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'Soulmates' tem bons roteiros, mas falta emoção

Patrícia Kogut

Cena de 'Soulmates' (Foto: Divulgação)Cena de 'Soulmates' (Foto: Divulgação)

 

Durante mais de uma década, a televisão buscou “o novo ‘Lost’”. A série da ABC foi fundadora de um tipo de narrativa. Ela misturava aventura com suspense, tecnologia e doses de sobrenatural. Um grupo de sobreviventes se via numa ilha da qual era impossível escapar. Talvez estivessem em uma geografia perdida, mas o mais provável é que tivessem passado para outra dimensão. Atores bonitos, paisagens lindas (a locação era o Havaí) e muitos mistérios compunham essa fórmula irresistível. Foi um fenômeno pop que deixou muita saudade quando terminou, em 2010. “Black mirror”, lançada em 2011 no Channel 4 e logo comprada pela Netflix, é o “novo ‘Lost’”. Inventou uma linguagem e conquistou legiões de fãs. Ela é copiada por outras séries que estrearam posteriormente. “Soulmates” (a tradução literal é almas gêmeas), recém-lançada pela Amazon Prime Video, se inscreve nessa categoria. É recomendada como “o novo ‘Black mirror’”. Só esse aposto já diz muito. “Soulmates” tem qualidades, mas chegou depois e não encanta pela novidade.

São seis episódios de histórias independentes com um tema comum: o encontro com a alma gêmea. É um futuro indefinido, mas a busca pelo amor romântico ainda move tudo. E falando em futuro, a ideia de que estamos em outra cronologia se estabelece em recados eventuais. Eles são menos radicais do que os de “Black mirror”. Há aparelhos de celular diferentes, assim como as telas de computador. Mas, no geral, o mundo parece familiar. Os carros são os de hoje, as aulas numa universidades, também. Uma estética de propaganda embala tudo. É uma realidade ideal, sem poluição, com casas confortáveis e paisagens verdes. Aquela noção de que o planeta não deu certo passa longe daqui. O mundo já é quase perfeito. Só falta encontrar o par ideal. Até isso soa fácil porque uma empresa, a Soul Connex, oferece os testes e busca a resposta em seu cadastro. É uma versão evoluída dos aplicativos de encontro.

O elenco é cheio de estrelas. Sarah Snook (a Shiv de “Succession”) estrela o primeiro episódio; David Costabile (o Wags de “Billions”), o segundo; a espanhola Laia Costa Bertrán está no terceiro. Por aí vai.

Cada episódio é uma fábula em torno da ideia do “felizes para sempre”. Os roteiros são bem-construídos e os desfechos trazem pequenas lições, mas elas não são necessariamente moralizantes. Menos do que os textos, incomoda a realização. É tudo muito limpinho, chapado. Falta emoção. “Soulmates” merece a sua atenção, sim, mas com o aviso: ela é um “queijo tipo gorgonzola”, uma “Black mirror” que passou pela máquina de lavar com muito amaciante.

 

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