Ir para o conteúdo


Publicidade

Pedro Bial lança seu talk-show com ótimas entrevistas

Patrícia Kogut

Pedro Bial entrevista Rita Lee (Foto: Guilherme Samora/ TV Globo)Pedro Bial entrevista Rita Lee (Foto: Guilherme Samora/ TV Globo)

 

Quando afirmou que seu programa seria um lugar para conversas sem a premência e a faca no pescoço impostas pelo noticiário, Pedro Bial estava falando sério. E essa intenção passou por uma prova logo na estreia, anteontem na Globo. A ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, era a convidada da noite.

Aquela edição do “Conversa com Bial” tinha sido gravada no dia 1º, segundo informação de uma tarja na tela. Porém, no Brasil de hoje, um dia é muito tempo até para o mais veloz dos Bolts. Então, algumas horas antes da exibição do talk-show (que tem direção de conteúdo de Ingo Ostrowsky e artística de Mônica Almeida), o ex-ministro José Dirceu foi solto. E o assunto quente escapou à pauta. Foi pena. Porém, dizer que a entrevista acabou superada pelos acontecimentos seria uma redução e uma injustiça. Porque eles falaram sobre o Brasil, a corrupção e, claro, o papel da Justiça. Esses temas de mais amplo espectro ocuparam grande parte da noite e seguiram também depois que Fernanda Torres se juntou à dupla, no sofá. A ministra tratou ainda de amenidades, fez rir, explicou a diferença entre ser mineira e “geraizeira” (caso dela, por autoproclamação). Finalmente, dissertou sobre o verbo “prosear”, esclarecendo de que maneira um acontecimento real vai sendo acrescido de informação até se tornar um “causo”. Guimarães Rosa foi citado mais de uma vez. A plateia gargalhou quando Cármen Lúcia relatou experiências com taxistas — um deles se ofereceu para explicar a ela a Constituição brasileira. Pareceu o sofá de casa no dia de uma visita de luxo recepcionada por um anfitrião capaz de conversar sobre tudo. O apresentador comandou seu show com desembaraço e tranquilidade, num cenário elegante, acompanhado de uma banda. Em cima da mesa, um dicionário da língua portuguesa chamava a atenção.

Com tudo isso, Bial não desamparou aquele público que, fiel ao horário que foi de Jô Soares por tantos anos, esperava um talk-show clássico. Mas, já no segundo dia, apresentou seus próprios trunfos. E que trunfos. Abriu o papo de ontem, com Rita Lee, “dialogando” com uma entrevista que fez com ela em 1985. A mexida no baú serviu também para lembrar que esse programa pode ser novo, mas o jornalista não é um recém-chegado ao mundo das boas conversas exclusivas. Rita, hoje reclusa, não falava com a imprensa há anos. Contudo, nunca fica longe da popularidade. Isso é fácil de aferir só pelo sucesso da sua autobiografia: em quatro meses, o livro chegou a mais de 200 mil exemplares vendidos. Sua presença “rendeu”, como se diz no jargão das redações. Ela discorreu sobre tudo sem reservas e com ironia de sobra. O resultado foi delicioso. Vimos projeções de antigas apresentações, mas, além do show de nostalgia, um banho de juventude e frescor inundou o palco. Bial não disfarçou sua admiração por ela (“é amor pra chuchu mesmo”), o que seria um pequeno pecado para um entrevistador profissional. Mas em se tratando de Rita Lee, qual é o crime? O “Conversa com Bial” estreou muito bem.

Mais em Kogut

Publicidade