Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Rafael Moraes Moura — Brasília

O senador e ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos-RS) disse à equipe da coluna que a convocação do general Augusto Heleno para depor à CPI do 8 de Janeiro nesta terça-feira (26) é “revanchismo” e tensiona a relação das Forças Armadas com o governo Lula. Para Mourão, a administração petista “tem que virar a página”.

No depoimento à CPI, Heleno disse nunca ter tratado sobre política no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e que não teria condições de dar explicações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, que culminaram com a invasão e a depredação da sede dos três poderes.

“A CPI é para investigar os acontecimentos de 8 de Janeiro e essa turma aí já estava fora do governo, não teve nada a ver com esse processo. Então a minha visão é muito clara: isso é revanchismo. Não havia necessidade nenhuma (do depoimento de Heleno)”, disse Mourão, que é general da reserva do Exército.

“Então, isso simplesmente faz parte da luta política. E é esse sentimento de revanche, que se apossou lamentavelmente do governo eleito – e que não vira a página. Tem que virar a página.”

Na avaliação de Mourão, a convocação de generais, como Heleno e Braga Netto, tensiona o ambiente com as Forças Armadas, “principalmente com o pessoal da reserva que pressiona, obviamente, o pessoal da ativa.”

Conforme informou a equipe da coluna, a repercussão da delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que revelou ter participado de reuniões do ex-presidente Jair Bolsonaro com comandantes militares para discutir um golpe de estado, fez com que a CPI do 8 de janeiro acabasse ouvindo mais militares, como Heleno.

Antes da delação, a previsão era ouvir apenas o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, que também foi companheiro de chapa do ex-presidente na última eleição presidencial. A expectativa é a de que a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) leia o relatório no próximo dia 17.

Mourão se queixou da fala da deputada Duda Salabert (PDT-MG), que acusou Heleno de chefiar uma operação militar no Haiti que resultou na morte de dezenas de crianças e mulheres.

“A pessoa dessa, como é que se diz uma asneira dessas assim? Então você vê que é um troço sem pé nem cabeça (o depoimento)”, rebateu Mourão.

“Se você fizer uma enquete ali dentro (da CPI), pergunta quantos aqui serviram as Forças Armadas? Não vai ter ninguém. Então como é que o cara pode tratar de algo que ele desconhece? Ou seja, ele trata com os preconceitos ideológicos que ele carrega”, criticou o senador.

Conforme informou a equipe da coluna, a CPI do 8 de Janeiro deve concluir seus trabalhos em meados de outubro com o pedido de indiciamento de Bolsonaro por pelo menos quatro crimes cometidos durante o mandato: golpe de Estado, escuta telefônica ilegal, incitação ao crime e autoacusação falsa.

“É vergonhoso… indiciar o Bolsonaro com base em quê? Tem que aparecer uma prova concreta de que o Bolsonaro financiou, exortou e planejou, preparou os acontecimentos de 8 de janeiro. Ele não fez isso”, rebateu o senador.

Bolsonaro viajou para Miami no penúltimo dia do mandato, sem passar a faixa presidencial a Lula e sem reconhecer a vitória do adversário, e só retornou ao país em 30 de março.

Tanto aliados quanto adversários do ex-presidente da República dão como certo que o relatório a ser apresentado pela senadora Eliziane Gama vai associar os sucessivos ataques de Bolsonaro à Justiça Eleitoral e às urnas eletrônicas aos atos de vandalismo de 8 de Janeiro.

As acusações do hacker Walter Delgatti Netto, que prestou depoimento à CPI no mês passado, vão ser usadas para enquadrar Bolsonaro nesses crimes.

“A credibilidade do hacker é tanto quanto uma nota de R$ 3”, ironizou Mourão.

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