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Por Vivian Oswald, especial para O Globo — Londres

As primeiras fotos oficiais de Charles III foram divulgadas na sexta-feira, pouco mais de 24 horas após o anúncio da morte de sua mãe, quase ao mesmo tempo em que o novo rei falava em continuidade e na conservação do papel institucional da monarquia em seu primeiro pronunciamento à nação. Isso no mesmo dia em que os britânicos acordaram cercados por painéis luminosos com imensas fotos de perfil da rainha Elizabeth II, que morrera na véspera aos 96 anos, em fundo negro. Já os sites da família real começaram a ser atualizados no próprio dia do falecimento. A “firma”, como ficou conhecida a máquina por trás do Palácio de Buckingham, não perde tempo. Afinal, não existe vácuo de poder, muito menos em uma monarquia.

Tempo para se acostumar

Era preciso que as imagens da monarca marteladas no imaginário coletivo nos 70 anos de seu reinado dessem lugar às do novo chefe da Casa de Windsor. Se as pessoas não estão acostumadas à ideia de se referir a Elizabeth II no passado, como admitiu o ex-primeiro-ministro Boris Johnson em discurso no Parlamento, elas tampouco tiveram tempo de se habituar a chamar o até então príncipe Charles de rei.

Esse é um dos seus maiores desafios daqui por diante. Ele precisa ser aceito e querido por seus súditos. Até pouco tempo, muita gente nem sequer conseguia vê-lo como futuro chefe de Estado. Pesquisa do YouGov de maio último indicava que quase 40% da população preferiam ver o príncipe William, agora o novo príncipe de Gales, no trono.

Para especialistas, no entanto, Charles conquistará a admiração dos britânicos com o tempo, e a “firma” trabalha que para que isso ocorra rapidamente. Não por acaso, o plano com todos os ritos da sucessão já estava pronto há anos. É ali que se constrói a narrativa do novo protagonista da monarquia constitucional.

— É difícil imaginar que o Reino Unido terá novamente uma figura tão admirada. No futuro, a instituição da monarquia estará sujeita a cada vez mais críticas, e superá-las será o maior desafio para sua sobrevivência — disse ao GLOBO Pauline MacLaran, professora na Royal Holloway, da Universidade de Londres, e coautora do livro “Royal fever: the British monarchy in consumer culture” (Febre real: a monarquia britânica na cultura do consumo).

Para Phill Lewis, advogado na City, o coração financeiro da capital, trata-se de uma questão de “marca”. O que o palácio está fazendo agora, disse ele a um grupo de amigos, é trocar uma “marca registrada”.

— E isso não é fácil, principalmente quando a antiga marca era tão conhecida e reconhecida — afirmou na saída do metrô de Tottenham Court Road, diante de imenso painel com o rosto da rainha.

Tudo indica, porém, que a população está disposta a dar a Charles III seu voto de confiança. Para o economista Tom Hewitt, o novo monarca vai se sair bem, porque está mais velho e, por isso, maduro.

‘Pronto para o emprego’

Hewitt suspendeu todos os seus compromissos de trabalho em Worcesterchire, na sexta-feira, e dirigiu duas horas e meia até o Palácio de Buckingham para participar do que chamou de atmosfera de união que reunira tantas pessoas ali no centro da capital.

— Ele está pronto para o emprego. Se você me perguntasse há 20 anos, eu jamais te diria — disse Hewitt. — Estou otimista. E acho que ele precisa aproveitar o momento em que todos estão solidários à família que acaba de perder a matriarca. Ele já disse que seguirá os passos da mãe, vai manter o compromisso de não se meter nos assuntos políticos. E acho que as pessoas já superaram a história da Camilla — completou, referindo-se à nova rainha consorte, que foi responsabilizada pelo divórcio de Charles da então venerada princesa Diana, nos anos 1990.

Jan King esteve na coroação de Elizabeth II e não resistiu ao impulso de deixar uma cartinha e uma rosa amarela, a cor preferida da monarca, em sua homenagem em frente ao palácio. “O paraíso celebra uma vida bem vivida e cheia de admiração”, diz o início da nota, que termina com o lembrete: “Estive em sua coroação e agora no seu passamento.” Ela assina. King ama a monarca, mas se diz preparada para receber Charles III.

— Há alguns anos, jamais aceitaria. Mas ele se tornou um homem bom. Teve um casamento infeliz. Agora, Camilla o faz feliz, é um boa influência sobre ele. É um homem maduro — afirmou ela.

Nascido em Hong Kong, antiga colônia britânica, Brandon Po desembarcou há apenas uma semana no Reino Unido para estudar. Ele e o pai, que visita o país, foram deixar flores em frente ao palácio. Po gosta da ideia de Charles como novo rei. E diz que gostaria que ele praticasse uma mania antiga: opinar sobre temas que lhe são caros.

— Ele tem posições interessantes sobre direitos humanos, dos animais, sobre mudança do clima. Acho que expô-las pode dar um ar de modernidade à monarquia. Estamos aqui porque entendemos a importância deste momento — afirmou Po.

A dupla Kate e Melissa Preston foi passear com seu chihuahua em frente ao palácio para entender a mudança no reino. Na mesma semana, o país trocou de primeiro-ministro e de monarca. Situação semelhante só aconteceu em 1830.

— Acho que ele está preparado. Vamos esperar para ver no que vai dar. Se falar demais, e daí? Acho que precisa cumprir o seu papel com discrição, como a rainha. Mas ele é o rei, afinal de contas — diz Melissa.

Para Alex Martel, não resta dúvida de que o rei está preparado para a nova missão:

— Ele esperou muito tempo. Não vejo mal em usar influência política para lidar com temas importantes para o planeta, como a mudança do clima.

Coreografia emprestada

Charles III não tem o carisma da mãe. Seu reinado começa em um momento delicado no país, com o aumento dos combustíveis fazendo a inflação explodir. Isso azeda o ambiente e abre caminho para críticas. E a monarquia, instituição considerada cada vez mais anacrônica, pode ser um alvo preferencial. Daí a importância das palavras escolhidas no primeiro discurso de Charles III e da sua nova coreografia.

Para surpresa de todos, na sexta-feira ele repetiu o que fizera sua mãe por ocasião da morte de Diana em um acidente de automóvel há 25 anos, quando fugia de paparazzi. Ao chegar ao Palácio de Buckingham, saltou do carro, leu os bilhetes dos súditos, passeou entre os buquês de flores e acenou para todos.

— O papel e as obrigações da monarquia devem perseverar — afirmou.

O novo rei insistiu na ideia do sacrifício do monarca pelo trono, algo que todos os integrantes da família parecem ser instruídos a repetir. Lembrou a vida de abnegação da mãe, reconhecida pela inabalável capacidade de cumprir com as suas funções. “Nunca se queixar, nunca explicar”: este teria sido uma espécie de código de conduta criado pelo ex-primeiro-ministro Benjamin Disraeli, que ocupou o cargo duas vezes, de 1868 a 1880, para a relação entre a monarquia e a imprensa.

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