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Por O Globo com agências internacionais — Balmoral, Escócia

O cortejo fúnebre da rainha Elizabeth II chegou a Edimburgo na manhã deste domingo, cerca de seis horas após deixar o castelo escocês de Balmoral. Acompanhada por milhares de pessoas pelo caminho, a viagem foi a primeira etapa da despedida da monarca que governou o Reino Unido por 70 anos, que terminará com seu funeral de Estado no dia 19 de setembro.

A jornada de mais de 280 km pela costa foi demorada, pois o cortejo viajou a velocidade baixa e fez paradas em cidades e vilarejos pelo caminho, como Aberdeen e Dundee. Havia rotas mais curtas, mas o trajeto foi propositalmente escolhido para que mais pessoas pudessem se despedir da soberana. Ainda não se tem uma estimativa de público.

— Pessoalmente, sinto que ela escolheu morrer aqui. Ela sabia que a hora estava chegando. Ela amava a Escócia, e o povo aqui veio em massa — disse ao New York Times Alana McCormick, que aguardava para ver o cortejo em Edimburgo.

O caixão de carvalho está enrolado no estandarte real para a Escócia — a bandeira oficial da Coroa no país — e é adornado com buquês de ervilhas de cheiro, uma das flores favoritas da monarca. Há também uma sacolinha de plástico com um sanduíche de marmelada, notoriamente apreciado por Elizabeth II, com um recado: "um sanduíche de marmelada para sua jornada, senhora".

Caixão com corpo da rainha Elizabeth II, envolvido em seu estandarte real para a Escócia — Foto: Andy Buchanan/AFP
Caixão com corpo da rainha Elizabeth II, envolvido em seu estandarte real para a Escócia — Foto: Andy Buchanan/AFP

Escoltada por uma motocicleta, a comitiva de sete carros levou também a única filha mulher de Elizabeth II, a princesa Anne, que está acompanhada do marido, Timothy Lawrence. Em Edimburgo, o corpo foi levado para o Palácio de Holyroodhouse, a residência oficial da Coroa na cidade.

O caixão foi tirado do carro e carregado em silêncio por uma guarda de honra observada por Anne e seus dois irmãos mais novos, os príncipes Andrew e Edward, e a mulher do caçula da rainha, Sophie. Em seguida, o corpo foi levado para o Salão do Trono, onde pernoitará.

Princesa Anne, em cortejo fúnebre para a rainha Elizabeth II — Foto: IAN FORSYTH/AFP
Princesa Anne, em cortejo fúnebre para a rainha Elizabeth II — Foto: IAN FORSYTH/AFP

A cidade se blindou para receber o corpo de Elizabeth II, montando um forte esquema de segurança e fechando ruas para garantir que o cortejo "se desenrole com segurança e dignidade". O acesso do público a Holyroodhouse foi fechado, e o funcionamento de monumentos e prédios oficiais, inclusive o Parlamento, está interrompido desde sexta-feira.

Os preparativos antecipam também as cerimônias de segunda-feira, quando o corpo deixará o palácio em uma procissão até a Catedral de Saint Giles, a cerca de um quilômetro de distância. O caminho será percorrido a pé pelo rei Charles III e outros parentes a partir de 14h35 (10h35 no Brasil), antes de uma cerimônia para a família às 19h20 (15h20 no Brasil).

Nas 24 horas seguintes, terá lugar o que os britânicos chamam de vigília dos príncipes: haverá constantemente um parente presente junto ao corpo da monarca. Pela primeira vez, o caixão poderá também receber a visita da população, e a expectativa é de que milhares façam fila para prestar suas homenagens.

Às 17h (13h no Brasil) de terça, o caixão deve ser levado para o aeroporto de Edimburgo, de onde será transportado em um avião da Real Força Aérea para Londres. O corpo da rainha será acompanhado no traslado de 55 minutos pela princesa Anne.

Ao chegar à capital britânica, irá direto para o Palácio de Buckingham, onde será recebido pela Guarda do Rei e levado para um salão circular com amplas janelas e colunas de mármore. Às 14h22 de quarta (10h22 no Brasil), o corpo sairá novamente em procissão, desta vez até o Parlamento, levado em uma carruagem . Será a segunda vez em três dias que a família caminhará atrás do caixão, e haverá novas salvas de canhão.

O corpo permanecerá por quatro dias em Westminster, a sede do Legislativo, onde poderá novamente ser visitado pela população. Sairá de lá apenas na segunda-feira, dia 19, quando acontecerá o velório na Abadia de Westminster, no centro de Londres — o primeiro funeral de Estado desde o realizado em 1965 para o ex-primeiro-ministro Winston Churchill.

Cortejo fúnebre da rainha Elizabeth II chega a Edimburgo — Foto: Odd Andersen/AFP
Cortejo fúnebre da rainha Elizabeth II chega a Edimburgo — Foto: Odd Andersen/AFP

A expectativa é de que centenas de autoridades e chefes de Estado e governo viajem à capital britânica para a cerimônia. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já disse que irá ao Reino Unido. O presidente Jair Bolsonaro, segundo informações levantadas pelo GLOBO, também estuda fazer a viagem.

Na noite do dia 19, haverá uma cerimônia particular para os parentes da monarca, antes de seu enterro na Capela Memorial rei George VI, no Castelo de Windsor, nos arredores de Londres.

O novo rei, enquanto isso, também tem atribuições oficiais um dia após ser oficialmente proclamado rei. Charles III tornou-se chefe de Estado imediatamente após a morte da mãe, e foi oficialmente proclamado em uma cerimônia altamente coreografada neste sábado. A cerimônia de coroação ainda não tem data prevista, mas deve demorar alguns meses.

Proclamações similares às de sábado, que anunciam o início do novo reinado com vocabulário em desuso que remetem às fundações do Estado britânico moderno, continuam a ser lidas por arautos com roupas medievais pelo país neste domingo nas outras partes integrantes do Reino Unido: além da Inglaterra, formam a união a Escócia, a Irlanda do Norte e o País de Gales.

Em Edimburgo, a cerimônia começou de manhã com trompetes, tiros de canhão e desfile de membros da Companhia Real de Arqueiros, guarda da monarquia na Escócia. Houve também um pequeno protesto antimonarquista, assim como em Gales. Na capital escocesa, uma mulher foi presa por "violar a paz".

Cerimônias de proclamação também ocorreram em outros países da Comunidade Britânica, como a Austrália e a Nova Zelândia. As repercussões políticas da transição de reinado, contudo, começam a surgir: no poder desde maio, o premier australiano, Anthony Albanese, prometeu que não realizará um referendo que havia prometido para o país se tornar uma república — ele já disse em várias ocasiões ser favorável à mudança. Já o país caribenho Antigua e Barbuda promete fazer a votação em até três anos.

Na Irlanda do Norte, a presidente do partido nacionalista Sinn Féin, Mary Lou McDonald, já disse que a legenda, a maior do Parlamento da província, não participará das cerimônias de proclamação. Apesar de reconhecerem "o papel muito positivo da rainha" na reconciliação das Irlandas, disse ela, os eventos para Charles III são "para aqueles cuja aliança política é com a Coroa britânica".

Na própria Escócia, cabe ver se a morte da monarca vai impactar de alguma forma o sentimento pró-independência. Em junho, a premier Nicola Sturgeon reativou a campanha por um novo referendo, alegando que o país estaria melhor separado de Londres.

Diante desse quadro, a turnê de Charles III pelas quatro partes integrantes do Reino Unido nos próximos dias terá um papel importante para que o novo e impopular rei comece a conquistar os britânicos. O apoio deve vir ao menos enquanto o luto oficial predominar. Neste domingo, por exemplo, Charles foi ovacionado ao sair do Castelo de Windsor para se dirigir ao Palácio de Buckingham, onde recebeu a secretária-geral da Comunidade Britânica, Patricia Scotland, e representantes de vários de seus países-membros.

Os números, contudo, servem de alerta: pesquisas do segundo trimestre mostram que a popularidade de Charles como príncipe era de 42% — bem menos que os 66% de seu filho mais velho, William, alçado ao primeiro lugar na linha de sucessão e promovido pela Coroa como seu futuro. O mesmo levantamento do YouGov mostrava que quatro em cada dez britânicos preferiam que o trono pulasse uma geração e fosse direto da rainha para William.

O governo britânico confirmou que a primeira-ministra Liz Truss participará de algumas das cerimônias de Charles III pelas províncias. Antes, havia sido divulgado que a premier acompanharia o rei em sua turnê, mas a má repercussão da notícia fez seu Gabinete esclarecer que ela apenas irá aos eventos em homenagem à rainha.

A premier foi empossada na terça-feira em Balmoral, substituindo Boris Johnson, em uma cerimônia de transição de poder que foi o último ato público de Elizabeth II como rainha. Seus desafios são similares aos do novo monarca: representa um Partido Conservador atrás nas pesquisas para as eleições gerais em um momento no qual a inflação bate seu recorde de décadas de 40%.

Se Charles herdou o trono, Truss foi eleita nova chefe de governo por apenas 0,3% dos britânicos — percentual da população filiada do Partido Conservador, que fez uma consulta interna após a renúncia de Boris. Ambos, portanto, precisam mostrar ao país a que vieram.

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