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‘Lilyhammer’ brinca com clichês relativos às nacionalidades

Patrícia Kogut

 

(Foto: Divulgação)(Foto: Divulgação)

 

Lillehammer é uma cidadezinha norueguesa que sediou as Olimpíadas de Inverno em 1994. E “Lilyhammer”, a primeira série original da Netflix. A discreta troca de letras no título diz muito sobre o programa, cheio dessas brincadeiras sutis. A produção abraça com humor refinado um tema delicioso: os clichês relacionados às nacionalidades, aquilo que as aproxima, o que as diferencia. No caso, o jogo de palavras e de relativização cultural envolve a Noruega, os EUA e a Itália dos imigrantes mafiosos.

Steven Van Zandt, o Silvio Dante de “Sopranos”, vive de novo um bandidão. Na primeira cena, num funeral, mafiosos nova-iorquinos discutem como ficará o organograma do grupo depois do enterro. Avesso à ideia de receber ordens do novo chefão, um primo que “só entende de números e deveria estar em Wall Street”, o personagem se decide pela delação premiada. Entre as Bahamas, a Flórida ou qualquer outro lugar do mundo, escolhe viver na cidadezinha norueguesa. E fornece à polícia, surpresa, seu argumento para fugir do sol: “Chega de melanoma!”.

Assim que surgem os créditos — uma sucessão de nomes eslavos — e a paisagem gelada da linha de um trem que leva nosso herói ao seu destino, a lembrança de “Sopranos” se desfaz. “Lillyhammer” não é mais uma série de máfia. Ela acompanha o personagem na sua jornada em busca de um recomeço. “Recomeço”, aliás, é só uma expressão retórica, porque Frank “Jeitinho”, como era chamado em Nova York, carrega toda uma bagagem de malandragem para sua nova vida.

Logo na chegada, ouve de um motorista local que “tem cara de árabe”. Frank, entretanto, afirma, convicto: “Sou americano”. A frase se mostra uma redução. A desobediência natural às regras de uma sociedade toda arrumadinha estão na veia desse personagem. Eis um dos recados da série: o malandro é uma figura universal. Os conflitos culturais são o molho suculento do programa, que também diverte com sua iconoclastia. As louras nórdicas, afinal, não são tão gatas assim. Nem os noruegueses certinhos como aparentam. “Lilyhammer”, por si, já vale a assinatura do Netflix.

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