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A estreia de ‘Sessão de terapia’ e a nudez na TV

Patrícia Kogut

Cláudio Cavalcanti dirigido por Selton Mello em "Sessão de terapia" (Foto: Divulgação)Cláudio Cavalcanti dirigido por Selton Mello em 'Sessão de terapia' (Foto: Divulgação)

Impossível assistir aos primeiros episódios de “Sessão de terapia”, que estreia esta noite às 22h30m no GNT, e não se deixar tocar por Cláudio Cavalcanti — o paciente de terça-feira. Os motivos são os óbvios: a morte do ator que fez história na televisão é uma lembrança que se impõe na cena. Além disso, chama a atenção a qualidade do trabalho dele como Otávio, um empresário com todas aquelas características agressivas de um vencedor na profissão, mas que se vê derrotado por sintomas inesperados de síndrome do pânico. O resultado emociona. Na sua primeira aparição, a dono do mundo arrogante vai se desmontando aos poucos, em pequenos gestos. As palavras têm menos peso ainda do que a linguagem corporal, reveladora de um ator que domina a técnica e entrega o coração.

“Sessão de terapia” abre hoje com Bianca Comparato. A estudante de arquitetura Carol, nova paciente de Theo (Zecarlos Machado), lá pelo meio da primeira visita, começa a contar aos poucos o que a trouxe: a descoberta de uma doença. O momento da revelação é exemplar do bom ritmo do programa. A série é lenta, mas enreda o espectador através de uma teia de tensão que vai se abrindo de forma despercebida, sutil. Não se pode deixar de destacar o desempenho de Bianca, uma jovem atriz que a cada papel se reafirma como uma das melhores de sua geração.

Bem fotografada e com foco no trabalho dos atores, “Sessão de terapia” navega em alguns chavões de divã, como a caixa de lenços de papel, um objeto de cena sempre destacado com closes. Isso, no entanto, não reduz o programa a um surrado “Freud explica”. Porque o que interessa e atrai é o panorama que está além do que se passa no consultório. São acontecimentos abstratos, que surgem apenas através dos relatos.

É a antitelevisão tal qual a enxergamos. Mesmo que Selton Mello, com sua direção exata e sensível, lance mão de uma bela fotografia e as câmeras se movimentem na temperatura do que dizem os pacientes, a bandeja vem carregando apenas narrações. Não há paisagens reais nem grandes possibilidades de enquadramento. É preciso capturar e transmitir a emoção no detalhe da respiração, nas pausas, no som dos lábios se descolando antes de uma frase reveladora. Com tudo isso bem realizado, “Sessão de terapia” segue um programa de televisão muito original e bem-sucedido.

PS: Falando em frescor e originalidade, a reestreia de “Amor & sexo”, na última quinta-feira, deu um show de novidade. A mais surpreendente foi a visão dos convidados nus e o strip-tease de Otaviano Costa. Nessa hora, o programa, mais do que falar do seu tema central, tocou nos limites que a própria TV se impõe. Mostrou que, sim, é possível (além de saudável e necessário) ir longe e provocar. A nudez não foi gratuita, embora tenha servido também para épater. É com ideias como essas que uma atração levanta uma poeira que desce muito depois do fim do seu horário de exibição.

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