Thais Bilenky

Thais Bilenky

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

A votação em que Lula e Bolsonaro derrotaram Lira

A inclusão da carne na cesta básica uniu Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) e resultou numa derrota para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O atual presidente e o seu antecessor trabalharam para deixar a carne sem incidência de IVA (imposto sobre valor agregado), o imposto criado a partir da reforma tributária. A medida foi aprovada na quarta-feira (10) na Câmara.

Lira, porém, defendia a cobrança de 60% da alíquota de IVA sobre a carne. Foi convencido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, do efeito cascata que a isenção da carne terá na economia. Pecuarista, Lira disse que bancaria a ideia mesmo sabendo que iria contrariar a bancada ruralista, da qual faz parte.

O presidente da Câmara acabou se indispondo com a numerosa Frente Parlamentar Agropecuária, que não cedeu no pleito de isentar a carne. Lira foi até Bolsonaro pedir ajuda para convencer o PL — maior bancada da Casa, com 93 deputados — a não insistir na isenção da carne.

Bolsonaro não se comprometeu. A bancada ruralista apresentou um destaque, que é uma espécie de anexo ao projeto principal votado. O texto foi aprovado com farta maioria — 477 votos a favor e 3 contra.

Lula costurou de tal forma que não tinha como perder. Se a proposta de Haddad (e de Lira) fosse aprovada, seria uma vitória do seu Ministério da Fazenda. Se a isenção da carne é que fosse aprovada, como o foi, seria a sua posição a que prevaleceu.

Bolsonaro fez algo parecido. Não queria dar apoio à reforma tributária, um dos principais projetos do governo de seu adversário político. Então seu partido apresentou uma mudança cuja vitória poderia chamar de sua.

Foi o que aconteceu.

Ao final da votação, Lira disse que o texto aprovado era o texto possível e ressaltou a inclusão de uma trava que impedirá no futuro que a alíquota de IVA passe dos 26,5% previstos.

A picanha de Lula

Lula fez da picanha uma bandeira política. Na campanha de 2022 prometia churrasco e cerveja de volta para a população. O mote irritou o adversário. "Vai acreditar nessa conversa mole de que todo mundo vai comer picanha todo final de semana? Não tem filé mignon para todo mundo", Bolsonaro chegou a esbravejar em agosto de 2022, durante a campanha.

Continua após a publicidade

Mas Lula estava focado, e por uma razão também pessoal. Ele sempre foi adepto do churrasco como forma de confraternizar. Depois que saiu da Presidência, adotou o hábito de fazer churrasco com o estafe do Instituto Lula toda semana.

Foi preso e ao sair da cadeia acabou confinado por conta da pandemia de covid. Fez isolamento social com Janja, sua esposa, e três assessores. Passaram a fazer churrascos juntos com frequência, e Lula se indignou com o preço da carne.

Todo dia pedia a um assessor pra fazer a ronda no site dos supermercados e ver os preços. Em alguma live, tocou no assunto. Percebeu o engajamento e gradualmente foi pondo a picanha no centro do discurso que o levaria de volta ao Palácio do Planalto.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes