Por Memória Globo

João Cotta/Globo

PRODUÇÃO

O Rio de Janeiro do início do século XX foi recriado na cidade serrana de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e em São Luís, capital do Maranhão. Na primeira, foram gravadas as cenas que mostram casarões coloniais supostamente localizados nos bairros Catete e Botafogo, na Zona Sul carioca. Já as ruas do centro histórico de São Luís serviram de cenário para ambientar a região da Gamboa, no centro do Rio.

As gravações em Petrópolis, realizadas em oito dias, contaram com aproximadamente 120 profissionais – entre atores e equipes de produção, direção e técnicos. Em São Luís, foram dez dias de trabalho, com o envolvimento de cem pessoas – 50 profissionais locais –, além de 700 figurantes maranhenses. Três caminhões foram necessários para o transporte dos equipamentos e materiais de cena, que incluíam uma carroça.  

Camila Pitanga durante gravação de Lado a Lado, 2012 — Foto: João Cotta/Globo

PREPARAÇÃO DE ELENCO

Equipe e elenco de 'Lado a Lado' participaram de um workshop de dois dias com o jornalista e escritor Eduardo Bueno, o Peninha, que abordou a história do Brasil e do Rio na época da Belle Époque. A professora e pesquisadora Clarisse Fukelman e a figurinista da novela, Beth Filipecki, falaram sobre a moda e os costumes de 1900.

Atores do núcleo do morro da Providência, como Camila Pitanga e Lázaro Ramos, fizeram aulas de samba com o coreógrafo e dançarino Jaime Aroxa. Marcello Melo Jr. e Lázaro tiveram aulas de capoeira com o Mestre Cocoroca.

O percussionista Paulino Dias deu consultoria à equipe da novela, por conta das muitas cenas de batuques e danças. Ele ensaiou um grupo de músicos do Maranhão, que fez parte da figuração.

Camila Pitanga durante gravação de Lado a Lado, 2012 — Foto: João Cotta/Globo

FOTOGRAFIA

A direção de fotografia, a cargo de Walter Carvalho, privilegiou a utilização de pouca luz e muito fog para suavizar as imagens e aproximá-las da época em que se passa a trama, quando não existia eletricidade no Rio de Janeiro.

Camila Pitanga e Lázaro Ramos durante gravação de Lado a Lado, 2012 — Foto: João Cotta/Globo

ABERTURA

A abertura da novela ressalta a influência da cultura afrobrasileira e a busca por liberdade, com imagens de capoeira e futebol, embaladas pela canção Liberdade, Liberdade, Abre as Asas Sobre Nós, samba-enredo da escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense no desfile de 1989.

Lado a Lado (2012): Abertura

Lado a Lado (2012): Abertura

FIGURINO E CARACTERIZAÇÃO

Para vestir os personagens ricos e pobres da trama, a equipe de figurino montou um acervo com cerca de 900 peças. Cores, formas, texturas e volumes distinguiam as classes sociais. O que era moda na França e na Inglaterra, também fazia sucesso entre os representantes da elite no Brasil. As mulheres da história ganharam roupas com fino acabamento, acessórios, cores leves e muitas flores em organza e seda. Para deixar a roupa luxuosa, usava-se muito linho e tecidos finos. Os homens, mesmo com o forte calor do Rio, optavam por tendências vindas da Inglaterra, como ternos em lã e chapéus, símbolos de poder.

Thiago Fragoso e Marjorie Estiano em Lado a Lado, 2012 — Foto: João Cotta/Globo

O figurino feminino das classes altas era composto por diversas camadas de roupas, o que influenciava na postura, deixando o corpo mais firme. Luvas, chapéus com muitas ornamentações, sombrinhas e botinhas ajudavam a compor um estilo chique. A elegância e a sofisticação de Constância (Patrícia Pillar) se refletiam em vestidos com muitas rendas, em cores claras e com transparências. Tons de azul e hortênsia foram escolhidos para caracterizar a vilã, que transmitia um ar de pureza quase angelical. O figurino de Laura (Marjorie Estiano) acompanhava suas atitudes modernas: casacos em tons mais escuros, que uma moça daquela época jamais usaria.

As roupas do núcleo pobre da trama passaram por um processo de envelhecimento e desgaste para ganhar a aparência de usadas. As mulheres ousavam mais nos decotes e usavam roupas como panos amarrados ao corpo, recosturados e emendados. Dificilmente usavam sapatos.

Os figurinos de Diva Celeste (Maria Padilha), Neusinha (Maria Clara Gueiros), Mário Cavalcanti (Paulo Betti) e Frederico (Tuca Andrada), personagens do Teatro Alheira, contrastavam com os demais, apresentando mais cores, decotes, babados e volumes.

Maria Padilha em Lado a Lado, 2012 — Foto: Estevam Avellar/Globo

Os cabelos das mulheres no início do século XX eram, em geral, presos. Cabelos soltos só eram permitidos dentro de casa. Chapéus compunham o visual e serviam como símbolos de ostentação. As mais ricas os importavam da França e, quanto mais plumas, flores e ornamentações, mais chique eram. Presilhas, pentes e fitas também eram muito usados nas madeixas.

Do núcleo rico, todas as atrizes usavam meia peruca, solução encontrada para retratar os cabelos longos das personagens. Os cachos eram a moda da época.

Patrícia Pillar clareou os cabelos para viver Constância. Marjorie Estiano usou um penteado que dava a aparência de que os cabelos presos estavam sempre revoltos, adequados à modernidade da personagem Laura. Camila Pitanga levava duas horas diárias para a preparação do cabelo da jovem Isabel: toda a parte da frente era frisada, para exaltar os cabelos crespos.

Patrícia Pillar em Lado a Lado, 2012 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

A maquiagem quase não aparecia em 'Lado a Lado'. Com o calor do Rio, a ideia da caracterização foi deixar o brilho natural da pele, evitando o pó e usando apenas um blush cremoso quando necessário. Nos lábios, o batom era apenas aplicado com os dedos, para não ter um contorno perfeito.

Zezeh Barbosa e Sheron Menezzes, intérpretes de Jurema e Berenice, usaram torso amarrando os cabelos, o que era muito comum para os negros daquela época.

Figurino masculino

A caracterização do elenco masculino foi marcada por barbas e bigodes, quesitos fundamentais para um visual de classe. Edgar (Thiago Fragoso) usava barba e cabelos bem escovados.

A maior liberdade ficou por conta da caracterização do núcleo de personagens do Teatro Alheira, com o uso de muitas perucas e apliques de bigodes e cavanhaques para os homens, além de maquiagens com cor e brilho.

Lado a Lado - Figurino

5 fotos
Figurino e caracterização do elenco masculino de Lado a Lado

CENOGRAFIA E ARTE

Museus, livros e visitas a antiquários e feiras de antiguidades serviram como referências para o trabalho das equipes de cenografia e produção de arte da novela. Vários objetos precisaram ser confeccionados especialmente para a trama, como parte da roupa de cama, toalhas de mesa e guardanapos, todos bordados com monogramas, como se usava no início do século XX.

Muitos livros foram comprados em sebos, alguns deles restaurados, ganhando capas novas. Também foram produzidos postais, já que era costume das moças da época fazer coleções de sinetes com monogramas e marcadores de livros.

Cenografia de Lado a Lado, 2012 — Foto: Matheus Cabral/Globo

Em 1904, além de bicicletas e carroças, bondes e carruagens circulavam pelas ruas do Rio. A equipe de produção de arte restaurou sete modelos de carruagens, que ganharam novos estofados, capotas, cortinas, lampiões e vidros. Na cidade cenográfica que reproduzia a rua do Ouvidor, vendedores ambulantes de miudezas, bengalas, guarda-chuvas, flores e doces foram incorporados ao cenário.

Para a ambientação da Confeitaria Colonial, construída na cidade cenográfica, a equipe criou a logomarca e sua impressão nas louças, além de produzir os centros de mesa, os cardápios e as comidas servidas na época. A Confeitaria Colonial, a barbearia e o Bar Guimarães, cenários importantes da trama, contavam com interiores. Os demais prédios tinham apenas fachadas.

Cenografia de Lado a Lado, 2012 — Foto: João Cotta/Globo

Garrafas de cristal, lamparinas, lampiões, castiçais, perfumeiros e espelhos compunham os cenários dos personagens ricos da trama. Para os pobres, muito barro, palha, caixotes de madeira, trouxas de roupas, bacias, baldes, tábuas de lavar roupa, como as utilizadas pelas lavadeiras na época, e pregadores de roupa feitos de bambu.

O carnaval de rua que acontece no primeiro capítulo da trama foi gravado nas ruas do centro histórico de São Luís, no Maranhão. Foram encomendados instrumentos musicais como os usados na época, assim como confetes e serpentinas semelhantes aos de 1904, que não tinham cor. Seis sacos de 20kg de confetes e dois mil rolos de serpentinas foram utilizados nas cenas, além de bandeirinhas feitas em tecidos, fitas e flor. Para as gravações no Maranhão, a equipe de cenografia fez uma reconstituição de época, colocando portas de madeira cobrindo os vãos dos casarios coloniais.

Camila Pitanga e Lázaro Ramos em Lado a Lado, 2012 — Foto: Acervo/Globo

A cidade cenográfica construída no Projac – com referências na arquitetura do início do século XX – continha prédios de estilo neoclássico, ruas estreitas em paralelepípedo e calçadas em ladrilho hidráulico. Ali foram erguidos o jornal Correio da República, a barbearia onde trabalhavam Seu Afonso (Milton Gonçalves) e Zé Maria (Lázaro Ramos), o Teatro Alheira, a Confeitaria Colonial e o Bar Guimarães. A iluminação das ruas era como a da época: postes a gás e, com o passar do tempo, houve a chegada da luz elétrica. Toda a rua do Ouvidor foi reconstruída em computação gráfica, com o auxílio de um backlot em 3D.

Primeira favela a surgir no Rio de Janeiro, o Morro da Providência também foi recriado em cidade cenográfica. Inicialmente, foram construídos sete barracos com tábuas de demolição. Três deles foram reproduzidos em estúdio: as casas de Jurema (Zezeh Barbosa), Seu Afonso e Percival (Rui Ricardo Diaz).

As casas dos personagens ricos, como a mansão de Constância (Patrícia Pillar), seguiam a estética art déco, repletas de adereços, objetos de decoração e estampas.

Lado a Lado - Cenografia

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Cenografia de 'Lado a Lado', 2012
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