Lula ao UOL: Milei 'tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim'

O presidente Lula (PT) disse hoje (26) em entrevista ao UOL que o presidente argentino, Javier Milei, deve desculpas ao Brasil e a ele porque "falou muita bobagem". Lula ainda defendeu que os foragidos do 8/1 fiquem presos na Argentina se não for possível extraditá-los.

"Tem que pedir desculpas"

Lula explicou por que até hoje não se reuniu com Milei. "Eu não conversei com o presidente da Argentina porque acho que ele tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim, ele falou muita bobagem, só quero que ele peça desculpas", afirmou.

Para Lula, Milei cria uma rivalidade desnecessária com o Brasil. "A Argentina é um país muito importante para o Brasil, e o Brasil é muito importante para Argentina. Não é um presidente da República que vai criar uma cizânia entre Brasil e Argentina. O povo argentino e povo brasileiro são maiores que os presidentes."

Se o presidente da Argentina governar a Argentina, já está de bom tamanho, e não tentar governar o mundo.
Presidente Lula, ao UOL

Governo argentino reage

"Milei não tem do que se arrepender." O porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, disse em coletiva de imprensa que o presidente argentino Javier Milei "não fez nada do que tenha que se arrepender, pelo menos por enquanto". A fala ocorreu momentos após a declaração de Lula ao UOL.

Lula e Milei se cumprimentaram na Itália, disse o governo argentino. Milei está no poder há mais de seis meses, e os dois presidentes ainda não se reuniram. O porta-voz da Casa Rosada afirmou que, na cúpula do G7, realizada há menos de duas semanas na Europa, Milei "não falou com Lula em uma reunião bilateral, mas se cumprimentaram como dois presidentes devem fazer. Nada mais dá para dizer".

Os dois estarão no Mercosul em julho, mas ainda sem perspectiva para uma reunião bilateral. Sobre a presença dos dois países na cúpula do Mercosul, nos dias 7 e 8 de julho no Paraguai, a Casa Rosada limitou-se a confirmar a presença do presidente argentino no evento. "Efetivamente, o presidente Milei estará na reunião do Mercosul no dia 8 de julho".

Lula defende prisão de foragidos

Lula defendeu a prisão de foragidos do 8/1. Na semana passada, a chanceler da Argentina, Diana Mondino, enviou ao Itamaraty uma lista com mais de 60 fugitivos investigados ou condenados pelos ataques de 8 de janeiro.

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"Se os caras não quiserem vir, que fiquem presos lá, fiquem presos na Argentina. Se não, venham para cá", disse Lula hoje. A fuga de foragidos do 8/1 foi revelada em maio pelo UOL.

O tema, afirmou, é tratado "da forma mais diplomática possível". "Você tem uma parte já condenada, essa parte, tanto o ministro Lewandowski [Justiça], quanto o Andrei [Rodrigues] da Polícia Federal, mais o Mauro Vieira, do Itamaraty, estão discutindo", afirmou.

Lula não quer problemas com Milei

Segundo o UOL apurou, Lula não quer pressionar o presidente argentino. Fontes diplomáticas afirmam que o caso —encarado como inédito e sensível— tem potencial de provocar problemas entre os países vizinhos, se o governo do ultraliberal aceitar os 80 pedidos de refúgio político feitos à Argentina por condenados e investigados pelos atos golpistas.

Governo já sinalizou que vai entrar com pedidos de extradição. A relação com os mais de 60 nomes de fugitivos foi entregue ao gabinete o ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos criminais no STF, na semana passada. Estima-se que a quantidade de foragidos seja ainda maior porque muitos entraram ilegalmente no país vizinho. Cerca de dez pessoas já teriam deixado a Argentina.

Relação com Milei

A Argentina ensaia uma aproximação com o Brasil após os ataques de Milei enquanto candidato. Em maio, Mondino disse a um jornal local que torce por um encontro entre o argentino e Lula.

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A chanceler ignorou a divergência ideológica entre os dois e disse que o encontro ainda não aconteceu por falta de oportunidade. "Até agora, a oportunidade não foi dada. Mas espero que isso aconteça. E se não, você tem a garantia de que isso acontecerá na reunião do G20 [no Rio de Janeiro]", afirmou.

Mondino visitou o Brasil em abril e entregou uma nova carta de Milei para Lula. No documento, o governo argentino defende a manutenção de uma boa relação bilateral entre os dois países. O Palácio do Planalto não informou se o presidente leu a mensagem.

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