Por Memoria Globo

Acervo/Globo

Origem e missão

O 'Profissão Repórter' foi criado a partir do desejo de Caco Barcellos, que via espaço na televisão para a produção de grandes reportagens. Com uma trajetória ligada ao jornalismo investigativo e um olhar voltado para o aprofundamento de questões sociais, o jornalista conta que desde os anos 1990 pensava em um projeto de reunir colegas “afinados” para produzirem um programa com reportagens de longo alcance, com histórias que levassem em conta diferentes ângulos. A oportunidade de dar corpo à ideia veio quando, de volta de uma temporada como correspondente internacional em Londres, foi procurado por Marcel Souto Maior, jornalista que havia participado da criação da GloboNews e então trabalhava como editor no 'Linha Direta', para propor que pensassem um programa.

Marcel Souto Maior relembrou esses primeiros momentos em depoimento ao livro 'Profissão Repórter, 10 anos' (ed. Planeta, 2016):

"Comecei a ter sonhos recorrentes com Caco. Nesses sonhos -- sempre muito realistas -- trabalhávamos juntos em um novo programa e parecíamos bem felizes. Tão felizes que tomei coragem e liguei para ele, assim que ele desembarcou no Brasil, de volta de sua experiência internacional. Quem sabe nos uniríamos em um novo projeto? Será que ele tinha alguma ideia? Tinha! 'Um programa semanal, investigativo, de 22 minutos, com uma temática central: justiça', ele resumiu. A proposta era registrar, 'de diferentes ângulos', os bastidores de julgamentos nas áreas cíveis e criminais. Nas três páginas hoje amareladas do projeto encaminhado por Caco à direção da Globo estava um conceito fundamental do Profissão Repórter: o de cruzar olhares e revelar diferentes pontos de vista sobre o mesmo fato, a mesma notícia."

Veio de Marcel a sugestão de envolver jovens profissionais: “Olhei aquilo e juntei com outro projeto que eu tinha, que é o fascínio, a vontade que sempre tive – acho que isso veio da GloboNews –, que é de trabalhar com gente jovem. E aí nós conversamos ali e, juntos, fomos chegando a esse desenho. São diferentes olhares sobre o mesmo fato, a mesma notícia, mas construídos por novos olhares. Você tem uma equipe jovem, liderada por um repórter experiente. Essa mistura da expertise, da experiência, com uma equipe em formação”.

Para a formação da primeira equipe, eles usaram a experiência bem sucedida do programa Estagiar, que selecionava estudantes para trabalhar na TV Globo. “Fui atrás dos colegas que já trabalhavam com o Estagiar, pedindo sugestão, pedindo indicação, porque eu queria formar uma equipe de jovens repórteres. O que me passaram foi uma lista com os classificados nos últimos cinco anos. Dava um grupo de aproximadamente 150 profissionais. Foi a partir daí que eu fiz a seleção. Esses profissionais foram selecionados para trabalhar em vários departamentos da TV Globo, não só na área de reportagem. E eu fui atrás daqueles que tinham o perfil do repórter, da forma como acredito que seja interessante, características que acho fundamentais”, conta Caco Barcellos, que estabeleceu a base da redação em São Paulo.

A dinâmica de trabalho montada para o funcionamento do programa tinha em vista a figura do repórter como centro das atividades. Nele estavam concentradas as funções de apuração, produção, reportagem e edição – sob supervisão, orientação e incentivo de Caco. Com o tempo, uma equipe de editores responsáveis por costurar o material pré-editado pelos repórteres se juntou à equipe para dar mais celeridade ao trabalho e agregar uma visão mais ampla, que levasse em conta os diferentes pontos de vista apresentados pelas equipes na criação de uma narrativa final.

Outra particularidade do trabalho do 'Profissão Repórter' desde a estreia é a câmera. O repórter deveria ser capaz de filmar suas próprias matérias, com câmera na mão, figurando, ao mesmo tempo, como personagem da reportagem, na perspectiva do repórter cinematográfico. A cada edição, os desafios da reportagem e os bastidores da notícia – mote que deu origem ao slogan do programa – são abordados por imagens de bastidores, pelos comentários dos repórteres, por meio das conversas entre os profissionais na ilha de edição ou em reuniões de pauta. Por isso, o 'Profissão Repórter' se tornou uma espécie de escola de novos talentos dentro da TV Globo. Os profissionais ali formados foram para várias outras áreas e programas, como as editorias locais, a GloboNews, o 'Como Será?', o 'Encontro com Fátima Bernardes' ou o 'Mais Você'. Como destaca Carlos Henrique Schroder, ex-diretor da Central Globo de Jornalismo, quando o programa entrou na grade da emissora: “É uma equipe muito polivalente, e o ideal é isso: você começa ali, passa um ou dois anos, e depois tem que ir para um outro ambiente, porque a ideia do projeto é renovação”.

Embora a redação do 'Profissão Repórter' fique em São Paulo, suas pautas não têm limites geográficos. Além de pensar em assuntos quentes, que estão na ordem do dia, os profissionais mantêm em vista cinco temas considerados chave da realidade brasileira: violência, educação, transporte, moradia e saúde.

Laboratório: 'Globo Repórter' e 'Fantástico'

O 'Profissão Repórter' foi ao ar na grade de programação da Globo no dia 3 de junho de 2008, numa terça-feira, às 23:25. Antes disso, no entanto, o formato foi testado como um especial no 'Globo Repórter' e, durante mais de um ano, como um quadro do 'Fantástico'. “Eu acho que é uma ideia muito inteligente e sábia do Schroder essa de experimentar primeiro um projeto que tinha umas características inovadoras, e algumas características que navegavam mais ou menos na contramão daquilo que é a tradição da dinâmica de trabalho nas redações. Experimentando dentro já de uma revista eletrônica consagrada, sólida, no meio de várias reportagens, eu acho que permitiria a gente observar se poderia dar certo ou não. E acho que era uma maneira, também, de perguntar para o público o que acha de um projeto assim”, reflete Caco Barcellos.

Programa Globo Repórter sobre o trânsito nas grandes metrópoles. Globo Repórter, 28/04/2006.

Programa Globo Repórter sobre o trânsito nas grandes metrópoles. Globo Repórter, 28/04/2006.

A edição especial que foi ao ar no 'Globo Repórter' foi conduzida por Caco Barcellos, que acompanhou a trajetória de um casal cuja mulher, frente a uma crise de asma, terminou morrendo dentro do carro devido ao trânsito de São Paulo. Jovens repórteres exploravam diferentes ângulos do problema do tráfego e transporte urbano em outros pontos da cidade. A edição ficou a cargo da equipe do programa e foi exibida em 28 de abril de 2006. No dia 7 do mês seguinte, o quadro estreava no 'Fantástico', em uma versão de cerca de 12 minutos com uma matéria sobre pichadores. O formato ficou no ar até 9 de março de 2008, pouco antes de sua estreia como programa autônomo. Paralelamente, a equipe trabalhava em um programa piloto, sobre a desocupação de um prédio invadido por grupo de sem-teto em São Paulo, e no programa de estreia, sobre transplantes de coração.

Matéria sobre pichadores na estreia do quadro Profissão Repórter no Fantástico. Fantástico, 07/05/2006.

Matéria sobre pichadores na estreia do quadro Profissão Repórter no Fantástico. Fantástico, 07/05/2006.

Equipe do Profissão Repórter acompanha a torcida do Corinthians. Fantástico, 02/12/2007.

Equipe do Profissão Repórter acompanha a torcida do Corinthians. Fantástico, 02/12/2007.

Além disso, entre dezembro de 2006 e dezembro de 2007, foram produzidos quatro especiais. O especial de fim de ano 'Vida do Mar', exibido em 14 de dezembro de 2006, falou sobre as aventuras dos trabalhadores do mar, nas plataformas de petróleo e submarinos da Marinha. Os outros programas foram exibidos em 2007: 'O Brasil Sobre Duas Rodas', em 30 de agosto; 'O Brasil da Hora-Extra', em 18 de outubro; e 'Em Busca do Sucesso', em 13 de dezembro.

Primeira equipe

A primeira equipe do programa foi formada por Caco Barcellos, com Felipe Gutierrez, William Santos, Caio Cavechini, Nádia Bochi, Júlia Bandeira, Ana Paula Santos, Nathalia Fernandes e Juliana Maciel – todos atuando na reportagem, produção e edição. Emilio Mansur e Cauê Angeli eram os repórteres cinematográficos; na edição de texto estava Patrícia Carvalho; na edição de imagem, Donisete Araújo; na coordenação de pauta, Mariane Salermo. A direção ficava a cargo de Marcel Souto Maior, que permaneceu no posto até 2010.

Exibição

O 'Profissão Repórter', em sua estreia, era exibido às terças-feiras à noite. A primeira edição era anunciada depois do programa 'Toma Lá Dá Cá' e entrou no ar às 23h25. Em 2010, o programa ia ao ar em torno das 23h15. No ano seguinte, há registros de exibição às 23h45. Essas pequenas flutuações obedecem às demandas de programação da emissora, que eventualmente podem variar em função de duração de alguns programas, possíveis plantões etc. A temporada de 2015 começou numa terça (10 de fevereiro), logo após o 'Big Brother Brasil'.

Em 2016, ano em que completou 10 anos no ar, o programa foi transferido para quarta-feira, depois da tradicional partida de futebol exibida pela emissora. Com isso, na temporada que começou em 6 de abril deste ano, passou a ser exibido por volta das 23h45. Em 2018, o programa teve uma pausa, devido à transmissão dos jogos de futebol da Copa do Mundo da Rússia, ocorrida entre 14 de junho e 15 de julho. Em 2021, o programa voltou a ser exibido às terças-feiras.

Pandemia da Covid

Quando, em 2020, o Brasil foi surpreendido pela chegada da pandemia de Covid-19 em seu território – que rapidamente se espalhou pelo país, provocando centenas de milhares de mortes – a Globo interrompeu a gravação de alguns de seus programas e fez adaptações em sua grade de programação para aumentar o tempo de conteúdo noticioso, de forma a garantir a oferta de informação relevante e confiável sobre a pandemia e seus desdobramentos.

O jornalismo foi considerado um serviço essencial, e os veículos do Grupo Globo adotaram protocolos altamente rígidos e trabalho remoto, mandatório para funcionários considerados grupo de risco. Com isso, a temporada do 'Profissão Repórter' foi cancelada, mas a equipe seguiu produzindo matérias para programas e telejornais. O programa só voltou ao ar em 2021, com Caco Barcellos trabalhando de um pequeno estúdio montado em sua casa. O repórter voltou à redação do programa em 27 de maio, depois de completar o ciclo de imunização vacinal contra a doença.

Renovação constante

A cada nova temporada, uma equipe de jovens repórteres passa a integrar o programa. Em maio de 2009, uma nova integrante da equipe foi escolhida através de vídeos enviados para a redação do programa: Caroline Kleinubing, de 22 anos, natural de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Em 2010, foi a vez de Theo Ruprecht e Eliane Scardovelli, que tiveram a difícil tarefa, logo na estreia, de cobrir a tragédia causada pelas chuvas no Rio de Janeiro, em 13 de abril.

Em agosto de 2011, entraram no programa o carioca Fernando David, que já trabalhava na TV Globo desde 2008; e a paulistana Danielle França. Além de uma nova integrante, Tarima Nistal, a quinta temporada de Profissão Repórter, em 2013, passou a ter uma repórter baseada no Rio de Janeiro, Paula. Em 2014, ingressaram no time os jornalistas Estevam Muniz, Guilherme Belarmino e Mayara Teixeira.

Os novos integrantes da temporada de 2022 são os repórteres André Neves Sampaio, Chico Bahia e Milena Rocha. O primeiro chega após passagem pela GloboNews; o segundo tem experiência em documentários; e a última foi uma descoberta do projeto Globo Lab. Além deles, os repórteres cinematográficos Gabriela Vilaça, Luiz Fernando Silva e Leandro Matozo passaram a acompanhar as pautas.

Tecnologia

Diferentes de outros programas mais antigos, o 'Profissão Repórter' já estreou digital, com um ambiente na internet e explorando recursos de interatividade. Em agosto de 2009, o programa fez uma chamada em busca de boas histórias para fazer um programa especial na internet. A interação foi feita através do blog e do twitter do programa. Em outubro, após a exibição de uma edição sobre cavalos, os internautas enviaram tantas fotos para a sessão 'VC no Profissão Repórter' que foi necessário criar uma galeria especial.

A temporada que começou em 3 de abril de 2012 trouxe uma inovação para a reportagem. Munidos de uma câmera com dois visores – um mirando no entrevistado e outro em quem está operando a câmera – os jornalistas começaram a sair sozinhos para realizar as matérias. Tiago Jock e Valéria Almeida foram os primeiros da equipe a testar o equipamento que deu mais autonomia aos repórteres.

Em 2022, Caco Barcellos, com 50 anos de profissão, passou a filmar algumas de suas reportagens do celular.

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