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'Os sete de Chicago', ótimo filme que retrata julgamento histórico

Patrícia Kogut

Cena de 'Os sete de Chicago', da Netflix (Foto: Niko Tavernise/Netflix)Cena de 'Os sete de Chicago', da Netflix (Foto: Niko Tavernise/Netflix)

 

Quem ainda está na espuma dos acontecimentos da política americana da última semana vai gostar de “Os sete de Chicago”, filme de Aaron Sorkin que acaba de chegar à Netflix. A trama retrata um conflito histórico ocorrido em 1968. O governo Nixon fora recém-empossado. Dr. Martin Luther King Jr. havia sido assassinado alguns meses antes. O movimento pacifista fervia entre os estudantes, que tinham como palavra de ordem: “O mundo inteiro está assistindo”. Nesse ambiente, um protesto contra a Guerra do Vietnã durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago, acabou em violência. As autoridades queriam punição. E os representantes de diversas organizações foram parar no banco dos réus. Eram membros do International Party (os Yippies); do Students for a Democratic Society; e do National Mobilization Committee to End the War in Vietnam.

O racismo, a polarização política, o ódio e as manifestações nas ruas de então podem facilmente ser associados às injustiças e convulsões sociais de hoje. Os sete do título, de saída, eram oito. O líder dos Panteras Negras, Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), foi incluído sem estar de fato envolvido nos choques. As acusações contra ele, felizmente, acabaram rejeitadas. Antes de isso acontecer, porém, ele apanhou e foi amordaçado e amarrado no tribunal, criando um espetáculo trágico à parte. Acompanhamos os mais de seis meses pelos quais o julgamento se arrastou. O júri se reuniu inúmeras vezes e ouviu cerca de 200 testemunhas, com reviravoltas emocionantes. É uma daquelas histórias reais que parecem boa ficção. Foi um jogo de cartas marcadas liderado por um juiz debochado, Julius Hoffman (Frank Langella). Ele fez um papelão e não conseguiu enxergar o óbvio: seria, por sua vez, julgado à luz da História. Dito e feito: não é lembrado com glórias.

 

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Um dos líderes do movimento pacifista era Abbie Hoffman, interpretado lindamente por Sacha Baron Cohen. Visto com tanta frequência em personagens cômicos, ele se consagra aqui num papel dramático, ao qual atribui uma carga de emoção. Ao lado dele, está Jeremy Strong, o Kendall de “Succession” (HBO). É outro ator soberbo. Ele interpreta o ativista Jerry Rubin. O elenco conta ainda com Michael Keaton, como o ex-procurador Ramsey Clark, responsável por grandes momentos na trama.

A produção tem um problema de ritmo e demora a engrenar. Isso se resolve no terço final e a calibragem sobe até o desfecho, apoteótico. Não desista, portanto. Vale lembrar, finalmente, que Sorkin foi criador de “The West Wing”, um clássico. “Os sete de Chicago” tem, claro, outro formato e ainda mais ambição. O filme é candidato, desde já, a muitos prêmios importantes. Vale conferir.

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