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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.


A Rainha Elizabeth II em foto de 1992, seu 'annus horribilis' — Foto: Arquivo/AFP
A Rainha Elizabeth II em foto de 1992, seu 'annus horribilis' — Foto: Arquivo/AFP

Foi a própria Rainha Elizabeth II quem disse. No dia 24 de novembro de 1992, a mais longeva monarca da história do Reino Unido, que morreu nesta quinta-feira, aos 96 anos de idade, fez um discurso no palácio de Guildhall, em Londres, para marcar o aniversário de quatro décadas de sua ascensão ao trono e afirmou que "1992 não é um ano para o qual eu vou olhar com prazer". De acordo com ela, "nas palavras de um dos meus correspondentes mais simpáticos, este se tornou um 'annus horribilis'".

O discurso ocorreu dias após um incêndio destruir o Castelo de Windsor, uma das residências favoritas da rainha. Mas não foi apenas aquele incidente que motivou Elizabeth II a recorrer à expressão em latim para definir aquele ano como "horrível". Em 1992, os casamentos de três filhos da monarca acabaram em meio a escândalos com fotos que estamparam as capas dos tabloides durante meses. Para uma matriarca que zelava tanto pela imagem da família real, não poderia haver pesadelo pior.

O então príncipe Charles, primogênito agora nomeado rei Charles III, só se divorciaria da princesa Diana em 1996, mas a crise do relacionamento deles começou a ser explanada pela mídia em 1992. Foi neste período, aliás, que a tensão entre a realeza e a imprensa de celebridades começou a escalar, chegando seu ápice com a morte de Lady Di, em um acidente causado, em parte, por um grupo de paparazzi.

Princesa Diana: Livro que revelou crise entre ela e Charles publicado em 1992 — Foto: Reprodução
Princesa Diana: Livro que revelou crise entre ela e Charles publicado em 1992 — Foto: Reprodução

Aquele ano já começou mostrando sua cara, quando, em janeiro, o príncipe Andrew e sua mulher, Sarah Ferguson, a duquesa de York, foram à mansão de Sandringham, em Norfolk, para contar à rainha que o casamento deles estava indo por água abaixo. No encontro, ficou decidido que o fim da união não seria divulgado durante os próximos seis meses. Mas, em março, o casal anunciou sua separação e, cinco meses depois, a duquesa protagonizaria um dos maiores escândalos do clã naquele ano.

Em agosto de 1992, o polêmico tabloide "Daily Mirror" publicou fotos "comprometedoras", tomadas por um paparazzo sem consentimento, que mostravam a duquesa na sua mansão em Saint Tropez com seu então "consultor financeiro". Nas imagens, feitas a distância, com o uso de uma lente objetiva, o milionário americano John Bryan beijava os dedos do pé de Ferguson ao lado da piscina. Num registro, o filho de 2 anos da princesa aparecia observando enquanto ela e o namorado se beijavam.

Capa do tabloide 'Daily Mirror' com imagens de Sarah Fergusson e o amante — Foto: Reprodução
Capa do tabloide 'Daily Mirror' com imagens de Sarah Fergusson e o amante — Foto: Reprodução

Sarah Ferguson estava no Castelo de Balmoral, na Escócia, junto com a família real, quando soube das imagens na noite anterior a sua publicação. Ela pegou um voo na manhã seguinte para sua casa, em Surrey, mas, ao chegar lá, não havia ninguém na residência para abrir os portões, já então cercado por jornalistas. A princesa teve que esperar dentro do carro enquanto um segurança descia do automóvel para liberar a entrada, o que foi um prato cheio para os quase sempre invasivos paparazzi.

A erosão do casamento entre Charles e Diana também foi a público em 1992. No mês de junho, o jornal "The Sunday Times" publicou trechos do livro "Diana: A verdadeira história dela", expondo a crise em que eles viviam. Depois, transcrições de gravações telefônicas aprofundariam o escândalo. Numa conversa de 1989 divulgada pelo "The Sun", a princesa de Gales falava mal dos Windsors, chamando-os, por exemplo, de "fucking famly" (em português, seria algo como "família de merda").

Uma outra transcrição revelava que o filho mais velho de Elizabeth II estava mantendo um caso com a inglesa Camilla Parker Bowles, com quem ele viria a se casar anos depois. Em uma conversa, Charles dizia para a sua então amante que "queria morar dentro de suas calças".

Capas de tabloids com manchetes sobre a crise entre Diana e Charles — Foto: Reprodução
Capas de tabloids com manchetes sobre a crise entre Diana e Charles — Foto: Reprodução

Tudo isso acontecia enquanto a princesa Anne, única filha da rainha, concluía o rompimento de seus laços com o tenente Mark Phillips, com quem era casada desde 1973. Eles já viviam separados desde 1989, mas foi em meados de 1992 que a aristocrata pediu, finalmente, o divórcio.

Para completar o "ano horrível", no dia 20 de novembro, um incêndio causou estragos no Castelo de Windsor. O fogo começou na capela particular da rainha, quando uma cortina foi consumida pelas chamas após ficar muito tempo pressionada a uma lâmpada. Mesmo combatido, o incêndio se alastrou a outras partes do castelo. Uma corrente humana foi formada para salvar móveis e obras de arte, mas itens de valor se perderam. Os reparos custaram o equivalente a mais de R$ 220 milhões.

Em seu discurso no Palácio de Guildhall, Elizabeth II não rebateu as críticas à família real por conta dos escândalos. "Críticas são boas para pessoas e instituições que são parte da vida pública", ela disse. “Nenhuma instituição deve se considerar livre do escrutínio daqueles que dão a ela sua lealdade e apoio, sem mencionar aqueles que não o fazem". Mas ponderou: "Esse escrutínio pode ser igualmente efetivo se for feito com um toque de gentileza, bom humor e compreensão".

Incêndio no Castelo de Windsor, em 1992 — Foto: Reprodução
Incêndio no Castelo de Windsor, em 1992 — Foto: Reprodução
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