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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.


Henri Paul, momentos antes do acidente que matou Diana, em imagem de câmera do Hotel Ritz — Foto: Reprodução
Henri Paul, momentos antes do acidente que matou Diana, em imagem de câmera do Hotel Ritz — Foto: Reprodução

A princesa Diana e o produtor egípcio Dodi Fayed, filho do bilionário Mohamed Al-Fayed, chegaram a Paris numa manhã de sábado, 30 de agosto de 1997, após uma viagem de nove dias pela Riviera Francesa e Italiana no luxuoso iate Jonikal, de propriedade do empresário. O plano era passar uma noite na "cidade luz" antes de seguir para Londres. Depois de aterrizar com um jato particular no aeroporto de Paris-Le Bourget, o casal foi levado para o Hotel Ritz num carro dirigido pelo francês Henri Paul.

Aos 41 anos de idade, Paul era um ex-capitão da Força Aérea Francesa que deixara a farda aos 29 para atuar no setor privado. Ele trabalhou durante 11 anos com a família de Al-Fayed e alcançara o cargo de chefe da segurança do prestigiado Hotel Ritz, que até hoje pertence ao bilionário egípcio.

Mais tarde naquele dia, Paul ainda levou Diana para fazer compras, antes de terminar o seu expediente, às 19h. Entretanto, cerca de três horas mais tarde, o ex-militar foi chamado para conduzir a princesa e Dodi do hotel para o apartamento do produtor, perto do Arco do Triunfo, numa área nobre de Paris. A distância entre os endereços era bem curta, mas o desafio do trajeto seria driblar o pelotão de dezenas de paparazzi dispostos a tudo para fotografar o casal de celebridades deixando o hotel.

A princesa Diana deixa o Hotel Ritz minutos antes de sua morte, em 1997 — Foto: Arquivo/AFP
A princesa Diana deixa o Hotel Ritz minutos antes de sua morte, em 1997 — Foto: Arquivo/AFP

Ao chegar no Ritz, o motorista foi filmado caminhando na direção do bar, onde ele esperou até a saída do casal, pouco depois de meia-noite. Dois veículos seriam usados como isca para atrair os paparazzi: um utilitário Range Rover, com o motorista de Fayed ao volante, e uma Mercedes-Benz preta. Uma segunda Mercedes é, então, alugada para levar Diana e Dodi até o apartamento do produtor.

Enquanto o Range Rover deixava a entrada principal do Ritz, levando consigo uma boa parte dos fotógrafos, o casal se dirigiu até os fundos do hotel, na Rua Cambon, e saiu do prédio no banco traseiro do automóvel conduzido por Henri Paul às 0h20, com o britânico Trevor Rees-Jones, segurança pessoal da família Fayed, no banco do passageiro. Quatro minutos depois, ocorreu a tragédia que gerou comoção global e continua sendo lembrada, um quarto de século depois.

Eram 0h23 daquele domingo, 31 de agosto de 1997, quando Paul perdeu o controle da Mercedes-Benz W140 S-Class. Na tentativa de despistar os paparazzi que não haviam sido enganados pelas "iscas" na porta do hotel e perseguiam o automóvel, o motorista francês dirigia a 105km/h, o dobro do limite de velocidade permitido no estreito túnel debaixo da Pont de l'Alma. O carro bateu em um Fiat Palio branco e se chocou violentamente com um dos pilares da passagem subterrânea.

Diana e Dodi Fayed em imagem de circuito interno do Hotel Ritz, antes do acidente — Foto: Reprodução/Arquivo/AFP
Diana e Dodi Fayed em imagem de circuito interno do Hotel Ritz, antes do acidente — Foto: Reprodução/Arquivo/AFP

Diana, Dodi e Paul morreram no acidente. Rees-Jones passou dez dias em coma, mas sobreviveu. Uma investigação posterior mostrou que, se estivessem usando cintos de segurança, a princesa e o produtor egípcio teriam aumentado em 80% as suas chances de saírem com vida.

As polícias francesa e inglesa conduziram apurações em meio a teorias da conspiração segundo as quais a tragédia fora orquestrada pelo serviço secreto inglês, para evitar que Diana se casasse com Dodi. O próprio Mohamed Al-Fayed sustentou essa hipótese. Ele se disse "desapontado" quando, em 2008, a conclusão de um inquérito britânico instalado para averiguar a veracidade de tais teorias chegou ao mesmo veredito que investigações anteriores: o acidente foi causado pela ação invasiva dos paparazzi e pelo ex-capitão Henri Paul, que estava embriagado ao volante.

Não se sabe até hoje o que o motorista fez no intervalo de três horas entre o fim de seu expediente e o retorno para buscar o casal no hotel. Mas a conta dele no bar do Hotel Ritz mostra que o segurança havia bebido duas doses de Ricard, um drinque muito comum na França, feito a base de anis. Exames apontaram que o condutor tinha 1,75 grama de álcool por litro de sangue (mais de três vezes acima do limite no país). O laudo laboratorial também indicou traços de substâncias antidepressivas, o que pode ter ampliado os efeitos do álcool no organismo do ex-militar.

Pelo menos uma testemunha contou que Paul falava e se movimentava como se estivesse de fato embriagado antes do acidente. Mas as imagens das câmeras de segurança sugerem o contrário. Nos vídeos, ele aparece amarrando os sapatos e subindo lances de escada com destreza. Curiosamente, uma imagem também mostra o motorista, aparentemente, acenando para paparazzi nos fundos do hotel, antes de sair com o carro, como se estivesse os alertando. Em 2008, a corte também ouviu uma testemunha relatando que ele falou aos fotógrafos: "Vocês não vão conseguir me alcançar".

Amigos e parentes do ex-militar se opuseram às alegações de que Paul era um bêbado, dizendo que ele nunca demonstrara ter problemas com álcool. Mas o relatório de 2008, lido por uma juíza ao final do inquérito, deixou claro: "O acidente foi causado pela velocidade e forma de condução da Mercedes, a velocidade e forma de condução dos veículos que o perseguiam, o comprometimento do julgamento do motorista da Mercedes por causa do álcool".

O Mercedes-Benz que levava Diana e Dodi, após o acidente, em 1997 — Foto: Arquivo/AFP
O Mercedes-Benz que levava Diana e Dodi, após o acidente, em 1997 — Foto: Arquivo/AFP
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