Laboratório no campo: RS começa a medir gases de efeito estufa em tempo real

Analisador portátil já está em operação em áreas de erva-mate, florestas plantadas e arroz irrigado

Por Carolina Mainardes — Ponta Grossa (PR)


Equipamento mede gases de efeito estufa em atividades agropecuárias, em tempo real Seapi-RS / Divulgação

O Rio Grande do Sul está utilizando, desde o início deste ano, um equipamento para mensuração de gases de efeito estufa em atividades agropecuárias, em tempo real. “É um laboratório no campo”, resume Jackson Brilhante, engenheiro florestal da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e coordenador do comitê gestor do Plano Estadual de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC+RS).

A medição está sendo adotada em projetos de pesquisa desenvolvidos nas culturas da erva-mate, florestas plantadas e arroz irrigado. O trabalho é coordenado pelo Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Seapi.

“O equipamento possibilita a geração de dados que permitirão estimar um balanço de carbono dos sistemas de produção de uma determinada cultura ou sistema de manejo e também os fatores de emissão para as nossas condições subtropicais, que são informações úteis para serem utilizadas para inventários de emissão do setor agropecuário”, explica Jackson.

O equipamento mede os gases de efeito estufa - metano, óxido nitroso e dióxido de carbono - e mensura a presença de amônia, gás que é liberado em função das adubações nitrogenadas, como a aplicação de ureia. “Isso vai permitir também avaliar a eficiência de fertilizantes nitrogenados”, completa o engenheiro.

Equipamento é um analisador portátil de gás com tecnologia FTIR — Foto: Seapi-RS / Divulgação

Analisador portátil

O equipamento adquirido pela secretaria é o Gasmet modelo DX4015, um analisador portátil de gás com tecnologia FTIR (infravermelho por transformada de Fourier), que faz a medição de todos os comprimentos de onda IR simultaneamente e produz um espectro completo. De acordo com Jackson, essa tecnologia permite a leitura instantânea dos gases (N2O, CO2, CH4 e NH3) mediante comparação a uma biblioteca.

Na prática, o analisador FTIR digitaliza simultaneamente todo espectro infravermelho dos gases que estão passando pela unidade leitora. Em seguida, o software calcula as concentrações de gás de cada amostra, baseando-se na absorção característica de cada radical químico, que são comparados com a biblioteca padrão do equipamento.

“Todos os gases da amostra podem ser medidos simultaneamente, porque todo espectro infravermelho é varrido de uma vez só. Dessa forma, serão analisadas as medições dos multicomponentes, sem que ocorra qualquer interferência cruzada”, informa.

O engenheiro acrescenta que não há necessidade de enviar amostras para laboratório, pois as análises são feitas na hora. As coletas de gases são realizadas por meio de um sistema de circuito fechado no qual a amostra de gás circula através do analisador. O tempo total de coleta varia entre seis e 15 minutos, dependendo do ecossistema, ou seja, do local de medição. “O fato de as análises serem realizadas no campo nos dá muita agilidade na obtenção dos dados”, completa o coordenador.

Jackson comenta que a frequência das medições varia de acordo com a cultura: “uma leitura de um dia é parte do trabalho, tem que ser feito o acompanhamento ao longo da safra. Então são vários dias de avaliações para se obter o balanço das emissões de uma determinada cultura”. As análises devem ser expandidas para outras culturas, como cereais de verão e de inverno e em áreas de pastagens. Só não será possível fazer a medição diretamente em animais.

Expodireto

O Gasmet DX4015 será apresentado pela Seapi na Expodireto Cotrijal, que começa nesta segunda-feira (4/3). O equipamento será instalado em uma área de floresta de pinus e eucalipto e de erva mate, em um horto montado no evento. No Brasil, além do equipamento em uso pelo Rio Grande do Sul, apenas o Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena/USP) conta com outro analisador portátil.

A iniciativa integra o Plano ABC+RS, que visa promover a adaptação à mudança do clima e o controle das emissões de gases de efeito estufa (GEE) na agropecuária no Estado, com aumento da eficiência e resiliência dos sistemas produtivos, considerando uma gestão integrada da paisagem rural.

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