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Saudade e olhar crítico no Vale a Pena Ver de Novo

Patrícia Kogut

Carminha (Adriana Esteves) e Branca (Susana Vieira) (Foto: TV Globo)Carminha (Adriana Esteves) e Branca (Susana Vieira) (Foto: TV Globo)

 

Ao longo desta semana inteira, “Por amor” (de 1997) e “Avenida Brasil” (de 2012) estarão no ar à tarde na Globo. O Vale a Pena Ver de Novo serve a reconectar o público nostálgico com histórias queridas do passado. E também apresenta às novas gerações aquilo que elas não tiveram a chance de conhecer.

No caso dos enredos realistas, a reexibição ainda produz um efeito suplementar interessante, já que eles estão muito ligados ao seu contexto histórico. A reprise permite conferir se certos comportamentos ficaram datados ou se seguem atuais. “Por amor”, de Manoel Carlos, por exemplo, tem os dois. O enredo principal gira em torno da paixão de uma mãe por uma filha. Quando as duas dão à luz na mesma noite, Helena (Regina Duarte) troca seu bebê vivo pelo de Eduarda (Gabriela Duarte), que morreu. Trata-se de um gesto extremo e moralmente duvidoso. Essa tragédia é, claro, atemporal. Porém, muito do que se vê em subtramas remete a costumes de 1997 que já caíram em desuso. O machismo sem reservas é um exemplo disso. E o comportamento submisso de certas personagens femininas pode parecer estranho ao público de 2019.

Também vai ser curioso ver como aquele ambiente que João Emanuel Carneiro retratou em “Avenida Brasil” será encarado. A trama é lembrada com saudade e com motivos. Ela foi uma rara reunião de variáveis felizes: além do elenco todo espetacular, tinha texto e direção (Ricardo Waddington) inspiradíssimos. Acima de tudo isso, a história espelhava o espírito do tempo. Era a expressão do Brasil da classe C em alta, movimentando a economia, orgulhosa de se ver na televisão. É como disse o autor em entrevista a Luiza Barros, publicada no Segundo Caderno: “O período em que ela (a novela) foi exibida era muito diferente. O Brasil estava num outro momento histórico, político, econômico. Bem mais ufanista, vamos dizer. ‘Avenida Brasil’ refletiu as aspirações todas dessa classe C que veio à tona naqueles anos todos, com o boom econômico. Me lembro que na época diziam que não tinha rico de novela. O rico era o jogador de futebol que morava no subúrbio”, analisou ele.

Como será que tudo isso vai ser percebido no país hoje?

 

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