de tudo que será necessário para fazer o ajuste anunciado, mesmo que contabilize todos os votos de quem o apoiou no segundo turno, que é o ex-presidente Maurício Macri e a candidata Patricia Bullrich. E ao anunciar que reduzirá ao mínimo o envio de recursos para as províncias vai diminuir ainda mais o apoio político ao novo governo.

A grande questão posta é o apoio popular. No começo, como qualquer governo, Javier Milei tem apoio dos eleitores, e até daqueles que não votaram mas darão um voto de confiança entendendo que o mais importante é a Argentina. Só que Milei está contando que todo o custo dessa dor que está sendo provocada na economia argentina vai ficar na conta do governo anterior. Num primeiro momento, certamente, mas até que ponto um governo consegue se segurar produzindo mais inflação e mais recessão? O que a economia e a política dizem é que não por muito tempo.

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