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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.

RESUMO

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GERADO EM: 17/06/2024 - 22:27

Casal levado à delegacia por não abrir porta

Casal foi levado à delegacia após irmãos denunciarem por não abrir a porta do quarto. Polícia e bombeiros foram chamados, mas a situação foi resolvida como uma simples história de amor entre adultos. A bailarina Yone ficou furiosa com os irmãos e o casal foi liberado com uma advertência do delegado.

A bailarina Yone Viegas, de 33 anos, chegou em casa de madrugada com o namorado Augusto Lima Fontes Júnior, e os dois foram para o quarto dela. De manhã cedo, Evandro e Rodolfo, irmãos de Yone, achando aquela situação uma "pouca vergonha", começaram a bater na porta da mulher, com intenção de acabar com a farra dos pombinhos. Como o casal se recusava a abrir, decidiram chamar a polícia!

Por volta das 10h30 daquela sexta-feira, 4 de setembro de 1981, uma patrulha da Polícia Militar chegou ao prédio da Rua Santa Clara, em Copacabana, atraindo uma porção de curiosos. Os agentes foram ao apartamento no sétimo andar e bateram no quarto. Mas Yone não quis nem saber, estava irredutível e ainda ameaçou se jogar da janela se começassem a força a porta para abri-la.

Sem saber como proceder diante da situação, mas já envolvidos e temendo que uma simples noite de amor entre dois adultos terminasse com uma tragédia, os policiais decidiram chamar... os bombeiros.

Minutos mais tarde, quando a guarnição de socorristas chegou com a sirene ligada nas alturas, mais de 200 pessoas se juntaram em frente ao edifício. De acordo com a edição do Jornal O GLOBO no dia seguinte, era tanta gente reunida na porta do prédio querendo saber o que se passava que a multidão fechou a rua, gerando um "engarrafamento de quase duas horas".

Bombeiros descem de rapel até a janela do quarto da bailarina em Copacabana — Foto: Otávio Magalhães/Agência O GLOBO
Bombeiros descem de rapel até a janela do quarto da bailarina em Copacabana — Foto: Otávio Magalhães/Agência O GLOBO

Como os bombeiros também não convenceram o casal a abrir a porta, eles tiveram a ideia "genial" de entrar pela janela, descendo de rapel por uma corda presa no andar de cima. Foi um show pra quem estava lá embaixo, mas, quando o socorrista alcançou o sétimo andar, Yone e Augusto já tinham saído do quarto, por insistência de um PM que usou toda sua lábia para persuadir os namorados.

Ao deixar o prédio, o casal esbanjava humor. Mesmo depois de ter as mãos algemadas, sem entender que crime ele havia cometido, Augusto sorria ao lado de Yone, que, fazendo passos de balé, dizia sem nenhum pudor: "Tirem muitas fotos!". Antes de entrar na viatura, a bailarina puxou o amado e deu nele um beijo de cinema que só soi interrompido pelos empurrões policiais.

O casal ainda foi trocando amassos no banco de trás da patrulha até chegar na delegacia, onde um inspetor mais sensível mandou deixá-los numa sala sozinhos. "Mas não pode fotografar. Depois vão dizer que permitimos isso aqui na delegacia", disse ele, com um sorriso de canto de boca.

Minutos depois, chegaram à unidade os dois irmãos da "suspeita", um tanto arrependidos, pedindo para a irmã não ser processada. Mas nem precisava pedir. O detetive na delegacia já decidira que não estava diante de um crime, mas apenas uma história de amor entre dois adultos. "A moça é maior de idade e leva para casa quem ela quiser", disse o policial, decretando o final feliz do episódio.

Mas Yone ficou uma fera com os irmãos. "Eles desrespeitaram minha individualidade", disse ela. Antes de o casal ser liberado, os dois tiveram que ouvir a bronca do delegado. "Da próxima vez, você abre a porta. Ou os irmãos apresentam queixa e você pode ser preso", disse para Augusto. O rapaz ficou calado, mas Yone rebateu: "Que ótimo! Já imaginou a lua de mel no xadrez, sem ninguém para perturbar?".

Augusto e Yvone posando para fotos enquanto ele é levado para delegacia — Foto: Otávio Magalhães
Augusto e Yvone posando para fotos enquanto ele é levado para delegacia — Foto: Otávio Magalhães
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