Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Informações da coluna

Por Johanns Eller

Diálogos obtidos pela Polícia Federal (PF) na investigação sobre fraudes em contratos da intervenção federal do Rio em 2018 indicam que a empresa americana CTU Security, pivô das apurações que resultaram na Operação Perfídia, deflagrada na última terça-feira, também intermediava interesses de outras companhias em contratos da Petrobras durante o governo Jair Bolsonaro.

Nas mensagens trocadas em abril de 2019, dois alvos da PF, incluindo um coronel da reserva da Aeronáutica, citam o ex-interventor Walter Braga Netto (PL) e dizem que a petroleira “é nossa casa”.

“Glaucio, deixa eu te falar: o Walter entrou em contato comigo, falou que uma empresa americana entrou em contato com a CTU para falar de Petrobras e Exército, pô, Petrobras e Exército é [sic] a nossa casa hoje, né? Aí fica ligado aí que depois vou te passar esses dados”, diz Glauco Octaviano Guerra, principal lobista da CTU Security no Brasil, ao irmão Glaucio, que é coronel da reserva da Aeronáutica e seria o arquiteto do esquema criminoso descrito pela polícia.

Glauco é ex-auditor fiscal e foi demitido da Receita Federal por suspeita de enriquecimento ilícito. Ele chegou a ser preso em 2020 por um esquema de desvio de verba pública destinada à compra de ventiladores para a rede de saúde do Rio na pandemia.

Segundo a PF, o Walter mencionado não é Braga Netto, e sim Walter Lopes da Silva, brasileiro residente na Flórida, apontado como parceiro de Glaucio nos esquemas ilícitos em licitações e responsável pelos contatos com a CTU – que, por sua vez, pertence a Antonio Intriago, venezuelano radicado nos EUA.

Mas Braga Netto (PL), ex-interventor e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022, é mencionado logo em seguida na conversa, em uma mensagem que sugere que a rede de interesses nebulosos dos lobistas ia bem além do gabinete de intervenção, envolvendo também o Exército.

“Aí eu respondi para ele: [no caso do] Exército, [o] Chefe de Estado Maior vai ser General Braga Netto, que é quem assinou nosso contrato aqui no Rio. O COLOG [Comando Logístico] vai ser o General Neiva que é nosso contato também, e [na] Petrobrás é o Coronel Diógenes [Dantas Filho]. Eu não sei se ele blefou, entendeu? Tu que está mais perto aí, que vai para Miami, acompanha isso aí”, seguiu Glauco.

O diálogo ocorreu já no governo Bolsonaro, na mesma época em que Braga Netto, recém-saído do gabinete de intervenção no Rio, foi promovido a chefe do Estado Maior do Exército – e Diógenes Dantas Filho, coronel do Exército e lobista da CTU Security, foi nomeado assessor da presidência da Petrobras, presidida então por Roberto Castello Branco.

Posteriormente, o coronel Diógenes, como é conhecido, assumiu o cargo de conselheiro da Transpetro, do qual renunciou em julho de 2020.

No relatório que embasou a Operação Perfídia, deflagrada na última terça-feira (12), o delegado Bernardo Adame Abrahão, que assina o documento, diz que a menção à Petrobras e ao Exército como “nossa casa” chama a atenção.

A peça inclui mensagens trocadas entre os alvos da Perfídia até março de 2020, não traz outras menções à companhia.

Mas, ao citar a interlocução de Braga Netto – “quem assinou nosso contrato aqui no Rio” – e de outros “contatos”, a fala de Glauco indica, no mínimo, uma expectativa de lobby pelos interesses da empresa desconhecida.

O contrato superfaturado para a compra de 9.360 coletes foi suspenso pelo gabinete da intervenção militar em 2019, e os empresários da CTU contrataram o general Paulo Assis e o coronel Romeu Queiroz, por R$ 300 mil, para tentar reverter a suspensão do contrato.

Nesse esforço, eles intermediaram um jantar com Braga Netto, àquela altura já ministro-chefe da Casa Civil, em Brasília, no início de março de 2020. De acordo com o relatório, logo depois começou a epidemia de Covid-19 no Brasil e os contatos foram interrompidos.

Já se sabe, porém, que o coronavírus não interrompeu os rolos dos irmãos Guerra. Além da prisão de Glauco pelo esquema dos respiradores para pacientes de Covid no Rio em 2020, o irmão coronel, Glaucio, foi citado no escândalo de propinas na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde em 2021 por meio de outra empresa americana obscura, a Davati. No entanto, seu nome acabou de fora do relatório da CPI da Covid e o caso nunca foi devidamente esclarecido pela Justiça.

A Operação Perfídia, que ainda busca confirmar qual era a real natureza da ligação desses lobistas com Braga Netto, pode ser uma oportunidade de jogar luz sobre todos esses episódios – e mostrar que tipo de interesse esses lobistas de fato tinham na Petrobras.

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