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Com direção corajosa, ‘O rebu’ prende plateia

Patrícia Kogut

Sophie Charlotte em cena de 'O rebu' (Foto: Divulgação/TV Globo)Sophie Charlotte em cena de 'O rebu' (Foto: Divulgação/TV Globo)

Até mesmo quem já esperava fragmentação do enredo de “O rebu” se surpreendeu na estreia da novela das 23h da Globo, anteontem. O capítulo apostou no público capaz de acompanhar uma trama que correu em várias voltagens simultâneas, muitas vezes com uma proposital disjunção entre som e imagem. Resultado da direção segura e corajosa (José Luiz Villamarim); da câmera que soube ser ora um conviva da festa, ora um olhar frio, metalizado (Walter Carvalho); e do texto ágil e com diálogos naturais e sem qualquer excesso (George Moura e Sérgio Goldenberg).

Vimos os signos explícitos da festança na tela — boa música, bebida, dançarinos perdendo o equilíbrio e tensão sexual. Mas a intensidade da emoção subiu muito com os cortes e até com o silêncio invadindo uma sequência em que aparecia a pista frenética. Essas forças opostas misturadas no sopão da mesma celebração foram o principal pulo do gato da estreia e colaboraram para deixar o público intrigado. Há uma analogia direta entre esse congraçamento de energias divergentes e a própria trama. No centro da história estão dois inimigos figadais, Ângela Mahler (Patricia Pillar) e Braga (Tony Ramos). Munidos de uma poderosa máscara social, esses personagens confraternizavam em público enquanto conspiravam uns contra os outros pelos cantos. Assim, Braga sorria no salão, mas confabulava pelo celular com seu advogado, Bernardo (José de Abreu), que procurou desesperadamente um dossiê altamente incriminador. O corpo de Bruno (Daniel Oliveira) surgiu na piscina nos primeiros cinco minutos do capítulo, outro acerto. Deu tempo de construir toda a teia de reações imediatas e prender o público para o segundo dia de novela.

Não se pode deixar de destacar o talento, a presença em cena e o trabalho impecável de Patricia Pillar. Sua Ângela Mahler é um poço de contenção e dubiedade, e a atriz brilhou. Como ela, Cássia Kis Magro (Gilda), Tony Ramos e José de Abreu. Sophie Charlotte (Duda) mostrou que é capaz de ir longe. Na sua cena musical pareceu ter escorregado para o exagero, chorando sem razão. Mas logo adiante esse estranhamento foi explicado por Gilda, reforçando a impressão de que os autores e a direção de “O rebu” se preocupam com a credibilidade. Em aparições breves, mas não menos positivas, vimos Mariana Lima, Camila Morgado, Maria Flor e Jesuíta Barbosa.

O cenário, um palacete em Buenos Aires, colaborou para compor a atmosfera de luxo excepcional, quase etéreo, e o mesmo vale para os figurinos (Cao Albuquerque e Natália Duran). “O rebu” promete consagrar um time que vem mostrando muita competência desde “O canto da Sereia” e “Amores roubados”. A televisão precisa disso.

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