Ir para o conteúdo


Publicidade

'When they see us' mostra o caso dos Cinco do Central Park

Patrícia Kogut

Cena de 'When they see us' ('Olhos que condenam'), da Netflix (Foto: Divulgação)Cena de 'When they see us' ('Olhos que condenam'), da Netflix (Foto: Divulgação)

 

Num fim de tarde, início de noite em 1989, uma turma de garotos negros e pobres, moradores do Harlem, se dirigiu ao Central Park. A motivação era pura farra. Mas a brincadeira com alguma dose de algazarra acabou muito mal para cinco deles. Horas mais tarde, Linda Fairstein, promotora que comandava a unidade de crimes sexuais de Nova York, rebatizou as atividades do grupo. Eles deixaram de ser simples “arruaceiros” para se tornarem suspeitos de um crime bárbaro ocorrido no mesmo horário e naquela área. “When they see us” (“Olhos que condenam”) acaba de chegar à Netflix e reconta essa história real em quatro episódios. Se não lembra do caso — que ficou conhecido como Os Cinco do Central Park — e prefere a surpresa, daqui para a frente tem spoiler.

Felicity Huffman vive Linda Fairstein. Ela investiga o ataque a uma jovem mulher encontrada desacordada, com sinais de estupro e espancamento. A promotora, informada da presença dos garotos no lugar, quer, a todo custo, ligar um fato ao outro. A todo custo significa estimulando interrogatórios desonestos e exaustivos. Até que os garotos confessam o crime do qual eram inocentes. Então adolescentes, Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise acabaram condenados. Os meninos passaram entre seis e 13 anos anos na cadeia. Eles só foram soltos quando, em 2002, Matias Reyes, um sujeito já previamente acusado de crimes semelhantes, se declarou culpado. Um exame de DNA confirmou que tinha sido ele o responsável pelo ataque. Os garotos (hoje na faixa dos 40) então processaram a prefeitura de Nova York e receberam US$ $41 milhões de indenização.

O racismo está em primeiro plano, mas a narrativa vai abraçando temas correlatos. Há o desamparo das famílias, todas elas pobres. Um dos meninos é filho de um ex-presidiário que refez a vida, mas tem uma ficha corrida. Outro tem uma mãe doente, incapacitada de ir até a delegacia ajudá-lo. Um terceiro vive com a avó, que sequer fala inglês, e o pai, um imigrante, assustado. O painel social que se apresenta é o dos abismos. Há um detalhe curioso. Donald Trump na época era um milionário do ramo imobiliário, sem envolvimento direto com a política. Mas já era o Trump que conhecemos hoje e foi a público defender a pena de morte para os garotos. Fez mais: gastou US$ 85 mil em quatro anúncios em jornais pedindo a execução. Imagens reais dele em entrevistas aparecem na série.

Depois de assistir, vale mergulhar numa pesquisa na internet para ler o que aconteceu com todos os personagens. No site do “The New York Times” há uma grande entrevista reunindo o elenco e figuras reais que também merece a sua atenção. Não perca.

 

SIGA A COLUNA NAS REDES

No Twitter: @PatriciaKogut

No Instagram: @colunapatriciakogut

No Facebook: PatriciaKogutOGlobo

Mais em Kogut

Publicidade